01 Novembro 2016
O Papa Francisco, o presidente da Federação Luterana Mundial (FLM), bispo Munib A. Younan, e o secretário-geral da FLM, o Rev. Martin Junge, presidiram nessa segunda-feira um evento em que a Igreja Católica e a FLM declararam um compromisso a se afastarem do conflito, caminharem rumo à comunhão e fortalecerem o testemunho comum. O histórico encontro na Suécia é a primeira comemoração católico-luterana conjunta de um aniversário da Reforma em nível global.
A reportagem é do sítio da Federação Luterana Mundial (FLM), 31-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O chefe da Igreja Católica em todo o mundo e dirigentes da FLM coorganizaram a Comemoração Conjunta Católico-Luterana da Reforma, que consistiu em uma Oração Comum na Catedral de Lund, com a participação de 500 pessoas e um público esperado de cerca de 10.000 pessoas na Arena de Malmö, acompanhado por pessoas de todo o mundo via transmissões ao vivo e pela internet.
O Rei Karl XVI Gustav, a Rainha Silvia e o primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, e outras autoridades do governo se juntaram aos líderes das Comunhões Cristãs Mundiais e das organizações ligadas às Igrejas de todo o mundo no serviço litúrgico, em que o Papa Francisco e o secretário-geral, Junge, proferiram seus sermões em espanhol.
O Papa Francisco disse aos fiéis que, "no contexto da comemoração comum da Reforma de 1517, temos uma nova oportunidade para acolher um caminho comum, que foi se formando durante os últimos 50 anos no diálogo ecumênico entre a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica".
Em seu sermão, Junge enfatizou que tanto os luteranos quanto os católicos têm "muito mais que nos une do que aquilo que nos separa. Nós somos ramos da mesma videira. Somos um no batismo. É por isto que estamos aqui nesta comemoração conjunta: para redescobrir quem somos em Cristo".
Um dos destaques do serviço foi a assinatura de uma Declaração Conjunta pelo Papa Francisco e pelo presidente Younan. O documento expressa a gratidão a Deus pelo diálogo ecumênico contínuo e fecundo entre católicos e luteranos, em que a compreensão e a confiança mútuas se aprofundaram. O documento afirma que ambos os interlocutores "já não são mais estranhos", tendo se aproximado através do diálogo e do testemunho comum.
Na declaração conjunta, católicos e luteranos expressam gratidão pelos "dons espirituais e teológicos recebidos mediante a Reforma". Eles confessam e lamentam o fato de terem ferido a unidade visível da Igreja por causa do preconceito e de conflitos que acompanharam as suas diferenças teológicas e foram instrumentalizadas para fins políticos.
A declaração rejeita enfaticamente "todo ódio e violência, passada e presente, especialmente aquela expressada em nome da religião".
A fé e o batismo em Cristo, afirmam, "pedem de nós uma conversão diária, pela qual deixamos de lado as divergências e os conflitos históricos que impedem o ministério da reconciliação". Eles reconhecem que, "embora o passado não possa ser mudado, aquilo que é lembrado e o modo como é lembrado podem ser transformados".
O documento afirma a oração dos católicos e luteranos pela cura das feridas e memórias "que obscurecem a nossa visão um do outro", acrescentando: "Reconhecemos que fomos libertados pela graça para avançar para a comunhão à qual Deus nos chama continuamente".
A declaração destaca a responsabilidade comum para com as pessoas que anseiam por dignidade, justiça, paz e reconciliação, e insta católicos e luteranos a "trabalharem juntos para acolher o estrangeiro" e a defenderem os direitos dos refugiados e daqueles que procuram asilo.
As duas comunhões expressam a sua responsabilidade conjunta pela criação de Deus, "que sofre exploração e os efeitos da ganância insaciável". Elas rezam por uma mudança dos corações e das mentes que leve a "uma forma amorosa e responsável de cuidar da criação" e salvaguardar o direito das gerações futuras de desfrutar "todo o seu potencial e beleza".
A declaração reconhece a responsabilidade pastoral conjunta de católicos e luteranos para "responder à sede e à fome espirituais" de muitos dos seus membros "que anseiam para receber a Eucaristia em uma única mesa, como a expressão concreta da unidade plena". Ela expressa um anseio "para que essa ferida no Corpo de Cristo seja curada", recordando que esse é "o objetivo dos nossos esforços ecumênicos".
A declaração conjunta conclui com um encorajamento, exortando todas as paróquias e comunidades luteranas e católicas "a serem ousadas e criativas, alegres e esperançosas no seu compromisso de continuar a grande viagem à nossa frente. (…) Que o dom da unidade de Deus entre nós oriente a cooperação e aprofunde a nossa solidariedade".
Nas atividades realizadas na Arena de Malmö sob o tema "Juntos na esperança", a diretora do Serviço Mundial Luterano da FLM, Maria Immonen, e o secretário-geral da Caritas Internationalis, Michel Roy, assinaram uma Declaração de Intenções comprometendo mutuamente as organizações cristãs globais a aprofundarem suas relações e a uma cooperação mais estreita na resposta humanitária e no desenvolvimento sustentável.
O estádio foi palco de artistas e de testemunhos de luteranos e católicos defensores da justiça social e das questões climáticas do Burundi, Colômbia, Índia, Sudão do Sul e Síria. O Papa Francisco e o presidente da FLM, Munib Younan, ofereceram respostas aos seus testemunhos.
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Luteranos e católicos: o dom da unidade de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU