09 Mai 2013
Papa Francisco se encontrou nessa quarta-feira com líderes de ordens de irmãs e freiras católicas de todo o mundo, dizendo-lhes que as vidas das pessoas consagradas são uma "luz no mundo".
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 08-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"O que a Igreja seria sem vocês?", perguntou o papa na audiência, respondendo às irmãs que faltaria à Igreja "maternidade, afeto, ternura".
O encontro, uma audiência privada realizada na Sala Papa Paulo VI do Vaticano, antes da audiência semanal das quartas-feiras de Francisco na Praça de São Pedro, foi entre o papa e cerca de 800 membros da União Internacional das Superioras Gerais (UISG), organização de cerca de 1.800 líderes mundiais de congregações religiosas femininas.
O encontro era muito esperado, porque as lideranças do grupo de irmãs disseram que não conseguiam se lembrar da última vez que um papa se reuniu com seus membros em geral.
Francisco conversou por cerca de 15 minutos, refletindo sobre o sentido da vida religiosa.
O papa se focou em três temas, dizendo às irmãs-líderes que mantenham suas vidas centradas em Cristo, que pensem na autoridade em termos de serviço e que elas devem ter um "'sentir' com a Igreja que encontra a sua expressão filial na fidelidade ao Magistério".
Citando o Papa Paulo VI, Francisco disse: "É uma dicotomia absurda pensar em viver com Jesus sem a Igreja, em seguir a Jesus fora da Igreja, em amar a Jesus sem amar a Igreja".
"Sintam a responsabilidade que vocês tem de cuidar da formação dos seus Institutos na sã doutrina da Igreja, no amor à Igreja e no espírito eclesial", disse o papa.
A irmã dominicana Margaret Ormond disse ao NCR após o discurso do papa que ele reconheceu que as irmãs "desempenham um papel na Igreja também e que há algo a ser aprendido conosco".
"Eu penso que ele inseriu delicadamente toda a questão sobre o 'sentir' com os ensinamentos da Igreja", disse Ormond, prioresa das Irmãs Dominicanas da Paz, com sede em Ohio, EUA, e representante regional eleita para o grupo das irmãs da América do Norte.
Ormond disse que o uso da palavra "sentir" por parte de Francisco, referindo-se à obediência à Igreja, significava que o papa "tem a sua opinião a respeito, mas não estava admoestando".
As considerações de Francisco nessa quarta-feira ocorreram depois de cinco dias de reuniões do grupo de irmãs, que organizou uma assembleia trienal entre os dias 3 e 7 de maio em Roma focada no tema da liderança servidora.
A Ir. Dorothy Vella-Zarb, superiora geral da ordem das Irmãs de São José da Aparição, fundada na França, disse nessa quarta-feira que o encontro do grupo de irmãs com o papa era necessário.
"Eu acho que é muito importante dizer que há algo que precisa ser esclarecido sobre o nível entre a Igreja e a vida religiosa", disse Vella-Zarb, cuja sede da ordem fica em Roma.
"Eu acho que é muito importante ter este encontro com o papa e com o cardeal", continuou. "Eu acho que esses são encontros muito importantes para nos aproximar mais, para não sentirmos duas linhas paralelas, mas para estarmos na mesma linha: a de que somos uma única Igreja, uma única linha".
Durante o seu discurso, o papa destacou o tema do encontro, liderança servidora, dizendo que a essência do poder é o serviço.
"Não devemos esquecer nunca que o verdadeiro poder, em qualquer nível, é o serviço, que tem o seu vértice luminoso na Cruz", disse o papa.
O papa também disse às irmãs-líderes que elas devem se colocar em "um caminho de adoração e serviço".
O papa exortou as irmãs a aceitarem os três votos tradicionais da vida consagrada – obediência, pobreza e castidade. Ele convidou-as a olhar para a pobreza que "se aprende com os humildes, os pobres, os doentes e todos aqueles que estão nas periferias existenciais da vida".
"A pobreza teórica não nos serve", continuou o papa. "A pobreza se aprende tocando a carne do Cristo pobre, nos humildes, nos pobres, nos doentes, nas crianças".
Ele também pediu que as irmãs aceitem um castidade "fértil", em que as mulheres consagradas são "mães" que "geram filhos espirituais na Igreja".
O papa concluiu o seu discurso com uma bênção apostólica, dizendo às lideranças religiosas que ele a estendia "a vocês e a todos em seus institutos".
Depois, o papa cumprimentou brevemente a presidente da UISG, a irmã franciscana norte-americana Mary Lou Wirtz, e os membros do comitê executivo da organização e equipe.
Enquanto as religiosas subiam os degraus para subir ao palco onde o papa estava, um grupo de irmãs africanas começou a cantar.
A Ir. Josune Arregui, secretária-executiva da UISG, disse ao NCR que, quando ela cumprimentou o papa, ela lhe disse que estava experimentando "uma crise de fé na Igreja", mas tinha experimentado um renascimento desde a eleição dele como pontífice.
"Ele me disse: 'Não se preocupe, eu fico em crise duas vezes por mês'", disse Arregui, membro das Irmãs Carmelitas da Caridade de Vedruna. "Eu voltei rindo, rindo!"
Antes do discurso do papa nessa quarta-feira, diversas superioras de ordens sul-africanas disseram estar animadas por trabalhar com o papa e por levar a sua mensagem de volta às suas coirmãs.
"Da última vez, não tivemos o discurso de papa nesse encontro", disse a Ir. Cecilia Mkhonto, das Irmãs de Santa Brígida. "Então, agora que ele veio e está interessado na vida religiosa, queremos trabalhar lado a lado e ser um testemunho conjunto com toda a Igreja".
"Voltar, para nós, será um privilégio, levando a mensagem de esperança para o povo", disse a Ir. Patricia Ntoagae, das Companheiras de Santa Ângela. "O papa nos pede para voltar a sermos simples e, portanto, a estar em serviço aos outros. E para estar lá para os outros, os pobres especialmente".
O cardeal João Braz de Aviz, presidente da Congregação para os Religiosos do Vaticano, que introduziu o grupo ao papa, disse ao NCR após a audiência que o grupo não ouvia uma "palavra diretamente do papa desde antes do nosso tempo".
O discurso de Francisco ocorreu no rastro das notícias sobre as considerações de Braz de Aviz no encontro, no domingo, quando ele disse às religiosas que ele não soube à época de uma medida tomada em 2012 pelo Vaticano de colocar o principal grupo representativo das irmãs católicas dos EUA sob o controle dos bispos.
Essa falta de discussão sobre a possibilidade de criticar a Leadership Conference of Women Religious (LCWR) lhe causou "muita dor", disse Braz de Aviz. "Temos que mudar essa forma de fazer as coisas", disse ele às superioras religiosas.
As considerações de Braz de Aviz foram feitas em relação ao que é conhecido como avaliação doutrinal da LCWR, que representa cerca de 80% das cerca de 57 mil irmãs norte-americanas.
A avaliação ordenou que o grupo se revisasse e se colocasse sob a autoridade do arcebispo de Seattle, J. Peter Sartain, que recebeu um mandato para servir como seu "arcebispo delegado" por cinco anos.
A LCWR tem dito repetidamente que as razões citadas pelo Vaticano para a revisão não eram uma representação precisa do seu trabalho.
Embora a Sala de Imprensa do Vaticano divulgou um comunicado nessa terça-feira dizendo que os recentes relatos da mídia noticiaram imprecisamente as considerações do cardeal, indicando uma divisão entre as Congregações vaticanas, Braz de Aviz disse ao NCR nessa quarta-feira que a sua reportagem sobre o assunto foi "muito precisa".
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Papa Francisco expressa gratidão a religiosas e destaca obediência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU