25 Março 2017
Em outubro no ano passado, estive com os índios Paiter Suruí de Rondônia por doze dias. Fui para conhecer o modo de vida deles e como viviam esses índios que desde o primeiro contato, em 1969, lutam contra a exploração ilegal e depredatória em suas terras de madeira, ouro e diamante.
A reportagem é de Maria Fernanda Ribeiro, publicada por O Estado de São Paulo. 24-03-2017
Divididos em 25 aldeias, tive a oportunidade de visitar apenas duas, a Lapetanha, que fica pertinho da cidade de Cacoal – localizada a 479 quilômetros de distância da capital Porto Velho – e a Apoena Meirelles, na cidade de Rondolândia, na divisa com o Mato Grosso.
Durante todo o tempo estive acompanha do líder Almir Suruí, conhecido internacionalmente pela sua luta em manter a floresta em pé e ameaçado constantemente por lutar contra a invasão ilegal da Terra Indígena. Vi e fui testemunha de caminhões com toras e toras de madeiras circulando pelos ramais de terra. Também tive acesso a depoimentos de como a vida de quem briga contra a derrubada da floresta pode ser inglória. E perigosa. Com histórias que envolvem armas, dedos em riste, escolta, brigas e discussões.
Mas o desmatamento da Amazônia por madeireiros e garimpeiros é uma constante sem controle, dentro e fora de terras indígenas. Falta fiscalização, faltam políticas públicas, falta gente. Falta boa vontade. Falta muita coisa.
Recentemente, O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) publicou estudo que alerta para tendência de aumento do desmatamento em Unidades de Conservação (UCs) da Amazônia e identificou as 50 mais desmatadas entre 2012 e 2015, conforme publicou a repórter Giuliana Girardi, neste Estadão, no dia 18 de março.
Os dados apontam que 237, 3 mil hectares foram desmatados dentro das Ucs da Amazônia e a consequência disso é alarmante com aproximadamente 136 milhões de árvores destruídas, causando a morte ou o deslocamento de 4,2 milhões de aves e 137 mil macacos. A emissão de gás carbônico gerado a partir da queima da vegetação nessa área chega a se comparar às emissões de 80% da frota de automóveis do Brasil.
As principais causas do desmatamento são as ocupações e a exploração madeireira ilegais. Os ocupantes podem ter obtido uma renda bruta de R$ 300 milhões com a venda da madeira extraída ilegalmente das Ucs, o que criou um enorme potencial de investimento no desmatamento. Além disso, eles se apossaram de um patrimônio em terras no valor de R$ 344 milhões.
Assim como as Unidades de Conservação, as Terras Indígenas são fundamentais para a contenção do desmatamento na região Amazônia e da conservação da biodiversidade para, inclusive, o cumprimento das metas de redução de emissão de Gases de Efeito Estufa assumidos pelo Brasil.
As atuais medidas do governo, tanto na alteração da demarcação de Terras Indígenas, como para reduzir as áreas das UC’s, cedendo à pressão da bancada ruralista, coloca em xeque todo um ecossistema e a distribuição das chuvas ainda. E põe na berlinda a própria reputação do agronegócio, como bem lembrou Paulo Barreto, autor do estudo. O estudo completo você encontra aqui.
Mas, voltando aos índios Paiter Suruí, sempre lembro de uma conversa com Almir, enquanto ele me mostrava fotos aéreas da devastação da floresta e outras imagens de exploração predatória, de que só há exploração ilegal porque há quem compre sem nem ao menos se perguntar quantas mortes foram necessárias para que chegasse até a sala da sua casa aquele móvel incrível que todo mundo acha um desbunde só.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Só tem exploração ilegal porque as pessoas compram sem questionar” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU