24 Abril 2017
Apesar de Francisco, cujo índice de aprovação entre fiéis e não fiéis é cada vez mais alto, a secularização na Itália permanece estável e, de fato, em muitos territórios, avança.
A reportagem é de Zita Dazzi e de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 21-04-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quem demonstra isso não são apenas os últimos dados do instituto ISTAT, mas também diversas falhas in loco. A última, em ordem de tempo, vem de Veneza. O Pe. Mario Sgorlon, pároco da Igreja de São Erasmo, a grande e atemporal “ilha jardim” em frente ao Lido, decidiu afixar, do lado de fora da própria igreja, um cartaz que abre um panorama dramático sobre a prática religiosa na Itália: “A missa está suspensa por falta de fiéis”, escreveu. E ainda: “O Pe. Mario está disponível a pedido”, e, ao lado, o seu número de telefone. Em resumo, explicou o próprio Pe. Mario, “não há mais tantas pessoas que vêm para as celebrações e, portanto, para evitar que eu fique sozinho no altar, eu coloquei o aviso. No inverno, muito frequentemente, não vem ninguém, porque faz frio, as pessoas ficam doentes e não saem de casa. Uma vez, estávamos em três. Em suma, celebrar assim não faz sentido”.
Embora a Igreja Católica não goste das estatísticas – “os números nem sempre fotografam uma vitalidade ainda existente”, repetem os eclesiásticos – a “lei” da secularização permanece implacável, apesar do ciclone Bergoglio.
Se, em 2006, uma em cada três pessoas (exatamente 33,4%) declarava frequentar lugares de culto pelo menos uma vez por semana, hoje o percentual caiu para 29%.
Ao contrário, de acordo com os últimos dados do ISTAT, as pessoas que declaravam que nunca frequentavam lugares de culto passaram de 17,2% para 21,4%. Na prática, mais de uma em cada cinco. E dá muito o que pensar o fato de que esses mesmos dados são “drogados” por uma elevação – sem isto, seriam ainda menores – causada pela presença de crianças nos serviços religiosos: entre os 6 e os 13 anos, elas são 51,9%.
Franco Garelli, autor de Educazione e Piccoli atei crescono. Davvero una generazione senza Dio [Pequenos ateus crescem. Realmente uma geração sem Deus], ambos pela editora Il Mulino, explica que “não é um papa que vai melhorar a prática religiosa”. E até mesmo o chamado “efeito Bergoglio”, “que, contudo, existe, tanto que não são poucos aqueles que declaram que a presença desse papa convida a uma maior reflexão sobre si mesmo e sobre o significado da própria vida, precisa de uma tradução no concreto, e não é de todo evidente que a Igreja consiga fazer isso. Se a ‘oferta’ continua sendo a de comunidades chamadas de ‘freezers’, com uma religiosidade formal e com ritos pouco envolventes, é óbvio que a prática diminui, as pessoas se desanimam. Além disso, o fato é que, talvez, essas mesmas pessoas vivem uma prática religiosa própria frequentando outros lugares, outras pessoas, que não se enquadram necessariamente nas classificações-padrão”.
As comunidades freezers. Ou, o que dá quase na mesma, sacerdotes que não conseguem comunicar a força do Evangelho. Aqui está o ponto central, o motivo de uma desafeição profunda, em algumas partes do território italiano. Quem está convencido disso é o Pe. Alberto Maggi, fundador do Centro de Estudos Bíblicos de Montefano, autor, pela editora Garzanti, de Chi non muore si rivede [Quem não morre se revê].
Ele diz: “São os sacerdotes, em primeiro lugar, que deveriam se perguntar: por que as pessoas não vêm? Infelizmente, a verdade é que, em relação a certas missas, se deveria sair em legítima defesa. Às vezes, a leitura do missal parece o folhear de uma lista telefônica. Mas como é possível que Jesus irritasse ou entusiasmasse, enquanto a leitura, hoje, das suas palavras, muitas vezes, não faz nada mais do que adormecer? Francisco faz o que todos os padres deveriam fazer: ele não quer levar os homens a Deus, mas sim levar Deus aos homens através da ternura, linguagem universal”.
Pessoas que frequentam lugares de culto ao menos uma vez por semana
A queda da frequentação dos lugares de culto atingiu todas as faixas etárias. Aquela em que se “perde” a fé por excelência continua sendo entre os 20 e os 24 anos. A curva, depois, tende a subir lentamente. Mas a comparação com 2006 nos diz que a faixa etária mais desiludida é a dos 55 aos 59 anos, que, na última década, perdeu 30% dos frequentadores de lugares de culto. Faixa que poderia se estender para os 60-64 anos, em que a queda foi de 25%.
Garelli diz ainda: “Esse fenômeno pode ser ditado ou pelo fato de que, nessa faixa etária, muitos constroem uma segunda vida alternativa, e os novos compromissos afastam da prática religiosa; ou pode ser uma consequência da crise: pessoas que saíram do ciclo produtivo tentando entrar nele de novo”.
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A missa terminou: igrejas cada vez mais vazias, apesar de Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU