Por: André | 21 Outubro 2015
Os bispos africanos estão “otimistas” em relação ao resultado do Sínodo sobre a Família, segundo indicou o cardeal Wilfrid Fox Napier, de Durban (África do Sul), durante a entrevista coletiva diária sobre a assembleia sinodal. Disse que tinha a impressão de que o Sínodo extraordinário do ano passado seguia “uma certa direção, uma particular ideologia ou agenda”, mas expressou satisfação e confiança em relação ao Sínodo que termina no próximo fim de semana.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 20-10-2015. A tradução é de André Langer.
Napier destacou, além disso, que a carta com observações que 13 cardeais dirigiram ao Papa recebeu uma resposta satisfatória por parte do próprio Pontífice. O cardeal africano reivindicou relativa autonomia do episcopado africano sobre um tema específico: a pastoral relacionada ao casamento em etapas. Satisfação unânime dos padres sinodais que intervieram nesta terça-feira na entrevista coletiva com a reforma da nulidade matrimonial realizada por Francisco.
“Os bispos africanos estão no Sínodo com um senso de otimismo, pela bondade de Deus, mas também pelo testemunho do Papa Francisco e pela maneira como dirige a Igreja, um otimismo que também outros compartilham”, indicou Napier. “Nós, bispos africanos, queremos expressar apreço por todos os milhões de pessoas que rezam pelo êxito do Sínodo e que nos ajudam inclusive nos momentos difíceis durante o Sínodo”, prosseguiu o cardeal franciscano, que afirmou que “o novo método do Sínodo é de grande ajuda, porque deixa muito tempo para refletir nos grupos linguísticos, confrontar-se entre pessoas de diferentes partes do mundo, além dos ouvidores leigos e dos delegados fraternos”.
De acordo com Napier, o Sínodo dará “grande ímpeto às Igrejas locais, de maneira que possa haver cada vez mais casamentos bons, mediante a preparação ao matrimônio e o ensinamento claro do que diz a Igreja sobre o matrimônio e a família”. O cardeal sul-africano traçou, além disso, um paralelismo entre o Sínodo e o Conclave de 2013: naquele momento “surgiu claramente a necessidade de uma reforma para a Igreja, começando pelo Vaticano e depois de todas as dioceses: agora esta reforma tem a ver com o que a Igreja faz pelas famílias em nome de uma boa formação, que terá um impacto positivo em toda a sociedade”.
Napier respondeu a um jornalista que lhe perguntava pelo que tinha mudado para que estivesse tão otimista depois que expressou abertamente suas preocupações no Sínodo extraordinário de 2014 e, no começo da assembleia deste ano, ter assinado uma carta, junto com outros 12 cardeais, na qual se pediam esclarecimentos sobre o método sinodal. “No outro Sínodo – disse – alguns temas específicos suscitaram preocupação; um deles foi a publicação da relação intermediária como se fosse uma deliberação do Sínodo, coisa falsa, porque nós mesmos recebemos o documento uma hora depois de vocês, dos meios de comunicação, e aquele documento dizia coisas que foram afirmadas na aula apenas por duas ou três pessoas; tudo aquilo dava a impressão de um Sínodo que ia numa determinada direção. Eu também fazia parte da comissão para a redação do documento final, e parecia que se empurrava para ir numa certa direção, parecia ter uma ideologia ou uma agenda particular”.
Em relação à carta dos 13 cardeais, “que, além disso, era privada”, recordou, foi “escrita no espírito que o Papa Francisco disse quando nos convidou para falar aberta e honestamente, e escutar com humildade. O Papa Francisco respondeu imediatamente, um dia depois de tê-la recebido, e isto fez uma grande diferença, criou confiança, porque foram consideradas e se ocupou das preocupações, e a partir deste momento todos trabalhamos pelo bem do Sínodo: e por isso a minha impressão é a de um Sínodo que, ao contrário do outro Sínodo, trabalha com sinodalidade e colegialidade (palavra muito importante para o Papa) caminhando juntos pelo bem da Igreja”.
O cardeal Napier também indicou uma série de problemas particularmente importantes para os bispos africanos, e, respondendo a outra pergunta, refletiu particularmente sobre a questão da “coabitação” pré-matrimonial que, ao contrário do que acontece no Ocidente, na África “não é contra, mas a favor do matrimônio”. “O matrimônio tradicional africano não é um matrimônio entre dois indivíduos, mas entre duas famílias. Diz-se que é ‘arrumado’, mas na realidade é ‘negociado’, e neste processo as famílias dos noivos, esperando encontrar o acordo final sobre as questões econômicas, podem colocar-se de acordo sobre uma convivência antes da celebração do matrimônio. A coabitação faz parte, pois, de um casamento em etapas”. Trata-se, seja como for, de “uma dessas coisas que um Sínodo não pode decidir, mas que deve ser deixado para a decisão dos bispos africanos”.
O cardeal Lluís Martínez Sistach, arcebispo de Barcelona (Espanha), canonista por formação, afirmou que a reforma dos procedimentos sobre a nulidade matrimonial, assinada recentemente pelo Papa, “harmoniza plenamente a fidelidade e a indissolubilidade com a misericórdia da Igreja”. Um conceito sobre o qual voltaram a falar os três padres sinodais que participaram da entrevista coletiva. Napier disse que os bispos estão conscientes do desafio que representa a reforma para “assegurar que o pessoal seja adequado e que o processo seja respeitado”. Sistach destacou que o processo “breve” pode tornar-se sem nenhum problema um processo “ordinário” quando se demonstrar que não existem as condições da brevidade. “Poder-se-ia fundar uma congregação religiosa ou uma associação de fiéis leigos que aprendam um pouco de direito matrimonial, dando assessoria e serviço aos tribunais do mundo”, acrescentou o cardeal catalão.
O cardeal mexicano Alberto Suárez Inda, arcebispo de Morelia, recordou o chamado do Papa para considerar que “a realidade é superior à ideia”, inclusive em relação às famílias, e respondeu com satisfação a quem lhe perguntou sobre os detalhes de uma próxima viagem do Papa ao México. “É uma imensa alegria. Basta o Papa nos indicar os lugares e a data. Seguramente falará de reconciliação, de paz, de vítimas, quem sabe visitará uma prisão. E também convidará os jovens para verem o futuro com grande esperança e não com um olhar dos profetas da desgraça. No México, 80% se dizem católicos, mas 100% são guadalupanos, e o Papa visitará, sem dúvida, o Santuário de N. Sra. de Guadalupe”.
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Bispos africanos: “otimismo com o resultado do Sínodo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU