07 Outubro 2015
"Os atuais eventos lembram os de setembro de 2000 [quando começou a segunda Intifada]”, refletia em voz alta no domingo na rádio palestina o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat. A situação de violência latente desde o verão de 2014, na véspera da ofensiva militar contra Gaza, ameaça se espalhar pela Cisjordânia e Jerusalém Oriental, que continuam ocupadas por Israel desde a guerra de 1967. As mortes de quatro israelenses e de vários palestinos (dois deles responsáveis pelos ataques e os outros manifestantes) desde quinta-feira passada provocaram uma escalada de tensão que levou o Governo de Benjamin Netanyahu a ordenar o fechamento da Cidade Velha de Jerusalém para os palestinos não residentes durante as últimas 48 horas.
A reportagem é de Juan Carlos Sanz, publicada por El País, 05-10-2015.
As cenas dos últimos confrontos reproduzem imagens da primeira Intifada (1987-1991), que levou aos acordos de Oslo e da segunda Intifada (2000-2005), que terminou com a construção do muro de separação israelense na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. As batalhas campais de centenas de jovens contra as forças de segurança que usam cada vez mais fogo real causaram pelo menos 150 feridos desde sábado, de acordo com o Crescente Vermelho. Um palestino de 13 anos de idade morreu ontem perto de Belém ao receber uma bala no peito. Outro manifestante de 18 anos foi morto por disparos do Exército em Tulkarem na noite passada.
Pressionado pela ala mais extremista do Gabinete, Netanyahu advertiu que “Israel trava um combate até a morte contra o terrorismo palestino” e que “não haverá limites nas atividades das forças de segurança”. O primeiro-ministro anunciou novas medidas para tentar conter a violência, como acelerar a demolição das casas das famílias dos autores dos atentados e generalizar a chamada “detenção administrativa”, que permite a prisão indefinida dos suspeitos de terrorismo sem intervenção judicial, além de reforçar a presença policial e militar na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
A proposta de negociações “sem condições prévias” com os palestinos que Netanyahu lançou na semana passada no plenário da Assembleia Geral da ONU se esboroou logo após o seu retorno a Israel, onde ministros de seu Governo reivindicam que ele autorize novos assentamentos de colonos judeus na Cisjordânia e que envie tropas do Exército para combater os dirigentes da Autoridade Palestina.
No mesmo encontro internacional, na ONU, o presidente palestino, Mahmud Abbas, ameaçara abandonar os Acordos de Oslo e entregar a Netanyahu as chaves da Mukata, a sede das instituições de governo em Ramala. “Israel precisa assumir suas responsabilidades de potência ocupante, o atual status quo já não pode ser mantido”, alertou Abbas em Nova York. Em seu retorno à Mukata, o presidente acusou Israel de pretender levar ”a região a um ciclo de violência”.
O dirigente da OLP Hannan Ashraui afirmou que a Palestina condena o uso da violência contra civis inocentes, mas também lembrou que, neste ano, as forças de segurança israelenses mataram mais de 30 palestinos e prenderam outros 3.500. “Netanyahu continua dizendo que consegue controlar a situação (...), mas está criando de forma deliberada uma espiral de instabilidade”, argumentou Ashraui em uma nota.
A violência provocou um clima volúvel, do qual os extremistas procuram tirar proveito. A Jihad Islâmica e o Hamas foram acusados pelo Governo israelense de estar por trás dos ataques contra civis. Cinco militantes do Hamas foram presos nesta segunda-feira sob a acusação de participação no atentado da quinta-feira passada contra uma família de colonos na Cisjordânia. Grupos radicais judeus se manifestaram no fim de semana no centro de Jerusalém exigindo vingança depois da morte de um soldado que estava fora do serviço e de um rabino, esfaqueados na Cidade Velha.
Dificilmente a Autoridade Palestina conseguirá controlar a situação. Uma pesquisa divulgada no final de setembro mostrava que 42% dos palestinos consideravam que a luta armada é o melhor instrumento para a obtenção de um Estado próprio, ante 36% que apoiavam essa mesma tese três meses antes. A colunista do Haaretz Amira Hass lembrava recentemente que os responsáveis por essa série de sondagens haviam constatado que desde o verão de 2000 também cresceu a tendência favorável ao uso da violência na opinião pública, marcada na época, como agora, pela frustração e pelo pessimismo na sociedade palestina.
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Aumenta Intifada palestina latente desde a guerra de Gaza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU