11 Outubro 2016
Em artigo por ocasião de seus 85 anos, arcebispo Desmond Tutu disse que não deseja "continuar vivo a qualquer custo"
"Pessoas que estão morrendo devem ter o direito de escolher quando e como vão deixar a Mãe Terra."
A afirmação foi escrita pelo arcebispo sul-africano Desmond Tutu em um artigo para o jornal Washington Post nesta semana, por ocasião de seu aniversário de 85 anos.
A reportagem foi publicada por BBC Brasil, 10-10-2016.
Símbolo da luta contra o Apartheid e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1984, Tutu disse que ele "não deseja continuar vivo a qualquer custo".
Ele já havia defendido o "direito de morrer" em 2014, mas sem especificar que ele próprio gostaria de ter essa escolha.
O arcebispo foi hospitalizado no mês passado por conta de uma infecção recorrente e precisou ser operado. Ele trata há 20 anos um câncer de próstata.
"Espero ser tratado com compaixão e que me permitam passar para a próxima fase dessa jornada da vida da maneira que eu escolher", escreveu o arcebispo.
"Independentemente da sua própria escolha, por que negar a outros o direito de tomar sua própria decisão?"
"Para os que estão sofrendo e chegando ao fim de suas vidas, apenas saber que há a opção de uma morte assistida já é um grande conforto."
Na África do Sul, onde ele vive, não há uma legislação sobre morte assistida. Mas no ano passado, uma corte do país concedeu a um homem que sofria de uma doença terminal o direito de morrer, reacendendo pedidos para que haja leis mais específicas sobre o tema.
"Já houve avanços promissores em lugares como a Califórnia e o Canadá, onde as leis agora permitem a morte assistida para pacientes com doenças terminais, mas ainda há dezenas de milhares de pessoas morrendo ao redor do mundo às quais está sendo negado o direito de morrer com dignidade", afirmou Tutu.
A Igreja Anglicana, da qual ele faz parte, é totalmente contra a morte assistida.
Mas essa não é a primeira vez que o arcebispo se declara contra uma posição da igreja.
O arcebispo defende abertamente os direitos dos homossexuais e já criticou a atitude de cristãos conservadores contra os gays.
"Eu me recuso a ir para o céu dos homofóbicos", disse ele em 2013. "Eu não vou louvar um Deus que é homofóbico e isso mostra como esse assunto é importante para mim."
No início de 2016, ele abençoou o casamento de sua filha Mpho com sua companheira, apesar de as regras da Igreja Anglicana na África do Sul dizerem que "o matrimônio sagrado vem da união exclusiva entre um homem e uma mulher".
Em meados dos anos 90, quando era arcebispo da Cidade do Cabo, ele também provocou polêmica ao apoiar medidas que tornavam o aborto mais acessível no país.
Há uma diferença entre o desejo de Tutu e a eutanásia. Na morte (ou suicídio) assistida(o), o paciente conta apenas com o auxílio de uma outra pessoa para conseguir morrer. É o próprio paciente que pratica o ato que o leva à morte.
Já na eutanásia ativa, uma pessoa atende ao pedido de um paciente em estado terminal, seguindo uma série de quesitos para provocar a sua morte.
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Por que o arcebispo Desmond Tutu luta pelo "direito de morrer" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU