Por: André | 24 Março 2014
“Sou a única testemunha... eu estava aí quando Bergoglio pegou o rosário do caixão do padre Aristi”. O padre Andrés Taborda é um sacerdote sacramentino de origem argentina que mora em Roma. Prestou serviços durante anos na Basílica do Santíssimo Sacramento de Buenos Aires, justamente onde morava e confessava José Ramón Aristi, o confessor de quem Francisco, em abril de 1996, ‘roubou’ uma pequena cruz do rosário, a mesma que sempre carrega consigo.
Fonte: http://bit.ly/1iKYfjN |
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no sítio Vatican Insider, 21-03-2014. A tradução é de André Langer.
Foi o próprio Pontífice quem revelou o episódio em 06 de março passado, durante seu encontro com os padres romanos, aos quais aconselhou serem misericordiosos.
“Em Buenos Aires havia um confessor famoso: era sacramentino. Quase todo o clero se confessava com ele”. Quando João Paulo II foi à Argentina e pediu um confessor, foi este sacerdote o enviado para escutar os pecados do Papa. “Foi Provincial da sua ordem, professor... mas sempre confessor, sempre – disse o Papa. E sempre havia fila aí, na Igreja do Santíssimo Sacramento”.
O padre Aristi morreu aos 97 anos no dia da Vigília da Páscoa de 1996. Nessa época, Bergoglio era bispo auxiliar e vigário-geral. Ao receber a notícia, depois de ter almoçado com os sacerdotes anciãos da casa de repouso, como faz em cada Páscoa, Bergoglio foi visitar seu confessor, que acabara de morrer. “Era uma Igreja grande, muito grande, com uma belíssima cripta. Desci à cripta e ali estava o caixão. Havia apenas duas velhinhas que rezavam... não havia flores. E pensei: ‘Mas, este homem que perdoou os pecados de todo o clero de Buenos Aires, inclusive os meus, nem sequer tem uma flor...’. Saí e fui até uma floricultura e comprei uma flores, rosas... E voltei. Comecei a preparar o caixão com flores... E então vi o rosário que estava em suas mãos... E me veio imediatamente à mente (esse ladrão que mora em todos nós, não?), e enquanto arrumava as flores, pequei a cruz do Rosário e a arranquei com um pouco de força. Nesse momento olhei para ele e disse: ‘Dá-me a metade da tua misericórdia’”.
“Senti algo forte que meu deu coragem para fazê-lo – continuou o Papa – e para fazer estar oração! E depois, coloquei essa cruz aqui, no bolso. As camisas do Papa não têm bolsos, mas eu sempre levo uma bolsinha de pano, e desde então até agora, minha mão se dirige aqui, sempre. E sinto a graça! Sinto que me faz bem. Faz muito bem o exemplo de um sacerdote misericordioso, de um sacerdote que se aproxima das feridas...”.
Aristi era “verdadeiramente um sacerdote misericordioso e sábio”, recorda o padre Taborda. “Era muito querido, porque sabia ser compreensivo. Confessava em nossa Basílica em Buenos Aires cada segunda-feira, e muitos sacerdotes iam com ele. Eu o conheci em 1968. Foi ele que me recebeu na ordem, porque era o provincial dos sacramentinos da Argentina, Uruguai e Chile”. O padre Taborda recorda muito bem essa tarde da Páscoa de 18 anos atrás. “Nos encontrávamos lá, na cripta, ao lado do caixão do padre Aristi – conta o sacerdote – e apareceu a figura ascética de Bergoglio, que naquela época era muito magro. Recordo que disse: “Foi meu confessor, com este rosário na mão absolveu muitíssimos pecadores; não é possível que o leve para debaixo da terra...’”. E assim, o futuro Papa decidiu levá-lo e pedir ao defunto padre Aristi um pouco de sua misericórdia. Mas há uma razão precisa pela qual Bergoglio quis justamente esse rosário, razão pela qual Bergoglio sempre carrega essa cruz ao lado do seu coração. “O padre Aristi – explica seu compatriota – dava aos penitentes o rosário com a pequena cruz enquanto se confessavam; depois a usava para dar a absolvição, e ao final os convidava para beijá-la. Ou seja, esse rosário e esse crucifixo foram testemunhas de um rio de graças”.
Bergoglio referiu-se ao padre Aristi em um texto que durante muitos anos permaneceu inédito, dedicado aos primeiros anos da sua vocação e da sua formação; recordava-o como um confessor muito conhecido já na década de 1950.
José Ramón Aristi, de origem basca, nasceu em novembro de 1889 e chegou à Argentina quando ainda era estudante. Foi recebido no noviciado dos sacramentinos. Sua casa foi a enorme Basílica do Santíssimo Sacramento, na qual (dado curioso) casou-se Diego Armando Maradona. Também era músico: dirigiu o coro dos órfãos que cantou durante as liturgias do 32º Congresso Eucarístico Internacional de Buenos Aires (em outubro de 1943), do qual participou como delegado papal o então cardeal secretário de Estado Eugenio Pacelli, o futuro Pio XII. “Tinha uma sensibilidade especial pelos pobres – explica o padre Taborda –, e entre eles suscitou muitas vocações religiosas”.
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“Explico-lhes por que Bergoglio ‘roubou’ o rosário do caixão do padre Aristi” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU