06 Junho 2017
Marina Silva, Ciro Gomes e Bolsonaro se mostram como opções em meio à incerteza sobre sucessão indireta de Temer.
Ciro Gomes chegou carregando sua mochila ao auditório da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo no início da tarde desta quarta-feira. O ex-governador do Ceará vinha direto do aeroporto, aonde chegou do Rio de Janeiro após dizer em palestra no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) que será candidato à presidência da República caso seu partido, o PDT, deseje. Horas depois de falar aos estudantes da FGV sobre como seria seu hipotético governo de recuperação econômica do país, o presidenciável se apresentaria na Universidade Municipal de São Caetano do Sul para "debater o Brasil".
Questionado sobre a agenda cheia, Ciro disse que encontrou terreno fértil nas universidades para expor suas ideias. E ele não é o único aspirante ao Palácio do Planalto que tem aproveitado o pandemônio político provocado pela delação da JBS para ganhar terreno rumo à disputa de 2018.
A reportagem é de Rodolfo Borges, publicada por El País, 05-06-2017.
Apesar de apoiar a decisão do PDT de — no caso da queda de Michel Temer — brigar por eleições diretas e, se vencidos, não participar da eleição indireta no Congresso, Ciro não aposta na antecipação do pleito. "Restará é a torcida para que, em caso de saída do presidente usurpador o Congresso escolha alguém minimamente capaz de administrar a delicada transição até as eleições gerais de 2018", disse em nota publicada em sua recém-aberta página no Facebook o ex-ministro dos Governos Lula e Itamar Franco, que voltou a alimentar seu perfil no Twitter nesta semana. O pouco tempo de vida virtual de Ciro Gomes o deixa muito atrás, contudo, de um de seus prováveis concorrentes na eleição do próximo ano, pelo menos na internet.
Grande fenômeno político das redes sociais, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem defendido a eleição indireta no caso de queda de Temer, "como define a Constituição". O fato de não estar entre os investigados da operação Lava Jato ajudou o parlamentar a reforçar seu discurso como alternativa nos últimos meses, principalmente depois das delações da Odebrecht e da JBS. Bolsonaro tem lotado aeroportos Brasil afora. Em sua passagem recente por Londrina (PR), aliás, Bolsonaro causou saia justa no PDT de Ciro Gomes, que abriu procedimento para expulsar o vereador Roberto Fu do partido após ele ter participado de homenagem ao deputado do PSC na Câmara local.
"A JBS faz a maior trambique já visto c/ SEU dinheiro c/ todos os governos, via BNDES, e vc falando q Bolsonaro ñ manja d economia! Meu Deus!", escreveu Carlos Bolsonaro, filho do deputado federal e vereador do Rio de Janeiro, em seu Twitter recentemente. Além de se distanciar dos suspeitos de corrupção, o deputado do PSC — que provavelmente mudará de partido para se candidatar à presidência — tem registrado seu crescimento em pesquisas de intenção de voto e dado opiniões sobre os principais assuntos do mundo político. Bolsonaro endossou na semana passada a convocação das Forças Armadas pelo presidente Temer para interromper a depredação de ministérios em Brasília. "É prerrogativa presidencial para o restabelecimento da lei e da ordem. O que fizeram hoje não foi apenas manifestação", comentou.
Outra que passou a se manifestar com mais frequência sobre os rumos do país em entrevistas à imprensa é a ex-senadora Marina Silva. A fundadora da Rede Sustentabilidade não tem sido tão enfática quanto a uma terceira candidatura ao Palácio do Planalto, mas é difícil imaginar que não se candidate. Defensora da cassação da chapa Dilma Rousseff/Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde 2015, a ex-ministra do Meio Ambiente vem reforçando seu ponto após a delação da JBS. "A posição da Rede Sustentabilidade é pela cassação da chapa Dilma-Temer no TSE e convocação de eleições diretas. Em um momento de vacância do cargo, seja pela cassação ou até pelo impeachment, não temos o porquê de ter medo da decisão soberana da sociedade", escreveu Marina em seu perfil no Facebook ao compartilhar uma de suas várias entrevistas.
As eleições diretas neste ano também servem de mote para o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO). Após o bom desempenho do DEM nas eleições municipais e a volta do partido à presidência da Câmara, os democratas se animaram a postular candidatura própria, e o nome de Caiado seria o mais forte no partido. "Eleições extraordinárias não podem ser encaradas como quebra do Estado Democrático de Direito nem que colocariam em risco a democracia", disse o senador em meio ao debate sobre a PEC das Eleições Diretas no Senado.
Diante das incertezas, até o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que vinha negando intenção de buscar o posto mais alto da República, admitiu que pode virar candidato. O Governo Temer ainda não acabou, mas o início de seu fim já marca a largada para a sucessão presidencial de 2018.
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Crise do Governo Temer precipita a campanha presidencial de 2018 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU