Por: João Flores da Cunha | 03 Fevereiro 2017
Os países sul-americanos precisam se unir frente ao governo estadunidense de Donald Trump, que representa uma ameaça para a região. Essa é a opinião do secretário-geral da União das Nações Sul-americanas – Unasul, Ernesto Samper. Ele está deixando o cargo, e defendeu a posição no dia 31-01, em uma reunião extraordinária da Unasul em Quito, no Equador.
Em seu discurso de despedida, Samper fez duras críticas e alertas em relação à presidência de Trump. Para ele, “os primeiros anúncios e ordens executivas do novo governo dos Estados Unidos nos obrigam a pensar sem histerismo que estamos frente a uma complexa ameaça estratégica para a América do Sul”.
Por meio do Twitter, Samper chegou a se referir à chegada do republicano à Casa Branca como o “tsunami Trump”. Ele disse ter aprendido em seu período à frente da Unasul que o que “necessitamos é mais e não menos integração para enfrentar desafios” como esse. “Não sigamos buscando a salvação fora da região”, defendeu.
Samper ainda qualificou a barreira na fronteira entre os EUA e o México – que Trump pretende ampliar – como muro “da ignomínia”. Recentemente, ele emitiu um comunicado em nome da Secretaria-Geral da Unasul em que rejeita a decisão adotada pelo presidente dos EUA de “impor ao povo mexicano a humilhante obrigação de pagar o ainda mais humilhante muro”. Ele expressou sua preocupação pela “tensão das relações hemisféricas”, e afirmou que medidas como essa “afetam a segurança e a qualidade de vida de nossos concidadãos residentes nos EUA, nosso comércio, a paz na Colômbia e as possibilidades de reintegração com o novo marco das relações com Cuba”.
COMUNICADO DE LA SEC. GRAL. DE #UNASUR ANTE LAS DECISIÓN DEL PRESIDENTE DE #EEUU DE CONSTRUIR UN MURO CON #MÉXICO Y EXIGIR QUE LO PAGUEN. pic.twitter.com/o7TlgZQ3Jn
— UNASUR (@unasur) 26 de janeiro de 2017
“O que acontece com o México acontece com a América Latina”, destacou Samper. Ele pediu que haja solidariedade coletiva entre os países da região para lidar com os efeitos da nova política imigratória estadunidense. “Os êxodos massivos de latino-americanos em direção a seus países de origem” que o governo Trump parece querer impulsionar são “consequência de medidas xenófobas e racistas”, assinalou Samper. Ele destacou ainda que possíveis medidas protecionistas a serem adotadas por Trump representam uma “sombria perspectiva”, que deve servir para “reforçar os esquemas de integração”.
Hoy rindo mi informe final sobre @unasur. Han sido años maravillosos de reencuentro con América Latina, sus sueños, sus esperanzas.
— Ernesto Samper P. (@ernestosamperp) 31 de janeiro de 2017
Formada em 2008, a Unasul é um órgão que tem como membros os 12 países da América do Sul. Samper, que foi presidente da Colômbia entre 1994 e 1998, deixa o cargo de secretário-geral sem definição de quem será seu substituto. Os chanceleres dos países sul-americanos acordaram eleger o seu sucessor em até um mês.
Em sua despedida do cargo, Samper também abordou o relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – Cepal que revelou que a pobreza está aumentando na América Latina. Ele defendeu que a região tem atualmente o desafio de evitar que as milhões de pessoas que saíram da pobreza nos últimos anos retornem a ela. Para Samper, é preciso “evitar que através de programas de ajuste fiscal que cortam os investimentos sociais e aumentam os impostos diretos se cometa ou se chegue a cometer o sacrilégio de que os pobres de ontem voltem a ser os pobres de sempre”.
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Países da América do Sul devem se unir para enfrentar a ameaça Trump, diz secretário da Unasul - Instituto Humanitas Unisinos - IHU