07 Dezembro 2016
“Precisaríamos de mais de três planetas se todas as pessoas vivessem como nós na Suécia.” Na era do ecumenismo, os cristãos encontram um campo de encontro: a defesa do ambiente e a abolição da energia nuclear. Um caminho green que não deixa de unir e dividir, também dentro da Igreja.
O comentário é de Simone M. Varisco, publicado no blog Caffè Storia, 02-12-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Concluiu-se no dia 20 de novembro passado a Semana Global das Igrejas da Suécia pela Justiça, centrada neste ano no ambiente e nos direitos humanos à luz das mudanças climáticas. Um compromisso ecumênico anual, introduzido na sua forma atual em 2003 e celebrado todos os anos na semana que antecede a solenidade de Cristo Rei, que, desde 2013, assumiu o claro significado de uma missão green, porque “Deus quer uma terra onde haja justiça, paz e sustentabilidade”, como escreviam naquele ano as Igrejas suecas no documento comum “Proteger a terra que Deus ama”.
“Pedimos a Deus, pela força do Cristo ressuscitado, que nos fortalecer na luta.” Um combate que, no campo católico, identificou o seu inimigo na energia nuclear.
Desde o fim de outubro, multiplicam-se as ações contra a energia nuclear, que viram na vanguarda a Igreja Católica no Japão. Remonta ao dia 31 de outubro passado um documento de 290 páginas intitulado “Abolição da energia nuclear: um apelo da Igreja Católica no Japão”, preparado por uma comissão da Conferência Episcopal Japonesa, liderada pelo jesuíta Ichiro Mitsunobu.
No longo documento, encontram espaço a história atômica do Japão, incluindo os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, e o desastre de Fukushima, assim como os danos causados pelos testes nucleares no Atol de Bikini, os problemas técnicos e científicos relacionados com as usinas nucleares e a questão da energia atômica considerada do ponto de vista do magistério ético da Igreja Católica.
Com a memória da tragédia de Fukushima ainda viva na memória, a Igreja no Japão pede para “abolir imediatamente as usinas nucleares” no país, recordando a solidariedade entre as Igrejas e as religiões, para que se unam na luta comum contra a energia nuclear.
Uma posição próxima à que foi expressada pelo ex-primeiro-ministro japonês Naoto Kan, que estava no cargo no momento do desastre de Fukushima. “Muitas pessoas compararam Fukushima com Chernobyl. De fato, o incidente de Fukushima foi muito pior. Em Chernobyl, apenas um reator nuclear estava envolvido; em Fukushima, nada menos do que dez”, explicou Kan, refazendo as fases do desastre para a revista Zoom Giappone.
“Dentro de mim ocorreu uma inversão de 180 graus e eu cheguei à conclusão de que o Japão devia se livrar das usinas nucleares. Infelizmente, o governo Abe, em vez de valorizar a lição aprendida a um preço tão elevado em Fukushima, nada mais fez do que voltar ao velho mantra do átomo amigo.”
Um posicionamento duro contra o establishment político que também é comum à Igreja Católica nas Filipinas. “Estamos tristes e desapontados”, declarou Dom Ruperto Cruz Santos, bispo de Balanga, diante do anúncio de Alfonso Cusi, ministro da Energia do governo liderado por Rodrigo Duterte, que, no dia 10 de novembro passado, disse que não descarta um futuro nuclear para as Filipinas.
A atenção naturalmente se centrou na usina nuclear de Morong, na região de Bataan, uma instalação construída nos anos 1970, a cerca de 100 quilômetros da capital, Manila, e desejada pelo então ditador Ferdinand Marcos, em resposta à crise do petróleo de 1973, que ainda não entrou em funcionamento.
“A nossa posição não mudou”, explicou Dom Santos, de acordo com o qual a usina “é perigosa e cheia de ameaças à saúde pública. Vai trazer morte e destruição. Devemos lembrar que a usina foi construída em uma área onde se encontra um vulcão ativo.” Apenas alguns dias antes, o presidente Duterte havia negado a vontade de se confiar à energia nuclear para suprir as necessidades energéticas do país, recebendo o aplauso – para ele inédito – da Igreja Católica nas Filipinas.
A frente católica, que desde o ano passado também pode contar com o ativismo do Global Catholic Climate Movement, tem na encíclica Laudato si’, do Papa Francisco, um inquestionável ponto de referência. Justamente em torno do documento, porém, as opiniões se dividem. Campo de contraposição, desde sempre, são os Estados Unidos. Se, até alguns meses atrás, alguns estudos revelavam um aumento da consciência ambientalista nos católicos estadunidenses depois da publicação da Laudato si’, apenas poucas semanas atrás, havia quem se interrogasse sobre a eficácia do documento pontifício, não só incapaz de criar uma mudança real de pensamento nos católicos, mas também causa de uma imprevista radicalização das divisões.
Em particular, a Laudato si’ parece ter ganhado mais apoio entre os católicos democratas, já tradicionalmente mais sensíveis ao problema ambiental, empurrando muitos católicos conservadores, ao contrário, a sê-lo ainda menos depois da leitura da encíclica.
“Enquanto o apelo ambientalista do Papa Francisco pode ter aumentado a preocupação com as mudanças climáticas em alguns indivíduos, ela se revelou contraproducentes com os católicos conservadores e os não católicos, que não só resistiram à mensagem, mas também defenderam as suas convicções preexistentes, desvalorizando a credibilidade do papa sobre as mudanças climáticas”, disse Nan Li, professor da Texas Tech University e principal autor do estudo publicado pelo Annenberg Public Policy Center da Universidade da Pensilvânia.
Na realidade, embora o estudo só tenha virado notícia agora, ele coleta dados que remontam a mais de um ano e parece que, desde então, o clima – também para o agrado da encíclica de Francisco – mudou. Tudo mérito da visita do pontífice aos Estados Unidos em setembro de 2015, que chamou a atenção também para a parte ambientalista do seu magistério.
De acordo com um estudo divulgado pelo Yale Program on Climate Change Communication, o “efeito Francisco” teria valido um aumento de pelo menos 10% de católicos estadunidenses convictos da realidade das mudanças climáticas em curso, que teriam passado de 64% em março de 2015 para 74 % de outubro do mesmo ano. Também foi significativo o aumento dos católicos que consideram o aquecimento do planeta como um problema moral, que subiram de 32% em março para 42% em outubro.
Uma mudança de grande importância, exatamente enquanto o ambiente desempenha um papel cada vez mais importante nas relações internacionais. É verdade, em nível político, que o presidente eleito Donald Trump, depois de declarar na campanha eleitoral a intenção de fazer com que os Estados Unidos saiam do Acordo sobre o Clima de Paris, nos últimos dias, mostrou-se mais cauteloso. Justamente nos Estados Unidos, o clima entrou fortemente também na agenda da Conferência Episcopal Estadunidense, que anunciou que quer sensibilizar os sacerdotes sobre a aplicação da Laudato si’ nas respectivas paróquias, passando também por uma redução das emissões e do consumo de energia de paróquias e escolas católicas.
Dentro e fora da Igreja, o clima aproxima e divide. Se parece cada vez menos secundário o peso que as questões ambientais vão assumindo no diálogo ecumênico e inter-religioso, como demonstrou o recente evento sueco, elas também constituem uma ponte privilegiada com o mundo da ciência, como aconteceu na semana passada na assembleia plenária da Pontifícia Academia das Ciências, em que Francisco recordou a necessidade de criar “um sistema normativo que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas do paradigma tecnoeconômico produzam danos irreversíveis não só ao ambiente, mas também à convivência, à democracia, à justiça e à liberdade”.
Justamente o clima é um dos aspectos em torno dos quais se agregam consensos e oposições ao Papa Francisco, também na Itália. Sabe-se que, várias vezes, o pontífice foi acusado de dar um destaque excessivo às questões ambientais – além de econômicas e sociais – reduzindo o peso de questões mais tradicionalmente morais, como a vida ou o matrimônio.
No confronto sobre as dubia que hoje inflama a Igreja, há um ano da controversa projeção das imagens do projeto “Fiat Lux: iluminemos a nossa casa comum” na fachada da Basílica de São Pedro, parece cada vez mais evidente que os narizes que se torceram na época foram apenas o começo, enquanto, no futuro da Igreja, o green parece ser cada vez menos apenas uma cor litúrgica.
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Suécia, Japão, Filipinas: alarga-se a guerra da Igreja contra a energia nuclear - Instituto Humanitas Unisinos - IHU