13 Fevereiro 2017
Esse brilhante teólogo formou gerações de estudantes e participou da renovação da teologia depois do Concílio Vaticano II, deixando uma obra com acentos proféticos em tempos de pluralismo religioso.
A reportagem é de Céline Hoyeau e publicada por La Croix, 09-02-2017. A tradução é de André Langer.
Claude Geffré foi um dos teólogos franceses mais proeminentes depois do Concílio. Ele morreu no dia 09 de fevereiro, com a idade de 91 anos. Sua saúde tinha se deteriorado fortemente nos últimos meses.
O nome desse dominicano – nascido em Niort (Deux-Sévres), que entrou para a Ordem dos Pregadores em 1948 e formou-se na escola de Santo Tomás de Aquino – foi rapidamente associado a duas grandes áreas da teologia contemporânea: a “guinada hermenêutica” e o pluralismo religioso.
Chegando, em 1965, ao Instituto Católico de Paris, como professor de teologia fundamental, ele começa a repensar o seu “método”: depois do Concílio Vaticano II, o teólogo não pode mais se concentrar na defesa dos dogmas, mas deve passar à “era hermenêutica”, esta ciência da interpretação dos textos.
Dito de outra maneira: deve recolher a significação da Escritura e traduzi-la para o contexto contemporâneo. Ele concebe, portanto, sua tarefa como “uma espécie de mediador entre a fé da Igreja e a experiência histórica dos homens e das mulheres”, escreveu.
Sem comprometer a especificidade do cristianismo, Claude Geffré, de forma pioneira, procura conciliar a única mediação de Cristo com o pluralismo das religiões. Ele reconheceu nas religiões não cristãs, nas quais ele leva muito a sério a “alteridade” e “sua diferença irredutível”, autênticos “caminhos de salvação”.
“Se muitos homens e mulheres são salvos em Jesus Cristo, isso acontece não apesar da sua pertença a tal tradição religiosa, mas nela e através dela”, sugere aquele que também foi diretor da Escola Bíblica e Arqueológica de Jerusalém (1996-1999), membro da Conferência Mundial das Religiões e do Grupo de Pesquisa Islamo-cristão.
“Ele também contribuiu de maneira significativa para os avanços do Vaticano II sobre o diálogo inter-religioso, com acentos de uma grande atualidade ainda hoje”, evoca o irmão Laurent Lemoine, sub-prior do convento Saint-Jacques de Paris, onde morou.
Diretor da prestigiosa coleção Cogitatio Fidei, das Éditions du Cerf, para a qual o próprio Claude Geffré escreveu: Le christianisme au risque de l’interprétation (1983), Passion de l’homme, passion de Dieu (1991), De Babel a Pentecostes. Ensaios de Teologia Inter-religiosa (Paulus, 2013)… Este é, sem dúvida, o livro que lhe valeu a desconfiança de Roma.
Em 2006, a Congregação para a Educação Católica opôs-se à vontade da Faculdade de Teologia de Kinshasa, na República Democrática do Congo, de lhe conceder um doutorado Honoris Causa pelo conjunto da sua obra. Sem, no entanto, dar explicações.
Mas o dicastério chegou a manifestar oralmente as suas reservas sobre a perspectiva crítica que Geffré tinha em relação a alguns aspectos da declaração Dominus Iesus, publicada pelo cardeal Ratzinger em 2000 e que condena “as teorias relativistas que justificam o pluralismo religioso”.
Claude Geffré ficou muito sentido por isso e nunca compreendeu bem essa atitude. Mas nos seus últimos anos, esse brilhante professor que formou gerações de estudantes, não mais se sentiu à vontade para ensinar. Muito ativo em sua comunidade e atento até o fim para o que estava acontecendo na Igreja, dotado de sólidas amizades, ele era também, segundo o irmão Lemoine, “um talentoso pregador e um homem de intensa oração”.
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Morre, aos 91 anos, Claude Geffré, teólogo do encontro das religiões - Instituto Humanitas Unisinos - IHU