28 Julho 2016
Um padre capturado no altar e assassinado: é realmente uma guerra religiosa? Franco Cardini é historiador, a sua matéria são as Cruzadas. Mas um conflito que opõe o Califado ao Ocidente não é: "Esta – diz Cardini – é uma guerra ideológica moderna".
A reportagem é de Roberto Zunini, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 27-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O Isis fala de "a guerra contra os cruzados cristãos". No Ocidente, somente algumas direitas ou alguns fundamentalismos aceitavam essa linguagem. Estão aumentando?
A "Internacional" dos imbecis é ampla: a Guerra Santa é imaginária, não tem nada a ver com as Cruzadas históricas nem com a jihad. Poderia ter uma relação com as guerras descritas por Saint-Just no discurso para a Convenção de 1793, "as guerras do povo devem ser cruéis e totais", ou com os furores bélicos que animavam os cristeros no México, ou falangistas e anarquistas na guerra da Espanha...
Mas, desta vez, quem foi atacado foi um padre na igreja: algo muda?
Matar um padre enquanto ele celebra é uma declaração de guerra, não uma declaração islâmica. Precedentes históricos existem, e não é preciso voltar às Cruzadas: São Thomas Beckett foi morto no altar por sicários do seu rei; os assassinos do regime em El Salvador pegaram Dom Romero na sua igreja. Houve mortes de muçulmanos nas mesquitas em Jerusalém e mortes de cristãos por parte de muçulmanos em Otranto, em 1480... Mas assim, a frio, esses dois, armados apenas com uma arma branca, fizeram uma paródia blasfema do ato de Abraão. Uma coisa horrível, mas que não tem nada de cristão ou de muçulmano: é um ato de loucura política.
Mas não é diferente matar alguém no Bataclan ou em uma igreja?
Sim, mas é um ato de guerra também religiosa somente na sua mentalidade. Na realidade, são assassinatos infames, ponto.
E a resposta da França? Agora, o ex-presidente Sarkozy pede uma "resposta impiedosa". E é a direita gaullista, não a lepenista...
Isso significa que vão atacar o califa no coração do seu poder, em Mosul? Precisamos nos preocupar com o fato de que um homem como Sarkozy tenha sido presidente, e da França, não de San Marino. Até hoje, a França matou impiedosamente centenas de mulheres e crianças que não tinham nada a ver, depois que Hollande ordenou os bombardeios na Síria.
Bombardear é uma coisa. Mas como impedir que alguém que está sob prisão domiciliar circule por aí com uma faca?
Esta seria uma resposta rigorosa, não impiedosa: eu não acho que Sarkozy quer entrar na mesquita de Paris e atirar contra os fiéis, ou fazer blitzes indiscriminadas nas banlieue. Seria justamente o que o califa quer de nós: reações insanas. Até mesmo os militares não diriam "resposta impiedosa". Resposta rigorosa, sim, mas dentro do Estado de direito. Apertar os controles, sim, mas civil e legalmente. E isso requer um compromisso sério.
A Europa tem os recursos para enfrentar esses ataques sem sofrer uma modificação genética?
Historicamente, essas ameaças muitas vezes despertam o senso cívico. É necessária uma resposta séria e compacta de todo o povo francês, das instituições aos seus cidadãos, que deve passar, em primeira linha, pelos cidadãos muçulmanos. O califa quer que nós isolemos os muçulmanos, que os nossos jovens batam nos jovens muçulmanos na escola. É isso que é preciso evitar. A linguagem da resposta impiedosa serve apenas para agradar um pouco ao subproletariado que está no bar e diz: "Eu iria lá e mataria todos". Depois, você lhe pergunta: "Lá onde?", e ele não sabe responder.
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"Não é uma cruzada. É uma guerra moderna e totalmente ideológica." Entrevista com Franco Cardini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU