13 Mai 2016
Ok, para que fique claro desde já: há muito acreditei que as mulheres deveriam ser plenamente iguais aos homens em todos os cargos da Igreja, elegíveis para servir como sacerdotes, bispos, cardeais e até mesmo como papa. E penso que o “raciocínio” (se é que podemos chamar assim) na Declaração sobre a Questão da Admissão das Mulheres ao Sacerdócio Ministerial (documento de 1976 que se colocou contra a ideia de mulheres ordenadas ao sacerdócio baseado em que dificilmente se veria nelas a imagem de Jesus) não faz o menor sentido. Quando expresso a minha opinião a amigos, normalmente ouço algo do tipo: “Sim, concordo, mas talvez no quarto milênio o Vaticano pense em mudar isso”.
O comentário é de Maureen Fiedler, publicado por National Catholic Reporter, 12-05-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Assim, fui surpreendida (“atordoada” seria a palavra correta) positivamente hoje ao ouvir que o Papa Francisco abriu uma brecha para as mulheres na Igreja. Na verdade, vou longe a ponto de dizer que é uma “importante abertura no gelo” o que ocorreu no Vaticano. O Papa Francisco, graças a uma insistência feita pela União Internacional das Superioras Gerais – UISG, disse que nomeará uma comissão para estudar a ideia de as mulheres servirem com diaconisas na Igreja.
Francamente, eu não achava que um passo desses, tão pequeno e cauteloso como possa ser, iria acontecer enquanto eu ainda estivesse viva. Até mesmo Francisco – apesar de todas as grandes coisas que tem feito pela paz e justiça – estava ignorando a questão feminina na Igreja até o presente momento. Agora, parece que ele ouviu alguma voz das Alturas (mediada pelas irmãs da UISG, é claro). Seja o que for, ele finalmente está fazendo algo num setor em que a Igreja está lamentavelmente longe de fazer justiça.
Ok, é apenas uma comissão, um estudo. Não sabemos quando ela será criada ou quem irá compô-la. Desconhecemos o escopo de suas possibilidades. Mesmo assim, a sua composição precisa, definitivamente, incluir uma maioria feminina – especialmente aquelas que já estudaram o tema. Para começar, a Women’s Ordination Conference sugeriu estes nomes: Gary Macy, Dorothy Irving, Ida Raming, a Irmã Christine Schenk, John Wijngaards e Phyllis Zagano. (A Women’s Ordination Conference é uma rede internacional de organizações que defendem a ordenação de mulheres ao sacerdócio e ao episcopado na Igreja Católica.)
Evidentemente, este estudo precisa ser posto em perspectiva. A ideia de diaconisas não é novidade. Não é preciso um novo estudo para saber que existiram diaconisas nos primeiros séculos da Igreja, mulheres como Febe, que são até mesmo mencionadas nos escritos de São Paulo. O papel delas pode não estar totalmente claro, mas com certeza realizaram algum tipo de trabalho religioso.
É igualmente importante recordar que nem todos os diáconos na Igreja, hoje, são “iguais consagrados”. Homens que estudam para o sacerdócio passam por um período diaconal, que é a “ordem sagrada” que conduz ao sacerdócio. Homens casados, por outro lado, podem se tornar diáconos permanentes, sem o caminho para o sacerdócio.
A aposta que faço é esta: a comissão para diaconisas irá se centrar na segunda possibilidade [diaconato permanente, sem o caminho para o sacerdócio], muito embora deveria analisar as duas possibilidades. Além disso, tenho certeza de que existem conservadores no Vaticano que estão horrorizados até mesmo com este simples movimento. Eles irão se certificar de que Francisco fique sabendo suas opiniões.
De qualquer forma, a abertura permanece: uma comissão papal para estudar a ideia de diaconisas. Quem poderia ter previsto? Alguém tem um maçarico aí? Agora só precisamos derreter o resto do gelo!
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Uma importante abertura no gelo: estudando a possibilidade de diaconisas na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU