25 Outubro 2012
Um dos chavões mais populares que estão circulando neste Sínodo dos Bispos é o chamado à "conversão pastoral", ou seja, uma espécie de mudança de coração e de mente a respeito de como a Igreja atua. O termo surgiu 18 vezes durante os discursos do público e veio à tona novamente nos relatórios dos grupos de trabalho.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 23-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Referências à "conversão pastoral" foram especialmente comuns entre os latino-americanos, já que essa foi uma das principais notas de uma assembleia do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), em Aparecida, Brasil, em 2007. No entanto, o termo também foi invocado por bispos e participantes da Polônia, Togo, França e Itália, assim como por algumas autoridades vaticanas.
Normalmente, o que as pessoas entendem por isso é uma mudança da manutenção para a missão – isto é, de manter a maquinaria da Igreja institucional funcionando junto para um foco renovado sobre o alcance missionário e a conversão de "uma pessoa por vez".
Em alguns casos, no entanto, a "conversão pastoral" também pode ser um marcador de uma outra ideia: que as dificuldades missionárias da Igreja não decorrem meramente de problemas externos, como o secularismo ou a hostilidade midiática, mas também de seus próprios defeitos e falhas internos.
Nesse sentido, um apelo à "conversão pastoral" pode denotar um espírito autocrítico e uma disposição de assumir que talvez a Igreja precise de alguma limpeza interna.
Esse espírito autocrítico foi indicado em um relatório elaborado por um grupo de fala inglesa liderado por Dom Kieran O'Reilly, bispo de Killaloe, Irlanda, que sugeriu que talvez o crescimento da secularização reflita "a nossa própria vida medíocre como cristãos".
Na mesma linha, um grupo espanhol liderado por Dom Ricardo Blázquez Pérez, arcebispo de Valladolid, Espanha, concluiu o seu relatório chamando todos na Igreja a "reconhecer conscientemente as suas falhas e pecados".
Ele veio à tona, no entanto, no relatório de outro grupo espanhol liderado pelo bispo auxiliar Santiago Jaime Silva Retamales, da Colômbia, que atua como secretário-geral do Celam.
O grupo de Silva disse que chegou a hora de "um profundo exame de consciência da Igreja com relação a si mesma".
"Nós não falamos da Nova Evangelização apenas porque os outros mudaram", disse o relatório. "Chegou a hora em que devemos nos perguntar: quais são os pecados da Igreja que nos levaram a uma Nova Evangelização?"
"Uma status quaestionis da Igreja em si mesma e do seu lugar no mundo é inevitável", disse o grupo.
Será interessante avaliar até que ponto essa disposição de formar um foco crítico sobre as deficiências da Igreja – e até que ponto eles representam um obstáculo à evangelização – irá sobreviver nas proposições.
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Enquanto os pequenos grupos estavam fazendo os seus relatórios ao longo do fim de semana, eles ouviram um forte apelo para uma espécie de "conversão pastoral" de uma leiga consagrada polonesa, a Dr. Ewa Kusz, ex-presidente de uma associação internacional de institutos seculares da Igreja.
"No meu trabalho, no ambiente que me cerca, eu me encontro com indivíduos feridos que estão famintos de amor, que não raramente sentem ressentimento ou indiferença com relação a Deus", disse Kusz os bispos. "Eu me encontro com pessoas que anseiam por plenitude, amor, beleza e harmonia, buscando isso em muitos lugares diferentes – infelizmente, apenas raramente na Igreja".
"Às vezes, a sua experiência da Igreja, o seu encontro com 'pessoas da Igreja', por uma razão ou outra, os feriu", afirmou Kusz.
Ela sugeriu que os membros de institutos seculares, que vivem a sua vocação no mundo secular, podem oferecer presença e conforto para as pessoas que se sentem feridas pela Igreja.
"Podemos levar esperança para a vida de indivíduos que, inicialmente, se envolveram em sua própria dor, se viram diante de um abismo de solidão e de desespero, muitas vezes sem ter sequer a esperança de discernir uma solução concreta, ou enfrentando enormes dificuldades para perdoar aqueles que lhes fizeram mal", disse ela.
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A necessidade de uma ''conversão pastoral'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU