29 Julho 2016
"A oração, a fraternidade e o diálogo são as únicas armas que a Igreja Católica tem para responder à violência. Não nos abaixemos e não militarizemos as igrejas. Não faz sentido." Dom Dominique Lebrun, bispo de Rouen e primaz da Normandia, fala com o jornal La Repubblica, enquanto, no meio da tarde, chega de carro à estação ferroviária: espera-o um trem para Paris, com destino à missa da "unidade religiosa" para Notre-Dame.
A reportagem é de Paolo Berizzi, publicada no jornal La Repubblica, 28-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"É a mensagem da fraternidade, neste momento, que importa." Na terça-feira, quando os "soldados do IS" degolaram o padre Jacques na igreja normanda de Saint-Étienne-de-Rouvray, o bispo tinha acabado de chegar em Cracóvia para a Jornada Mundial da Juventude. Ao saber da notícia, deixou o encontro e voltou imediatamente para a França.
Eis a entrevista.
Como se reage à barbárie?
Há quem clame a Deus e quer entender e não consegue. A outra forma é se reconhecer irmãos – irmãos como pessoas, não animais. E se tornar apóstolos da civilização do amor. É isso que eu peço aos jovens, os de todo o mundo que rezam nestes dias em Cracóvia. Aqueles que acompanharam, como todos nós, o horror de Saint-Ètienne-de-Rouvray e ainda custam a acreditar que tal coisa possa ter acontecido.
Os dois agressores também eram muito jovens.
A nossa tarefa é fazer todos os esforços para converter esses violentos à misericórdia, com mais razão ainda se não estiverem em idade avançada. Devemos fazer isso através do diálogo, tentando superar a concepção um pouco superficial que, às vezes, temos dele.
Às vezes, prevalece o medo, e o diálogo se interrompe. Agora, as pessoas têm medo. Até mesmo de entrar na igreja.
Eu também tenho medo. É justo tê-lo. Jesus diz "não tenham medo". Na realidade, ele pretende dizer: "Tenham a coragem de ter medo". Ele mesmo teve medo antes de subir na cruz, suou sangue. Mas, ao mesmo tempo, não devemos nos deixar parar. Vamos além dos nossos temores, antes que eles alcancem um nível que nos bloqueie nas nossas ações e gestos cotidianos: encontrar as outras pessoas, rezar em uma igreja, compartilhar o amor é a fraternidade.
O senhor concorda com a proposta de reforçar a segurança nas igrejas?
Somos gratos ao Estado pelo que ele está fazendo, mas militarizar os locais de culto, para mim, não faz sentido Nós, bispos cristãos, não pedimos isso. E, depois, digamo-lo: além de ser tecnicamente difícil – como fazer para colocar os policiais todas as terças-feiras nas dezenas de milhares de igrejas francesas onde se celebra a missa? – não podemos transformar catedrais e basílicas em cofres. A Igreja é um lugar aberto, que acolhe: o é por definição. Não pode se tornar um bunker. Por motivo algum. Devemos trabalhar em outro campo. Devemos seguir a estrada mestra: a oração e o amor entre os povos, entre as religiões, entre as civilizações.
Qual é o significado da missa na Catedral de Notre Dame no dia seguinte à bárbara execução do padre Jacques?
Celebrar uma missa no lugar-símbolo da Igreja francesa, instituições, Estado e Igreja juntos. Todos os representantes das mais importantes religiões sob o mesmo teto, unidos, compactos, lado a lado para dizer "não" àqueles que querem dividir e desagregar com a violência. Essa é a melhor resposta que podemos dar ao sangue e às armas. O padre Jacques também tinha pedido isto: unam-se, escutem-se, superem todas as barreiras. Esse era o seu ensinamento: honremo-lo.
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"É justo ter medo, mas a resposta deve ser o diálogo e a oração, e não igrejas militarizadas." Entrevista com Dominique Lebrun, bispo de Rouen - Instituto Humanitas Unisinos - IHU