Por: André | 07 Março 2014
Uma longa meditação sobre a misericórdia, cheia de anedotas pessoais da época de Buenos Aires, perguntas diretas (“À noite, como termina seu dia? Com o Senhor ou com a televisão?”), brincadeiras (“Dizem que eu dou duro nos padres!”), imagens (Moisés tinha coragem para defender o seu povo diante de Deus). Desta maneira o Papa Francisco dirigiu-se aos párocos romanos, que foram recebidos nesta quinta-feira no Vaticano para a tradicional audiência de início da Quaresma. Jorge Mario Bergoglio aproveitou a ocasião para aconselhar, seguindo o ensinamento de João Paulo II, a não esquecer “o magistério da Igreja” em relação à misericórdia.
Fonte: http://bit.ly/1l6f9Ji |
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada no sítio Vatican Insider, 06-03-2014. A tradução é de André Langer.
“Não estamos aqui par fazer um bom exercício espiritual no começo da Quaresma, mas para escutar a voz do Espírito que fala a toda a Igreja neste nosso tempo que é precisamente o tempo da misericórdia”, explicou Bergoglio na Sala Paulo VI, falando sobre essa misericórdia que “todos nós necessitamos. Inclusive os fiéis, porque, como pastores, devemos dar tanta, mas tanta misericórdia!”
“Em toda a Igreja – disse o Papa Francisco – é tempo de misericórdia. Esta foi a intuição do beato João Paulo II. Pensemos na beatificação e canonização da Irmã Faustina Kowalska; depois introduziu a festa da Divina Misericórdia. Avançou pouco a pouco e seguiu em frente com isto”. Neste sentido, “nós estamos vivendo um tempo de misericórdia, há 30 anos ou mais”.
“Hoje – prosseguiu o Papa argentino, que alternou a leitura de um texto preparado para a ocasião com numerosas intervenções “improvisadas” – esquecemos tudo com muita facilidade, inclusive o Magistério da Igreja! Em parte é inevitável, mas não podemos esquecer os grandes conteúdos e intuições deixadas ao Povo de Deus. E a da Divina Misericórdia é uma delas. Cabe a nós, como ministros da Igreja, manter viva essa mensagem, sobretudo na pregação e nos gestos, nos sinais, nas opções pastorais. Por exemplo – disse –, a opção de priorizar novamente o Sacramento da Reconciliação, e ao mesmo tempo, as obras de misericórdia”.
O Papa também brincou com os párocos romanos: “O que significa ‘misericórdia’ para os padres? E me vem à mente que alguns de vocês me telefonaram, me escreveram uma carta... ‘Mas, Papa, por que és tão duro com os padres?’ Porque dizem que eu dou duro nos padres! Aqui não quero ser duro...’. Depois acrescentou, “recordo um grande sacerdote de Buenos Aires. É um grande confessor: sempre tinha fila... E uma vez veio me ver: ‘Mas, padre... Tenho um pouco de escrúpulo, porque sei que perdoo muito!’, “Então, reza, se perdoas muito...’. E falamos sobre a misericórdia. Em certo momento, me disse: ‘Sabes, quando sinto que é forte este escrúpulo, vou à capela, diante do Tabernáculo... E digo: ‘Perdoa-me, mas Tu tens a culpa, porque me deste um mau exemplo’”.
Os padres, disse Bergoglio, devem ter “um coração que se comove. Os padres (e me permito a palavra) ‘assépticos’, esses ‘de laboratório’, todo limpinho, todo bonitinho... não ajudam a Igreja! A Igreja, hoje – destacou Francisco – deve ser vista como um hospital de campanha, http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523920-procuremos-ser-uma-igreja-que-encontra-caminhos-novos-entrevista-com-o-papa-francisco é preciso curar muitas, muitas feridas. Há muita gente ferida, pelos problemas materiais, pelos escândalos, inclusive na Igreja”. E justamente “quando alguém está ferido necessita imediatamente disto, e não de exames”. Misericórdia, exclamou o Papa, significa “nem permissivo nem rigoroso demais”. “O primeiro é somente aparentemente misericordioso, mas na realidade minimiza o pecado. O segundo se concentra somente na lei, compreendida de modo frio e rígida.”
Neste sentido, Bergoglio aconselhou aos padres o “sofrimento pastoral”, isto é, “sofrer por e com as pessoas”. E, para deixar clara sua reflexão, fez uma série de perguntas: “Tu choras? Ou perdemos as lágrimas?”; “Quantos de nós choramos diante de uma criança, diante da destruição de uma família, diante de toda essa gente que não encontra o caminho?”; “Tu lutas com o Senhor por teu povo, como Abraão lutou, como fez Moisés, quando o Senhor se cansou do seu povo e lhe disse: ‘Calma... destruirei todos e te farei líder de outro povo’. ‘Não. Se destróis o meu povo, destróis também a mim’”? Estes – acrescentou Bergoglio – tinham coragem! E eu lhes pergunto: temos coragem para lutar com Deus por nosso povo?”
E fez ainda outras perguntas: “À noite, como termina seu dia? Com o Senhor ou com a televisão?”; “Como é a tua relação com as crianças, com os anciãos, com os enfermos? Sabes acariciá-los, ou te envergonhas de acariciar um ancião?” O Papa recordou os exemplos de muitos padres misericordiosos: “Se pensarem um pouco, vocês seguramente se darão conta de que conheceram muitos, muitos, porque os padres na Itália são bons, eh? São bons. Eu creio que se a Itália ainda é tão forte, não é tanto pelos bispos, mas pelos párocos, pelos padres. É verdade, não é um pouco de incenso para consolá-los”.
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“Os padres ‘de laboratório’ não ajudam a Igreja”, diz Francisco aos párocos romanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU