Por: André | 30 Agosto 2012
Ainda é muito cedo para saber se o caso em que o novo arcebispo de San Francisco, Salvatore Cordileone, se envolveu terá consequências e quais seriam sobre sua próxima missão. Cordileone foi preso na sexta-feira à noite perto do campus da Universidade de San Diego porque tinha um elevado nível de álcool no sangue, pelo menos superior ao permitido pela lei do Estado da Califórnia.
A reportagem é de Andrea Tornielli e está publicada no sítio Vatican Insider, 29-08-2012. A tradução é do Cepat.
O prelado – expoente da nova guarda conservadora do episcopado norte-americano e que foi transferido para a diocese de San Francisco no dia 27 de julho após três anos na diocese de Oakland, além de paladino da batalha contra os casamentos entre pessoas do mesmo sexo – estava levando a sua mãe de 82 anos para a sua casa depois de um jantar com amigos.
Cordileone pediu desculpas e declarou que se envergonha pela desonra que provocou à Igreja e a si mesmo; garante que quer pagar sua “dívida com a sociedade”. A chegada à nova diocese deverá acontecer no dia 4 de outubro. Cinco dias depois, o arcebispo, que passou 9 horas em uma cela da polícia e obteve a liberdade sob fiança, terá que se apresentar num julgamento.
A opinião pública do país é particularmente sensível às infrações cometidas por pessoas que têm algum papel na vida pública. Como se deduz dos testemunhos de um oficial da polícia que prendeu o novo arcebispo de San Francisco (e outras dez pessoas que dirigiam depois de ter bebido muito), Cordileone era um “motorista comprometido” e não um “bêbado”; comportou-se gentilmente com os agentes sem criar nenhum problema e admitiu as próprias responsabilidades com o comunicado.
Mas a infração em que incorreu, além do mais em um momento muito delicado que precede a sua entrada na nova diocese (não isenta de algumas polêmicas midiáticas por suas posturas em relação aos homossexuais), representa uma imprudência que já causou comentários de algumas personalidades, inclusive na hierarquia norte-americana, sobre uma possível renúncia.
Uma hipótese que muitos observadores descartam, como David Gibson, que recordou no Washington Post que já houve casos no passado de outros bispos que haviam sido presos por dirigir depois de terem bebido demais, “mas renunciaram apenas quando a infração envolvia outro crime, como o de ter abandonado o local de um acidente ou se haviam encontrado sérios problemas de alcoolismo”.
Além disso, saiu em defesa do arcebispo, para minimizar o fato, o jesuíta liberal Thomas Reese, que disse, após ter recordado os 10 anos de episcopado de Cordileone em San Diego e em Oakland, que o religioso não é um “alcoolista fora de controle”. “Não há nenhuma necessidade real de que renuncie”, concluiu Reese e sugeriu ao arcebispo que falasse com seus fiéis: “O que aconteceu poderia torná-lo mais humano”.
As desculpas do arcebispo foram imediatas e, no momento, tudo parece indicar a tentativa de aplacar a questão. Os sítios das dioceses de Oakland e de San Francisco não publicaram nada a respeito.
E embora em alguns blogs ou sítios alguns comentaristas anônimos tenham lançado inclusive a hipótese de que poderia se tratar de um complô ou de uma armadilha contra o arcebispo, como vingança por algumas de suas posturas, o que aconteceu até agora não causou maiores polêmicas, embora a notícia tenha tido uma enorme repercussão nos meios de comunicação local.
No fundo, a campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos pode favorecer Cordileone: não parece um bom momento para se granjear a inimizade da Igreja, enquanto se aproxima uma eleição na qual os dois grandes partidos se mostram muito interessados em ganhar o voto dos católicos, como demonstra a dupla “bênção” que ambos pediram ao cardeal de Nova York, Timothy Dolan, para as convenções dos democratas e dos republicanos.
O caso, no entanto, deveria colocar algumas questões sobre a forma como algumas figuras eclesiásticas e certas nomeações são apresentadas à opinião pública, destacando não apenas a férrea ortodoxia no âmbito doutrinal, mas também a mudança de direção em relação ao passado. Muitas vezes se corre o risco de descrever alguns novos bispos com a etiqueta de “acoitadores” encarregados de endireitar as dioceses.
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O caso Cordileone e as eleições nos Estados Unidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU