07 Abril 2017
“O Papa Francisco vem da Argentina, não conhece o Islã. Ele conheceu um imã muito gentil em Buenos Aires e teve uma boa relação com ele, mas a sua ignorância do Islã não ajuda no diálogo. Bergoglio disse muitas vezes que o Islã é uma religião de paz, e isso é um erro, simplesmente.” O padre Samir Khalil Samir fala com voz pacata diante de um grupo de jornalistas reunidos em Borgo Pio, em um encontro em vista da próxima viagem do Papa Francisco ao Egito, no dia 28 de abril, quando Bergoglio vai cruzar o limiar da Universidade de Al-Azhar, o maior centro teológico do Islã sunita.
A reportagem é de Nina Fabrizio, publicada por Il Quotidiano, 06-04-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Islamólogo, jesuíta, professor do Pontifício Instituto Oriental e ex-conselheiro especial do Papa Bento XVI sobre o Islã, o Pe. Samir dá voz com naturalidade àquelas reservas sobre a atitude de Francisco em relação à religião de Maomé, que outros também, dentro e fora do Vaticano, compartilham sem expressá-las publicamente.
“Certamente, em muitos muçulmanos há a vontade de paz – esclarece –, mas eu não posso ler o Alcorão e fingir que é um livro cuja orientação é a paz. Nem a Sunna, o livro dos ditos e dos gestos de Maomé.”
O Pe. Samir se encontrou privadamente com Francisco em junho passado. “Ele me explicou que o objetivo do encontro com o reitor da al-Azhar, o imã Al-Tayyeb, se deve à reconciliação com ele depois da ruptura das relações desencadeada pelo discurso sobre o Islã de Joseph Ratzinger, em Regensburg. Isso é necessário, é verdade, mas eu também acho que ele não sabe muito de Islã nem da al-Azhar, e projeta sobre eles boas intenções.”
Samir conta sobre as muitas cartas recebidas nos últimos meses de cristãos que não querem acreditar que Francisco rejeita associar Islã e terrorismo. “Obviamente, eu tento contê-los. O fato de Francisco buscar o caminho do diálogo com os muçulmanos é absolutamente necessário. O problema, porém, é que, se os muçulmanos em grande parte desaprovam aqueles que matam, eles não sabem como controlá-los.”
O mesmo Egito que Bergoglio visitará ao se encontrar também com o presidente al-Sisi está fortemente exposto às pressões dos três movimentos que tendem ao fanatismo, a Irmandade Muçulmana, os salafistas e, em menor grau, os wahabitas. “O imã de al-Azhar tinha interrompido o diálogo com o Vaticano por seis anos com motivações ridículas. Por duas vezes, emissários da Santa Sé nem sequer tinham sido recebidos. Graças à atitude aberta de Bergoglio, o imã mudou de posição e agora está pronto para acolhê-lo no Cairo”, reconhece Samir, que, porém, também lembra a limitada influência de al-Azhar. “Ela só é influente no mundo sunita, enquanto o grande problema hoje do Islã é justamente a divisão entre sunitas e xiitas. Além disso, al-Azhar não é uma universidade generalista, mas um centro teológico e de direito islâmico com um ensino que se limita ao pé da letra dos textos, sem análise crítica e uma interpretação atualizada. Sobre muitas coisas, ela está parada em conceitos medievais.”
O fato de que a missão de Bergoglio no Cairo é muito difícil é uma opinião muito generalizada dentro do Vaticano. Alguns falam de “gesto apressado”. Mas Francisco não recua do seu propósito de lançar sempre novas pontes de diálogo.
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"O Islã não é pacífico. Sendo argentino, o papa não conhece realmente os muçulmanos", afirma jesuíta conselheiro de Bento XVI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU