19 Agosto 2016
A campanha política para a realização do plebiscito pela paz começou com advertências lançadas pelo governo de Juan Manuel Santos, de que um Não no plebiscito vinculante enterraria o processo. O chefe da equipe negociadora que representa o Executivo em diálogo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Humberto de la Calle, afirmou que seria equivocado voltar a discutir o acordo, segundo o resultado do plebiscito. “Pensar que é possível renegociar alguns pontos seria um tremendo erro. Esse é meu convencimento. A sociedade colombiana ganharia muito pouco. Resistir a dar o passo hoje, no dia do plebiscito, é condenar o país a um período de incerteza”, sustentou De la Calle.
A reportagem é publicada por Página/12, 17-08-2016. A tradução é do Cepat.
“Seria uma volta ao passado. Não quero imaginar a enorme decepção nacional. Viria um sentimento de impotência, de calamidade, de pessimismo que afetaria o desenvolvimento de nossa nação. Passado o exercício eleitoral, nos sentiríamos presos ao passado”, vaticinou o funcionário.
Antes de viajar a Havana para participar de uma nova roda de diálogo, o funcionário destacou que após uma experiência de quase quatro anos, não há espaço para reabrir as negociações. “É minha opinião. Acredito que no plebiscito já devemos tomar uma decisão”, disse sobre a consulta que será realizada em uma data ainda não definida para que os colombianos manifestem se apoiam ou não o que for acordado com a guerrilha em Cuba.
O presidente Juan Manuel Santos havia destacado que um eventual triunfo do Não significaria o fracasso do processo de paz com as FARC, pois o resultado do plebiscito é vinculante. De la Calle concordou com Santos e afirmou que aqueles que acreditam que votando pelo não obrigariam à reabertura das negociações, estão equivocados. O chefe da equipe negociadora fez a declaração no palácio do Governo, em Bogotá, antes de partir para Havana para outro ciclo de conversas entre o Governo e a guerrilha colombiana, que discutem os últimos pontos do processo de paz.
O chefe da delegação do Governo afirmou que Santos lhes disse que o diálogo deve ser acelerado para assinar o acordo de paz o mais rápido possível. Segundo De la Calle, as partes se dedicarão, nos próximos dias, a continuar discutindo os pontos que restam para terminar, entre eles, os detalhes da participação na política dos guerrilheiros que se desmobilizarem e a forma como se reincorporarão à sociedade civil. Para cumprir com esse assunto, o representante do Governo afirmou que junto com a equipe negociadora em Havana se somarão o ministro do Interior, Juan Fernando Cristo, o alto conselheiro presidencial para o pós-conflito, Rafael Pardo, e o diretor da Agência para a Reintegração, Joshua Mitrotti.
Além disso, disse que a ministra de Relações Exteriores, María Angela Holguín, que intervém como negociadora há vários meses, terá uma presença mais permanente nos diálogos que acontecem na capital cubana. O Governo de Santos e as FARC negociam desde novembro de 2012 em Cuba, onde puderam consensuar e chegaram a acordos sobre o desenvolvimento agrário, a participação em política dos guerrilheiros desmobilizados, o combate às drogas, a atenção às vítimas do conflito e um sistema de justiça transicional, entre outras questões.
No dia 23 de junho se assinou um acordo importantíssimo, mediante o qual os setores em disputa se comprometeram a acabar com o conflito armado, que começou em 1964 e que mantém as FARC como a organização guerrilheira mais antiga da América Latina. Esse acordo obriga as duas partes a respeitar o cessar-fogo definitivo e o abandono das armas.
Nesse sentido, no domingo passado, foram concluídas as visitas técnicas, lideradas por uma missão de verificação que é integrada por membros das Nações Unidas, das Forças Militares e das FARC, aos 31 lugares da Colômbia nos quais se concentrarão os 8.000 membros das FARC, em 31 regiões específicas da Colômbia, antes do abandono de armas e a posterior desmobilização. As FARC já advertiram que a concentração de seus membros nos acampamentos especiais e a deposição de suas armas dependerão do resultado do plebiscito.
Além disso, na sexta-feira passada, foi anunciado o mecanismo para escolher os magistrados que integrarão o Tribunal Especial para a Paz, corte que será encarregada de conhecer, investigar e julgar os crimes vinculados ao conflito armado.
Após a assinatura do acordo final, cuja data ainda não se fixou, os colombianos serão convocados para participar de um plebiscito onde devem referendar ou rejeitar o texto do convênio, muito provavelmente antes que termine o ano. A coalizão governante de centro-direita pede aos colombianos que respaldem os acordos, com o apoio da oposição de esquerda e movimentos independentes, ao passo que o partido de direita radical Centro Democrático, que é dirigido pelo ex-presidente Álvaro Uribe, faz campanha para votar pelo não.
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Começa a campanha do plebiscito pela paz na Colômbia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU