Por: Ricardo Machado | 08 Junho 2017
As portas de uma nova era estão abertas e o tempo presente corre em uma esteira eletrônica que nos joga diretamente dentro deste novo mundo. Diferente das grandes revoluções anteriores, desde a primeira com as máquinas a vapor, depois a elétrica e mais recentemente a informática, a chamada Quarta Revolução ou Revolução 4.0 manda embora todas as fronteiras físicas, biológicas e digitais. “As revoluções contemporâneas nos jogam nesse novo mundo e o problema é que não temos uma porta de saída”, analisa Élcio Brito da Silva, pesquisador na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP.
Élcio em conferência no IHU
Durante o evento Os impactos da Revolução 4.0 nas metrópoles, sociedades, nações, indústrias e indivíduos, Élcio chamou atenção para a velocidade cada vez mais exponencial das transformações tecnológicas. “O que Schwab [organizador do Forum Econômico Mundial e autor do livro A Quarta Revolução Industrial] chamou atenção é que estamos passando por uma revolução histórica sem tempo para nos adaptarmos”, pondera o conferencista. A fala de Élcio ocorreu no final da tarde da quinta-feira, 8-6-2017, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU.
Segundo a estimativa apresentada pelo palestrante, a cada robô instalado retiram-se seis postos de trabalho. Em 2015, a empresa da qual é sócio, SPI Integração de Sistemas Ltda, instalou no Brasil 200 robôs que substituíram 1.200 vagas de emprego. “Somente em uma montadora da FIAT foram instalados 70 equipamentos automatizados”, conta.
O professor trouxe diversos exemplos de experiências que existem atualmente e que são exemplos de como essas mudanças estão ocorrendo, como os carros não tripulados, experiências com macacos paraplégicos que voltaram a caminhar por meio de um transmissor na coluna e no cérebro, ratinhos que eram velhos e que recuperam a juventude por meio de um "ajuste" genético, entre outros.
“Esse apagamento das fronteiras vai mudar nossa forma de estar no mundo. Quando o digital encontra o físico significa que o físico só vai existir depois de ser testado como realidade aumentada na interseção do mundo concreto com o digital”, destaca Élcio. “Quando o físico encontra o digital, que é um mudança diferente, abre-se a possibilidade de construção de uma consciência coletiva por meio do que chamamos machine learning. O que isso significa? Que tudo aquilo que eu ensino para um robô, os outros que estão ligados em rede também aprendem”, esclarece.
Ao definir quais são os eixos que levam as empresas a investirem em tecnologia, o empresário e pesquisador chama atenção para quatro aspectos. O primeiro é em função do desejo de evolução. “As empresas pensam a tecnologia como evolução. Na China tem uma empresa que tem robôs que separam 200 mil pedidos por dia”, exemplifica. O segundo motivo é por uma ação reativa, isto é, para se reinserir competitivamente. “ Algumas empresas apostam em tecnologia com objetivo de reposicionamento no mercado”, pontua.
Os outros dois fatores preponderantes, são, por um lado, a disrupção como é o caso do Uber. “Ele começou com serviços de carona, foi para o mercado dos táxis e agora planeja ir para a aviação, cuja previsão de início é 2027”, frisa. O último dos fatores seria, então, o que se chama de moonshot a inserção de uma nova realidade no mercado, algo absolutamente inovador que rompe com a ordem das tecnologias existentes.
O efeito mais visível e mais óbvio em todo esse processo é a redução dos empregos. De acordo com levantamento da Organização das Nações Unidas - ONU, o Brasil pode ter uma redução de até 75% no número de postos de trabalho devido as transformações advindas da Inteligência Artificial. “Nós precisamos encontrar um equilíbrio, mas eu não sei ainda como fazer”, admite Élcio. “Em 2030, a Volkswagen planeja que todo o trabalho da fábrica será feito apenas por computadores”, relata.
Élcio comentou sobre as necessidades de pensar o mundo dentro da Revolução 4.0 (Fotos: Ricardo Machado/IHU)
Diante deste cenário, as alternativas econômicas e sociais que emergem, ao menos discursivamente, é a construção da renda básica universal e o imposto sobre robôs. Mas há outro problema nesse processo. “Com as tecnologias de blockchain [algoritmo de sistemas financeiros alternativos, como o bitcoin, por exemplo] a troca de valores passa a não ter intermediários, como os bancos. Mas se ninguém controla essas transações como se vai taxar e fazer redistribuição de renda se não tem impostos?”, questiona Élcio.
Projeções equilibradas, perceba que não são as mais otimistas, estimam que em 100 anos será possível, em termos tecnológicos, não haver emprego humano. “Nesse novo universo, em que as soluções serão como criar a peça do lego que está faltando, precisaremos de pessoas capacitadas, mas isso o Brasil não está fazendo. Nos Estados Unidos o governo mandou implantar nos anos iniciais das escolas o ensino do STEM (na sigla em inglês se refere a Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e isso é fundamental”, finaliza.
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A marcha do mundo em direção às inescapáveis transformações da Revolução 4.0 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU