13 Abril 2016
Quando vi a notícia de que o Vaticano estaria convidando Bernie Sanders para uma visita, logo pensei: “Como? Isso é verdade? Logo agora? No meio de eleições primárias acirradas? É isso mesmo?” Depois descobri que era a Pontifícia Academia de Ciências Sociais quem havia emitido o convite, e não o Papa Francisco pessoalmente. Mas mesmo isso já dá a Bernie motivos para se vangloriar em uma eleição disputada. E embora nada tenha se confirmado, é difícil ver Bernie visitando o Vaticano sem ter uma conversa com o próprio Papa Francisco: “Luzes! Câmeras! Ação... e propaganda política!”
O comentário é de Maureen Fiedler, publicado por National Catholic Reporter, 12-04-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Havemos de concordar: o Papa Francisco e Bernie Sanders têm muito em comum quanto à visão de mundo, e não só a respeito dos pobres. Ambos os líderes defendem uma restruturação econômica que afaste o poder econômico dos poderosos indo em direção aos que se encontram na base da estrutura social. Nesse nível, tenho certeza de que teriam um diálogo proveitoso, comparando observações econômicas e provavelmente relatando os muitos ensinamentos sobre a justiça social que o judaísmo e o cristianismo têm em comum. (Sanders é, evidentemente, judeu, embora, segundo ele próprio, seja um judeu laico.)
Mas, apesar de tudo isso, eu preciso perguntar: Por que agora? Certo estou de que o Vaticano sabe que estamos em meio a uma campanha primária presidencial contenciosa nos EUA e, francamente, o convite a Bernie sugere um favoritismo político que não cai bem.
Além disso, Hillary Clinton não fica muito longe no tocante às ideias econômicas a que o Papa Francisco frequentemente faz referências. Realmente, ela não se encontra tão à esquerda nesses assuntos quanto Bernie Sanders, porém ela considera-se uma “metodista da justiça social” e há tempos vem manifestando uma preocupação pelos marginalizados economicamente, em especial junto às mulheres e crianças. E ela compreende tudo isso a partir de uma perspectiva bíblica. Em suma, Hillary compartilha grande parte das análises de Francisco e Bernie sobre a pobreza estrutural geral, mesmo se as suas soluções difiram levemente das de Bernie.
No momento, vivemos a época das eleições primárias e, segundo mostram os números, a corrida do Partido Democrata está muito mais acirrada do que a maioria dos analistas poderia imaginar.
No entanto, a decisão final aqui cabe aos eleitores democratas, não ao Vaticano. Quaisquer que sejam as intenções da Pontifícia Academia de Ciências Sociais – e este poderia simplesmente ser uma conversa sobre questões econômicas –, o convite será visto como um “convite do Vaticano”, talvez mesmo um convite do Papa Francisco, ao candidato Bernie Sanders, e não um convite à candidata Hillary Clinton. Em uma palavra: esta iniciativa levanta dúvidas sobre um favoritismo político.
E é aqui onde a Pontifícia Academia de Ciências Sociais deveria ter consultado os bispos americanos, pessoas que conhecem o nosso cenário político. E os bispos americanos (caso soubessem que o convite estaria a ser feito) deveriam ter aconselhado o Vaticano a não fazê-lo.
Seja qual for o caso, não é sensato que o Vaticano adentre no meio desta corrida, mesmo se tudo o que eles querem é ter uma conversa sobre economia com Bernie Sanders. Isso pode esperar. O Vaticano deveria adiar um tal diálogo com Sanders.
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O convite do Vaticano a Bernie Sanders: favoritismo político? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU