31 Março 2017
O terror não tem a última palavra. À violência extremista que sacudiu Londres, o Papa Francisco opõe, melhor, propõe, o diálogo e a unidade entre as religiões. Por isso, receberá no Vaticano quatro imãs ingleses no próximo dia 05 de abril, poucas semanas após o atentado de 22 de março contra a Westmister Bridge e contra o Parlamento, que provocou cinco vítimas. Um gesto muito significativo para frear a islamofobia que se está estendendo por toda a Europa (e que se acende cada vez mais depois de cada ataque) e para colocar em prática o apelo que fez no começo deste ano durante a audiência concedida ao Corpo Diplomático, para que todas as autoridades religiosas permaneçam “unidas” na hora de insistir “com força que nunca se pode matar em nome de Deus”.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio e publicada por Vatican Insider, 29-03-2017. A tradução é de André Langer.
O encontro com os imãs acontecerá no dia seguinte à audiência com os nobres britânicos Carlo e Camila, e será também a ocasião para “insistir em que os líderes religiosos querem e estão comprometidos com a construção de relações”, como destacou o cardeal Vincent Nichols, arcebispo de Westminster, que revelou a notícia durante uma entrevista que concedeu ao Serviço de Informação Religiosa (SIR, agência de notícias do episcopado italiano), durante o congresso sobre os jovens, promovido pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa na cidade de Barcelona.
O cardeal, que acompanhará os quatro representantes muçulmanos a Roma, quis esclarecer algumas características do ataque perpetrado por Khalid Masood, cidadão britânico de 52 anos que jogou seu veículo contra as pessoas que estavam passando pela ponte e depois prosseguiu até a Parliament Square (onde esfaqueou quatro pessoas e um policial). “Está claro que o que aconteceu não tem nada a ver com as fronteiras – afirmou Nichols. O terrorista era um homem que nasceu na Inglaterra e que cresceu na Inglaterra. Passou, é verdade, um breve período de tempo na Arábia Saudita e fez-se muçulmano. Mas também devemos dizer que era um homem com uma longa história de violência. Esteve cinco ou seis vezes na prisão e quem o conhece o descreve como um homem muito raivoso”.
Na sequência, o cardeal falou sobre um “caso” que “deve ser visto e interpretado na sua realidade”. Para o futuro, acrescentou, “há uma coisa muito importante que devemos aprender, ou seja, a de não permitir que as comunidades se isolem. Creio que as pessoas de fé têm muito a oferecer. O diálogo entre pessoas que creem em Deus cria um espaço comum. E é, deste ponto de vista, um dever para os líderes religiosos falar entre si, encontrar-se, explorar juntos soluções comuns, enfrentar a questão do credo religioso que leva a converter-se em extremismo e violência”. Devemos ter o cuidado, disse o arcebispo de Westminster, para “não relegar a fé a uma esfera privada, porque isto contribui ainda mais para o isolamento das comunidades e não contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva”.
Estes conceitos foram também expressados pelo Papa Francisco, que não deixou passar a ocasião para denunciar, em diferentes ocasiões, a falta de integração dos “estrangeiros” na Europa, e indicou que esse era justamente um dos motivos da radicalização. Para os migrantes, “a pior forma de acolhida é a guetização. Pelo contrário, é necessário integrá-los”, afirmou o Pontífice em uma entrevista de maio de 2016 ao jornal francês La Croix. Tinham se passado dois meses do atentado no metrô de Bruxelas e Bergoglio destacou: “Em Bruxelas, os terroristas eram belgas, filhos de imigrantes, mas cresceram em um gueto... Isto demonstra a necessidade de a Europa redescobrir a sua capacidade de integrar”.
Este trabalho deve ser impulsionado também pelas religiões, posto que, recordou o próprio Papa em seu discurso aos diplomatas, “a experiência religiosa, em vez de abrir para os outros, às vezes, pode ser utilizada como pretexto para fechamentos, marginalizações e violência”. Ou então, para colocar em prática estes “atos intoleráveis” que não são outra coisa que o gesto mais extremo “de uma loucura homicida que abusa do nome de Deus para semear a morte, com o objetivo de afirmar uma vontade de domínio e de poder”.
“Não se pode não condenar a inqualificável afronta contra a dignidade da pessoa humana. Utilizar o nome de Deus para justificar esta via é uma blasfêmia”, afirmou o Papa depois do massacre no Passeio dos Ingleses de Nice. No entanto, disse ao reunir-se com os familiares das vítimas no Salão Paulo VI, “a via da violência e do ódio não resolve os problemas da humanidade”. Além disso, devemos “responder com amor”. Sempre com a consciência de que, destacou nesta quarta-feira pela manhã (dia 29 de março) ao reunir-se com uma delegação iraquiana (xiitas, sunitas e yazidies) antes da Audiência Geral, “somos irmãos e, como tais, todos diferentes e todos iguais, como os dedos de uma mão: os dedos são cinco, todos dedos, mas todos diferentes”.
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O Papa receberá quatro imãs depois do atentado de Londres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU