Caso do bispo de Osorno, no Chile. “Nenhum bispo será imposto” (Papa Celestino I)

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Por: André | 23 Março 2015

O Comitê Permanente da Conferência dos Bispos do Chile emitiu uma declaração pública, no dia 18 de março de 2015, em resposta “às diversas manifestações que cercaram a nomeação de dom Juan Barros Madrid como bispo diocesano de Osorno”.

O editorial é do sítio chileno Reflexión y Liberación, 19-03-2015. A tradução é de André Langer.

No documento, o Comitê Permanente expressa a adesão ao Papa Francisco e faz constar que a responsabilidade nesta nomeação é pontifícia. Também manifesta proximidade com a Igreja de Osorno unida ao pastor imposto. Finalmente, compromete-se pela oração para que os fiéis e o bispo “caminhem em fidelidade ao mandato do Senhor”.

Em vista dos fatos assinalados, é oportuno manifestar que:

– Chama a atenção que o Comitê Permanente se veja na obrigação de ter que declarar o que é óbvio canonicamente, no sentido de manifestar sua adesão ao Papa Francisco. A nomeação do novo bispo de Osorno agitou a vida da Igreja, mas nada faz presumir que isso vá prejudicar os vínculos hierárquicos com o papa.

– A declaração episcopal deposita no Papa Francisco a responsabilidade pela nomeação de dom Barros como bispo de Osorno. Isso pode ser interpretado como uma evasão da responsabilidade que cabe ao episcopado chileno na tarefa de aconselhar o papa na nomeação de bispos. Essa responsabilidade não pode ser recusada sem afetar o princípio da lealdade que sempre deve reger a relação com os superiores hierárquicos, com maior razão quando o episcopado chileno tem maior informação que o papa em relação à trajetória do bispo proposto e nomeado para Osorno.

– A declaração omite qualquer referência à pessoa do núncio apostólico, dom Ivo Scapolo, que tem a grave responsabilidade de apresentar a proposta de nomeação à Congregação para os Bispos em Roma, cujo prefeito é o cardeal Marc Ouellet. Esta omissão é indevida, porque responsabiliza o papa por uma nomeação, cujo processo é confiado primeiramente a um conjunto de bispos e cardeais que, ao não assumir responsabilidade alguma, acaba comprometendo a imagem do papa diante dos fiéis católicos e diante da opinião pública chilena pela decisão a que foi induzido.

– Na hora de informar devidamente, o Povo de Deus e a opinião pública chilena têm o direito de conhecer a sigilosa ação do cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa neste chato processo.

– A manifestação de proximidade do Comitê Permanente à Igreja de Osorno não pode ser condicionada à comunhão com um bispo imposto, especialmente porque esta comunidade expressou legitimamente, e em comunhão com a Igreja, sua recusa justificada de acolher a dom Juan Barros como pastor por não ser “irrepreensível”.

– A fidelidade ao mandato do Senhor, de manifestar unidade na Igreja, constrói-se com ações e gestos cotidianos de respeito, de consideração, de coerência, de participação real e de transparência, que manifestem um empenho sério para colaborar nesse desejo que expressamos na liturgia eucarística, quando clamamos a Deus, através das palavras do presbítero, dizendo: “Que a tua Igreja, Senhor, seja um recinto para valer e de amor, de liberdade, de justiça e de paz, para que todos encontrem nela um motivo para seguir esperando” (Oração Eucarística V/b do Missal Romano). Hoje, mais do que nunca necessitamos dar um testemunho público de verdade, de amor, de liberdade, de justiça e de paz, para que todos encontrem em nossa Igreja chilena um motivo para continuar alimentando a esperança.

Compreendemos que o papa foi aconselhado indevidamente e que o mesmo não pode revogar, sem comprometer a sua autoridade, o que previamente foi instruído como um “ato pontifício”. Por isso, o Comitê Permanente e os bispos chilenos têm a obrigação moral de persuadir o seu irmão no episcopado, dom Juan Barros Madrid, para que desista de aceitar a grande confiança que o Papa Francisco depositou nele, reparando assim o grave dano provocado à Igreja e à pessoa do papa.

O bispo Barros também deve aquilatar em sua consciência de cristão o grande exemplo do Papa Bento XVI, que, procurando acima de tudo o bem superior da Igreja e por razões diferentes, apresentou sua renúncia à grave responsabilidade de guiar a Igreja católica como pontífice.

O ex-presidente Frei rechaça a nomeação

O ex-presidente Eduardo Frei Ruiz-Tagle, católico praticante, filho de outro grande presidente, Eduardo Nicanor Frei Montalva, fundador da Ação Católica Universitária nos anos 1930, grande amigo do cardeal Silva Henriquez e dos Papas João XXIII e Paulo VI, rechaça a nomeação de Juan Barros como bispo de Osorno. “A comunidade deve ser ouvida”, disse o ex-presidente, que sugeriu ao sacerdote para que repense a possibilidade de assumir o cargo, após as críticas por sua vinculação com Fernando Karadima.

Por outro lado, o presidente da Conferência dos Bispos do Chile, cardeal Ricardo Ezzati, não irá participar da cerimônia de posse de dom Barros neste sábado, assim como o vice-presidente, Alejandro Goic, e o secretário-geral Cristián Contreras... Vários outros bispos também não estarão presentes.