28 Abril 2017
Todas as bases governamentais que atualmente protegem os povos indígenas isolados no Brasil da invasão de madeireiras e agronegócios, poderiam ser desmanteladas, de acordo com informações recebidas pela Survival International. Esta medida pode ser uma das maiores ameaças que as tribos amazônicas isoladas enfrentariam por décadas.
A reportagem foi publicada por Survival.es, 27-04-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Os agentes da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) desempenham um papel fundamental na proteção dos territórios dos indígenas isolados diante de madeireiras, agronegócios, mineradoras e outros invasores. Algumas equipes já estão sendo retiradas e está previsto que em breve haja mais uma dispensa.
É provável que milhares de invasores se precipitem a estes territórios, uma vez que os postos de proteção sejam eliminados.
Estima-se que existam mais de cem tribos indígenas isoladas no Brasil, mais de dois terços da população mundial de tribos já contactadas. Muitos deles vivem em territórios indígenas, somando mais de 54,3 milhões de hectares de selva protegida, uma área um pouco maior do que a área da Espanha.
Estes territórios são monitorados por apenas 19 equipes dedicadas da FUNAI. É possível que todos sejam eliminados do orçamento estatal brasileiro, apesar de que o dinheiro destinado a mantê-los equivalha, mais ou menos, ao salários e aos benefícios médios que anualmente apenas dois deputados brasileiros recebem.
Estas medidas propostas são as últimas de uma longa lista de ações do governo do presidente Temer, que chegou ao poder em 2016 após o processo de destituição de Dilma Rousseff, o que poderia ter consequências catastróficas para os povos indígenas do país.
De acordo com as declarações da ativista indígena Sonia Guajajara: "Com os recortes da FUNAI, o governo está declarando a extinção dos povos indígenas".
Paulo Marubo, indígena do Vale do Javari, na Amazônia brasileira, disse: "Se desativam-se os equipamentos de proteção, será como antes, quando muitos indígenas morriam massacrados ou por meio de doenças (...) Se os madeireiros vierem, vão querer entrar em contato com os povos isolados, transmitirão doenças e inclusive os matarão".
Muitos ativistas sugerem que os estreitos laços mantidos pelo governo com os poderosos do agronegócio e da bancada ruralista brasileira, que consideram os territórios indígenas como uma barreira para sua própria expansão, poderiam estar relacionados com a motivação por trás desta proposta.
Uma grande mobilização indígena nacional, convocada pelo Acampamento Terra Livre, acontece esta semana em Brasília contra as propostas do governo para enfraquecer drasticamente os direitos dos indígenas.
Os povos indígenas isolados são os mais vulneráveis do planeta. Populações inteiras estão sendo exterminadas pela violência exercida pelos forasteiros que arrebatam suas terras e recursos, além das doenças como a gripe e o sarampo das quais eles não têm imunidade.
A Survival International lidera a luta global pelos direitos dos povos indígenas isolados a terem suas terras e a decidirem seu próprio futuro.
O diretor da Survival International, Stephen Corry, declarou: "Os recortes orçamentários do governo para proteger os povos indígenas isolados claramente não tem nada a ver com dinheiro: o gasto envolvido é mínimo. É uma manobra política do agronegócio que vê as tribos isoladas como uma barreira para os benefícios, e que tem na mira a selva que até agora estava além do alcance da exploração. A realidade é que estes recortes orçamentários podem conduzir os indígenas isolados ao genocídio".
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Governo brasileiro abandona indígenas isolados à mercê de madeireiras e agronegócios - Instituto Humanitas Unisinos - IHU