23 Mai 2017
O Brasil parou às 19h30min de quarta-feira (17). A divulgação de trechos da delação premiada do dono do grupo JBS, Joesley Batista, comprometia o presidente Michel Temer (PMDB) e o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, principal partido de sustentação ao governo. Na quinta-feira, a retirada do sigilo sobre o processo elevou o cataclismo político ao implicar os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de 1.829 políticos de 28 partidos. Algumas questões, contudo, seguem sem resposta. A seguir, veja cinco mistérios que a Procuradoria-Geral da República terá de desvendar.
A reportagem é de Guilherme Mazui e Fábio Schaffner, publicada pela página eletrônica de Zero Hora, 22-05-2017.
Na conversa de 7 de março no Palácio do Jaburu, Joesley Batista pede ao presidente Michel Temer que designe um interlocutor para resolver pendências no governo. Temer indica o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) da sua "mais estrita confiança". É Loures quem intermedeia a solução de um problema de Joesley no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), bem como oferece ao empresário que indique nomes para ocupar cargos em órgãos de fiscalização, como a Receita Federal e o Banco Central.
Em troca, Joesley oferece propina. Os termos do negócio foram fechados pelo diretor da JBS, Ricardo Saud: R$ 500 mil semanais durante 20 anos. O primeiro pagamento foi filmado pela Polícia Federal (PF). Rocha Loures recebe o dinheiro em uma mala e a leva para a casa dos pais, em São Paulo. A PF anotou o número de série das cédulas. Não há certeza, porém, se foi instalado um chip na mala, a exemplo do que foi feito na entrega de propina a um primo do senador Aécio Neves.
O maior temor dos assessores de Temer é que o rastreamento do dinheiro acabe comprometendo o presidente. Temer nega ter recebido propina e até agora Rocha Loures não disse o que fez com o dinheiro.
Ao pedir R$ 2 milhões a Joesley Batista, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que precisava do dinheiro para pagar seu advogado, Alberto Toron. Segundo Joesley, o dinheiro foi pago em quatro parcelas de R$ 500 mil, entregues a um primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, o Fred.
A Polícia Federal filmou três desses pagamentos. As cédulas foram previamente registradas e as malas tinham chip. Segundo os investigadores, Fred repassou o dinheiro a Menderson Souza Lima, assessor e cunhado do senador Zezé Perrela (PMDB-MG). Sempre seguido pela PF, Menderson fez três viagens de carro a Belo Horizonte levando a propina.
O rastreamento do dinheiro mostra que os recursos foram parar na Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, empresa do filho do senador Gustavo Perrella. Ao prender Menderson, em operação deflagrada na quinta-feira, a PF apreendeu R$ 400 mil na casa dele. Alberto Toron declarou que nunca recebeu o dinheiro de Aécio. Zezé Perrella disse jamais ter recebido dinheiro de Joesley e Alberto Toron e declarou que tampouco foi pago por Aécio.
O empresário Joesley Batista disse à Procuradoria-Geral da República que mantinha duas contas-correntes no Exterior destinadas aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff.
Em 2014, as contas chegaram a ter saldo de US$ 150 milhões. O dinheiro era depositado por Joesley cada vez que ele obtinha êxito ao negociar financiamentos no BNDES.
De acordo com o empresário, o dinheiro não foi usado para pagar despesas pessoais dos petistas, mas sim para manter operações designadas pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega. A eleição de 2014 acabou consumindo todo o montante. De acordo com o delator, Mantega indicou o tesoureiro de campanha, Edinho Silva, como interlocutor. Era Edinho que dizia qual partido deveria receber tal quantia.
— Cada partido vinha e decidia se queria por fora, por dentro, nota fria, dinheiro, caixa 1, caixa 2. Foi até zerar, até acabar. Acabou a da Dilma e acabou a do Lula. Eu avisei quando acabou — disse Joesley aos procuradores.
A documentação de posse da PGR não informa o país nem o banco onde as contas foram abertas. Joesley se comprometeu a entregar um pen drive com todas as operações.
Na noite do sábado anterior à votação do impeachment na Câmara, Joesley recebeu uma visita surpresa do deputado João Bacelar (PR-BA). O parlamentar pedia um socorro financeiro para evitar a abertura de processo contra Dilma Rousseff. Para tanto, disse que precisava comprar o voto de 30 deputados, ao custo de R$ 5 milhões cada um. Joesley barganhou: disse que só pagaria R$ 3 milhões por deputado, e no máximo a cinco parlamentares. Ou seja, do pedido de R$ 150 milhões, aceitava pagar apenas 10%, R$ 15 milhões.
A questão é que o suborno a cinco deputados não seria suficiente para reverter o placar desfavorável a Dilma. Quando o impeachment foi à votação, 367 parlamentares votaram a favor. O número mínimo de votos exigido para abertura do processo era 342. Somente a compra de 26 deputados, e não cinco, barraria a tentativa de deposição da presidente.
Joesley não explicou aos procuradores por que aceitou pagar por algo que não receberia. Seu depoimento, contudo, dá a impressão de que ele gostaria de enviar um sinal de boa vontade ao governo, demonstrar que estava ajudando, ainda que esse auxílio fosse insuficiente.
Executivo da JBS, Ricardo Saud afirmou na delação que a empresa pagou propina a 1.829 candidatos eleitos, filiados a 28 partidos. No caso do Congresso, o grupo ajudou a financiar um a cada três parlamentares eleitos — 166 na Câmara e 28 no Senado. Saud definiu as doações como ¿reservatório da boa vontade¿, que envolve repasses de recursos em doação oficial ou caixa 2.
Em alguns casos, o recurso servia apenas para evitar que os políticos pudessem criar empecilhos aos interesses da empresa. Em outros, exigia a atuação em favor da JBS, com aprovação de projetos e medidas provisórias. Nos futuros pedidos de inquérito sobre as doações, a PGR quer o aval do STF para apurar quais casos tratam de corrupção e quais são exclusivamente caixa 2.
Onyx Lorezoni (DEM-RS) admitiu ter recebido R$ 100 mil de forma clandestina, em espécie, da JBS em 2014. No caso de José Ivo Sartori, Saud afirmou que repassou, por doação oficial, R$ 1,5 milhão à campanha do peemedebista em 2014 a pedido de Aécio Neves, dinheiro que seria da cota de propina do tucano. Sartori nega qualquer irregularidade. Sua campanha recebeu recursos declarados à Justiça Eleitoral, sendo R$ 2,5 milhões, em dois depósitos bancários, e R$ 184.250,00 em despesas pagas.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cinco perguntas sem resposta na delação da JBS que abalou Brasília - Instituto Humanitas Unisinos - IHU