26 Outubro 2012
Jamais algum papa havia convocado um consistório sem italianos nem europeus e deixado de fora o prefeito do ex-Santo Ofício. Em resposta ao Vatileaks, Bento XVI internacionaliza o Sacro Colégio e vira a página com relação à obscura estação dos escândalos na Cúria. Um golpe surpresa para equilibrar as duas últimas criações cardinalícias que desequilibravam o eventual conclave em favor de italianos e curiais. Os novos princípios da Igreja são, de formas diferentes, representativos da Igreja "global" e participam até domingo no Sínodo dos Bispos sobre a nova evangelização.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 25-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O patriarca de Antioquia, dos maronitas, o libanês Boutros Rai, 72 anos, acolheu Razinger em setembro em Beirute e intervém frequentemente sobre a crise na Síria e sobre as suas repercussões em todo o Oriente Médio.
O arcebispo de Trivandrum dos siro-malabarenses, o indiano Baselios Cleemis Thottunkal, com seus 53 anos, é o mais jovem purpurado e lidera uma das mais antigas fortalezas do cristianismo.
O batalhador arcebispo de Abuja, cidade mártir do terrorismo religioso, o nigeriano John Olorunfemi Onaiyekan, 68 anos, está comprometido no seu país para evitar contraposições entre cristãos e islâmicos e, na Cúria, para recordar as razões dos pobres.
O prelado de Bogotá, na Colômbia, Rubén Salazar Gómez, 70 anos, é presidente da Conferência Episcopal, enquanto o arcebispo de Manila, nas Filipinas, Luis Antonio Tagle, 55 anos, é um renomado líder na Ásia em crescimento.
O mais inesperado é James Harvey, 63 anos, chefe e promotor do mordomo infiel Paolo Gabriele, o norte-americano magro, alto e sorridente, muitas vezes retratado ao lado dos papas: desde 1998, era prefeito da Casa Pontifícia.
As localidades de proveniência expressam as prioridades e as preocupações de Bento XVI.
O único barrete que não deve ser lido em ótica geopolítica é justamente o que Harvey receberá, juntamente com a nomeação a arcipreste de São Paulo Fora dos Muros, liberando a delicadíssima tarefa de "anjo da guarda" de Sua Santidade.
Passam a vez, no entanto, o curial Müller; o primaz da Bélgica, Leonard; o arcebispo de Turim, Nosiglia; e o neopatriarca de Veneza, Moraglia. O quinto consistório do pontificado levará a 90 os purpurados nomeados por Ratzinger, imprimindo ainda mais a sua marca no Colégio Cardinalício. Bento XVI optou por não superar o número de 120 indicado por Paulo VI para os eleitores e deu maior peso para o Oriente Médio e para Ásia, África e América Latina. Os novos purpurado portarão a voz de comunidades emergentes ao senado do papa.
"Concedendo a púrpura a dois líderes de Igrejas orientais em comunhão com Roma, o papa confirmou uma tradição introduzida por João XXIII e seguida depois por Montini e Wojtyla", observa Salvatore Izzo, notável analista de questões eclesiásticas. "Para muitos teólogos, não é coerente que o título de cardeal, isto é, de membro do clero romano e, como tal, de eleitor do papa que é bispo de Roma, seja atribuído a um patriarca que, por si só, já tem uma dignidade maior, quase igual a do pontífice, e é expressão de uma tradição diferente da latina que tem em Roma a sua referência histórica".
Sobre essas considerações, prevaleceu a necessidade de reforçar a universalidade da Igreja. "O papa, aconselhando-se somente com o secretário de Estado, Bertone, decidiu destinar aos líderes de Igreja não europeias todos os postos livres", explica Izzo.
Nessa quarta-feira, na Praça de São Pedro, Ratzinger significativamente saudou o núncio nos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò, logo depois de ter comunicado o miniconsistório com o qual, no dia 24 de novembro, irá redesenhar a geografia dos mais próximos a ele no governo da Igreja. As cartas escritas por Viganó quando ainda era secretário do Governatorato para denunciar a corrupção vaticana e para protestar contra a transferência aos EUA estão na origem do vazamento de documentos confidenciais da Santa Sé.
O papa olha para a frente e indica linhas para a sucessão. Menos Cúria, mais missão. O futuro está na "purificação" e na globalização da fé.
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Efeito Vatileaks: um consistório sem italianos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU