13 Janeiro 2017
O Presidente Enrique Peña Nieto declarou que não é uma medida fácil, mas disse que o aumento no preço da gasolina será mantido. Enquanto isso, em diferentes pontos do país, continuam os protestos e já foram detidas mais de 500 pessoas que cometeram atos de vandalismo, saqueando pelo menos 250 lojas.
A reportagem é de Sergio Rincón, publicada por Univisión Noticias, 11-01-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
O México, um país petrolífero, vive seu quinto dia de protestos devido ao aumento de até 20% no preço da gasolina, um mal-estar geral que começou com protestos pacíficos, mas que com o passar dos dias tornou-se uma série de tumultos e saqueios que foram gerados a partir de grupos isolados de pessoas e seus atos de vandalismo.
Até quinta-feira de manhã, a Associação Nacional de Supermercados e Lojas de Departamento (ANTAD) registrou um total de 250 lojas saqueadas. Enquanto isso, as autoridades mexicanas disseram que durante os tumultos um policial foi morto e pelo menos 500 pessoas foram presas.
Os estados onde foram registrados incidentes são a Cidade do México, Michoacán, Estado de México, Hidalgo, Veracruz e Quintana Roo.
Apesar disso, o governo liderado por Enrique Peña Nieto disse que não irá recuar com a medida, porque "os efeitos e as consequências seriam piores", disse o presidente.
A Secretaria da Fazenda do México explicou que as mudanças nos preços dos combustíveis respondem ao aumento dos preços internacionais, pois o México precisa importar gasolina devido a uma crise em suas refinarias. Algumas delas estão fechadas há décadas.
Em alguns lugares, o aumento foi de 14% e em outros chegou a até 20,1%, porque o governo federal dividiu o país em 90 regiões (sete de fronteira e 83 no interior), correspondendo às áreas que a empresa Petróleos Mexicanos (Pemex) fornece gasolina, cujos recursos servem para manter segura grande parte da economia mexicana.
Os mexicanos estão inconformados
Desde o dia primeiro de janeiro, quando entrou em vigor o aumento dos preços dos combustíveis, centenas de mexicanos foram às ruas de algumas cidades, outros trancaram a passagem das estradas. Inclusive houve ocupações simbólicas de edifícios e postos de gasolina, além de atos de vandalismo como roubos de combustível e saques de lojas.
Em uma pesquisa feita pelo Univision Notícias, a maioria dos entrevistados expressaram sua preocupação porque com o encarecimento dos preços da gasolina, todos os produtos e serviços tendem a subir de preço.
Alguns motoristas também expressaram sua raiva, porque agora para encher o tanque do seu automóvel seria preciso gastar 800 pesos.
“A forma como estão se manifestando é equivocada, porque longe de nos ajudar, nós estamos sendo prejudicados ao fecharem as estradas. Com isso, estamos gastando mais gasolina, enquanto o que se trata aqui é que gastemos menos, e quem sabe até deixemos de comprar carros", disse o motorista Héctor Mayorquín.
Atos violentos
Um dos incidentes mais violentos ocorreu na terça-feira, quando dezenas de pessoas saquearam uma loja de conveniência no centro do Estado do México.
O governo do Estado do México informou que 430 pessoas foram presas, quatro delas policiais, mas as organizações civis nessa área, como o Centro de Direitos Humanos Zeferino Ladrillero, informaram que os saqueios se trataram de "uma provocativa estratégia do governo para intimidar os protestos e o descontentamento popular pelo 'gasolinaço' e, assim, justificar o uso da força".
"Verificamos que existe uma política para gerar caos e medo por parte das polícias municipais em diversos centros comerciais e estabelecimentos. Eles chegam dizendo aos comerciantes que devem fechar, porque há grupos que virão para roubar. Estes grupos estão atuando com impunidade e estão operando com a aprovação da polícia, o que nos faz pressupor que o governo está por trás de tudo isso", disse Antonio Lara Duque, advogado e coordenador do Centro de Direitos Humanos Zeferino Ladrillero, para a Univision Notícias.
O subsecretário de Governo, René Juárez Cisneros, disse em uma coletiva de imprensa que mais de 250 pessoas foram presas na Cidade do México, Estado de México e Hidalgo enquanto cometiam atos de vandalismo derivados dos protestos.
A partir da tarde desta quarta-feira, em vários pontos do estado do México foram espalhados rumores de ataques em estabelecimentos. As advertências chegaram através das redes sociais e por áudios no WhatsApp.
Na Cidade do México, vários comerciantes fecharam suas empresas frente aos alertas e houve a ação da polícia de choque em algumas áreas. No Estado do México foram confirmados alguns saques, assim como em lojas do município de Ecatepec.
Na manhã desta terça-feira, outro incidente ocorreu no Estado do México: dezenas de civis detiveram um caminhão pipa de gasolina e esvaziaram-no usando mangueiras, baldes e latas.
No norte do país, os mexicanos optaram por atravessar a fronteira para abastecer, porque desde agosto a gasolina dos Estados Unidos é 25% mais barata.
Em alguns estados, como Oaxaca, os consumidores têm tomado os postos de gasolina para roubar combustível.
Na Cidade do México, vários grupos de inconformados se manifestaram dentro das instalações de metrô e deram passe-livre para os usuários, evitando o pagamento de cinco pesos (25 centavos de dólar) por pessoa.
Durante os primeiros quatro dias de 2017, dezenas de estradas em mais de 30 estados do México foram bloqueadas em forma de protesto, segundo informou a Polícia Federal.
Os manifestantes exigiram que Enrique Peña Nieto voltasse atrás em relação ao aumento da gasolina, mas em uma mensagem transmitida nesta quarta-feira, o presidente disse que o aumento irá continuar.
"Compreendo a irritação e a raiva, pois compartilho dessa raiva. Mas deixem-me dizer-lhes que esta é uma medida que ninguém queria tomar. Não é uma decisão fácil.
Não é o desejo do Presidente da República prejudicar ninguém", disse Peña Nieto, acrescentando que o aumento dos preços da gasolina não é resultado da reforma energética, mas do encarecimento dos preços dos combustíveis em nível internacional.
A situação do petróleo no México
A Pemex é a empresa petroleira do México, e de seus lucros são obtidos recursos para manter a economia mexicana segura. Portanto, quando a gasolina aumenta de preço, muitos produtos de consumo básico tornam-se mais caros, o que imediatamente gera um impacto nos bolsos dos cidadãos.
Antes do aumento do custo da gasolina, em pelo menos 15 estados do México, havia escassez de combustível, situação que gerou pânico em algumas regiões do país.
Em entrevista à Univision Notícias, Silvia Ramos Luna, secretária de Estudo e Análise Petroleira da União Nacional dos Técnicos e Profissionais Petroleiros, que também trabalhou como inspetora de segurança da Pemex, explicou que o sistema de refino no México se encontra em uma "grave crise" provocada pelo próprio Estado mexicano, pois há mais de 15 anos não há a manutenção necessária nos edifícios, além de que a tecnologia utilizada não é compatível com o tipo de petróleo bruto que é extraído.
A especialista fez um relatório no qual explica que o Estado mexicano tomou medidas para afetar a Pemex e, com isto, poder materializar políticas da temática energética que permitissem o investimento estrangeiro, com o argumento de "salvar" a petroleira.
"A crise na refinaria nos levou à escassez, e este é apenas o começo, pois piorará porque os oleodutos e os terminais de abastecimento estão sendo licitados. Durante 80 anos de expropriação do petróleo, a Pemex nunca deixou o país sem gasolina. Sempre houve abundância. Agora que existem novos concorrentes é que surge essa situação", disse Silvia Ramos Lua.
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Protestos e saqueios no México: o que é o 'gasolinaço' e como ele afeta o México? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU