09 Setembro 2014
Depois de anos de forte resistência, os organizadores do desfile do Dia de São Patrício, em Nova York, disseram na última quarta-feira que gays e lésbicas serão autorizados a marchar com sua própria bandeira pela primeira vez, e o cardeal Timothy Dolan - mestre de cerimônias do desfile em março próximo - saudou a iniciativa.
A reportagem é de David Gibson, publicada no sítio Religion News Service, 03-09-14. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
A decisão é mais um sinal de quão rapidamente a mudança de atitudes públicas para com as pessoas homossexuais têm pressionado as mudanças nas leis estaduais, nas políticas governamentais e nas práticas por parte de entidades privadas.
A resposta positiva de Dolan também pode apontar para uma mudança na dinâmica dentro da Igreja Católica no que diz respeito aos gays e lésbicas desde a eleição do Papa Francisco no ano passado. Francisco deixou claro que ele quer que os líderes da Igreja destaquem o trabalho do catolicismo com os pobres e vulneráveis ao invés de sempre ficarem lutando com as questões culturais como o casamento gay e afins.
Os ensinamentos da Igreja sobre gays e lésbicas não mudaram, como ficou evidente esta semana quando duas professoras de uma escola católica em St. Louis foram demitidas assim que os administradores souberam que as mulheres eram casadas, e uma professora em uma escola católica no subúrbio de Detroit, que é lésbica, disse que foi demitida quando ela ficou grávida.
Mas a parada de St. Patrick, que não é organizada pela Igreja, permite alguma margem de manobra. Dolan disse na quarta-feira que o comitê do desfile que opera o evento anual "continua a ter a minha confiança e apoio".
"Nenhum dos meus predecessores, arcebispos de Nova York, jamais determinaram quem iria ou não iria marchar nesse desfile (...) mas sempre apreciei a cooperação dos organizadores da parada em manter o desfile próximo de sua herança católica", ele continuou.
Dolan concluiu pedindo, em forma de oração, "que o desfile continue a ser uma fonte de unidade para todos nós".
Em 1993, o então cardeal John O'Connor, enfrentando os manifestantes gays que faziam uma manifestação pacífica durante o desfile, jurou que "não permitiria jamais ser lembrado por comprometer a doutrina católica" por permitir a admissão de gays como um grupo identificável no evento. "Nem a respeitabilidade nem o discurso politicamente correto valem uma vírgula no Credo dos Apóstolos", declarou O'Connor em sua homilia na missa do Dia de São Patrício daquele ano.
O'Connor morreu em 2000, e muita coisa mudou desde então.
O comitê da parada escolheu o OUT@NBCUniversal, um grupo de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, para marchar pela Quinta Avenida de Manhattan no dia 17 de março do próximo ano sob sua própria bandeira. Os organizadores da parada votaram por unanimidade a inclusão do grupo da NBC, como foi afirmado à Associated Press, e um porta-voz do desfile disse que outros grupos de gays e lésbicas poderão enviar seus pedidos para participar nos próximos anos.
O comitê disse que a sua "mudança de tom e uma maior inclusão são gestos de boa vontade para com a comunidade LGBT em nosso esforço contínuo de manter o desfile acima da política".
A declaração do comitê relata que o desfile deve "permanecer fiel aos ensinamentos da Igreja", e o porta-voz do comitê, Bill O'Reilly, disse que Dolan foi "muito favorável" à mudança.
Dolan disse no ano passado que ele apoiava a participação de gays, mas não tomou uma posição sobre se eles deveriam ser autorizados a marchar com o seu próprio sinal de identificação.
Há cerca de 320 unidades definidas para desfile do próximo ano, onde cada uma das quais normalmente carrega sua própria bandeira.
Nos últimos anos, já que os organizadores da parada firmemente rejeitavam os apelos crescentes de permitir que gays e lésbicas de origem irlandesa marchassem com sua própria bandeira, os líderes políticos de Nova York começaram a evitar o desfile, que sempre foi considerado um evento obrigatório para qualquer um que espera ficar em boas graças com a grande e influente comunidade irlandesa-americana da cidade.
Em março passado, a cerveja Guinness - um ícone quase tão forte da cultura irlandesa quanto St. Patrick - cancelou o patrocínio do desfile.
Isso levou o ativista conservador Bill Donohue, da Liga Católica, com sede em Nova York, um opositor dos direitos dos homossexuais, a lançar um boicote da cervejaria. "A Guiness realmente cometeu um erro grave na tentativa de permanecer com os católicos romanos", disse Donohue.
Na quarta-feira, Donohue adotou um tom diferente: "É de se esperar que todos os novos participantes se comportem de maneira a honrar St. Patrick, antes que surja mais uma rodada de controvérsia", disse ele.
A parada do Dia de São Patrício, em Nova York começou em 1762, antes mesmo da fundação dos Estados Unidos, e é um dos principais eventos do país para comemorar o orgulho e a herança cultural irlandesa. O desfile não é, contudo, um evento organizado pela Igreja, apesar de estar intimamente identificado com o catolicismo irlandês. Ele é realizado na festa de São Patrício e sempre faz uma pausa em frente à Catedral de St. Patrick, na Quinta Avenida, para que o mestre de cerimônias possa cumprimentar o arcebispo, que, por tradição, é de origem irlandesa.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cardeal de Nova York aprova presença de grupos gays na parada de St. Patrick - Instituto Humanitas Unisinos - IHU