05 Mai 2017
Ela deve se cuidar com “esses benfeitores que depois a defraudam”. Mas, sobretudo, a Igreja sempre deve estar “em pé e em caminho, ouvindo as inquietações das pessoas” e deve ser sempre alegre. Essas são palavras que o Papa Francisco pronunciou neste dia 04 de maio durante a missa matutina na Capela da Casa Santa Marta, segundo indicou a Rádio Vaticano.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr. e publicada por Vatican Insider, 04-05-2017. A tradução é de André Langer.
Nos primeiros oito capítulos dos Atos dos Apóstolos há um resumo “de toda a história da Igreja”. “A pregação, o batismo, as conversões, os milagres, as perseguições, a alegria e também esse pecado grotesco daqueles que se aproximam da Igreja para fazer seus negócios, esses benfeitores da Igreja que depois a defraudam”, como Ananias e Safira. O Pontífice destacou que Deus, desde o princípio, acompanha os seus discípulos, confirmando a Palavra com sinais milagrosos, sem abandoná-los nem mesmo nos momentos mais difíceis.
O Bispo de Roma meditou em particular sobre três palavras extraídas da Primeira Leitura do dia, o capítulo 8 dos Atos dos Apóstolos e exortou a lê-lo em casa, com tranquilidade.
A primeira expressão: “Levanta-te e vai”, que um anjo dirige a Filipe. É “um sinal de consolação da Igreja, de fato, é evangelizar, mas, para isso, ‘levanta-te e vai’. Não diz: ‘Fique sentado, tranquilo, em casa’: não! A Igreja, para ser sempre fiel ao Senhor, deve estar em pé e em caminho: ‘Prepara-te e vai’. Uma Igreja que não se levanta, que não está em caminho, adoece”.
O perigo que corre é sofrer traumas psicológicos e espirituais, ficar “fechada no pequeno mundo das fofocas, das coisas… fechada, sem horizontes. Levanta-te e vai, em pé e em caminho. Assim deve agir a Igreja na evangelização”, insistiu.
A segundo expressão: “Aproxima-te desse carro e acompanha-o”, palavras do Espírito Santo a Filipe. No carro, havia um eunuco etíope (de religião hebraica, eunuco, que foi a Jerusalém para adorar a Deus) e que, enquanto viajava, lia o profeta Isaías. É a conversão de um “ministro da economia” e, portanto, trata-se de “um grande milagre”, disse Francisco. O Espírito exorta Filipe a se aproximar daquele homem, e, por isso, o Papa insistiu no dever da Igreja de ouvir a inquietação do coração de cada pessoa.
Porque “todos os homens, todas as mulheres têm uma inquietação no coração, boa ou ruim, mas há uma inquietação”. Devemos ouvir “essa inquietação. Não diz: ‘Vai e faça proselitismo’. Não, não! ‘Vai e ouve’. Ouvir é o segundo passo. O primeiro é ‘levanta-te e vai’; o segundo, ‘ouve’”. Essa capacidade de “escuta: o que as pessoas sentem, o que sente o coração dessa gente, o que pensam…? Mas, pensam coisas erradas? Mas eu quero ouvir essas coisas erradas, para entender bem onde está a inquietação. Todos temos uma inquietação dentro de nós. O segundo passo da Igreja é encontrar a inquietação das pessoas”.
Acontece depois, que o próprio etíope, quando se dá conta de que Filipe se aproxima, pergunta-lhe de quem falava o Profeta Isaías e o convida a subir e sentar-se ao seu lado; assim, “com mansidão”, Filipe começa “a pregar”. A inquietação desse homem encontra, desta maneira, uma explicação, uma iluminação, que enche de esperança o seu coração. Mas isso foi possível “porque Filipe se aproximou e ouviu”.
Enquanto o etíope ouvia, o Senhor trabalhava dentro dele. Deste modo, o homem entende que a profecia de Isaías referia-se a Jesus. Por conseguinte, sua fé em Cristo aumenta a tal ponto que, quando chegaram onde havia água, pede para ser batizado. “Foi ele quem pediu o Batismo, porque o Espírito tinha trabalhado em seu coração”, destacou o Papa, e exortou a deixar o Espírito trabalhar no coração das pessoas. Depois do Batismo, o Espírito, “que está sempre presente”, conduz Filipe a outro lugar, e o eunuco “cheio de alegria” prosseguiu o seu caminho. E o Papa destacou também a “alegria do cristão” que se difunde.
O desejo do Bispo de Roma é que a Igreja esteja “em pé, mãe que ouve” e, “com a graça do Espírito Santo, encontra a Palavra a dizer”. A Igreja, “mãe que dá à luz a tantos filhos com este método, digamos – usemos a palavra –, este método que não é proselitista: é o método do testemunho à obediência. A Igreja, que hoje nos diz: ‘Alegra-te’. Alegrar-se, a alegria. A alegria de ser cristãos inclusive nos momentos mais difíceis, porque depois do apedrejamento de Estevão, teve início uma grande perseguição e os cristãos se espalharam por todos os lugares, como a semente que o vento leva. E foram eles que pregaram a Palavra de Jesus”.
Para concluir, uma invocação: “Que o Senhor nos dê a graça de viver a Igreja assim: em pé e em saída, escutando as inquietações das pessoas e sempre com alegria”.
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“A Igreja deve ouvir as inquietações das pessoas”, diz Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU