17 Julho 2020
Jesus contou outra parábola à multidão: «O Reino do Céu é como um homem que semeou boa semente no seu campo. Uma noite, quando todos dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e foi embora. Quando o trigo cresceu, e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. Os empregados foram procurar o dono, e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’. O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os empregados lhe perguntaram: ‘Queres que arranquemos o joio?’. O dono respondeu: ‘Não. Pode acontecer que, arrancando o joio, vocês arranquem também o trigo. Deixem crescer um e outro até a colheita. E no tempo da colheita direi aos ceifadores: arranquem primeiro o joio, e o amarrem em feixes para ser queimado. Depois recolham o trigo no meu celeiro!’».
E Jesus contou outra parábola: «O Reino do Céu é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E se torna uma árvore, de modo que os pássaros do céu vêm e fazem ninhos em seus ramos».
Jesus contou-lhes ainda outra parábola: «O Reino do Céu é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado».
Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, para se cumprir o que foi dito pelo profeta: «Abrirei a boca para usar parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo».
Então Jesus deixou as multidões, e foi para casa. Os discípulos se aproximaram dele, e disseram: «Explica-nos a parábola do joio». Jesus respondeu: «Quem semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos. Assim como o joio é recolhido e queimado no fogo, o mesmo também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará os seus anjos, e eles recolherão todos os que levam os outros a pecar e os que praticam o mal, e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça».
Leitura do Evangelho segundo Mateus 13,24-43 (Correspondente ao 16º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
No evangelho deste domingo Jesus continua seu ensino através de parábolas. Depois do Sermão do Monte (Mt 5-7) Jesus realiza o envio missionário (Mt 10) e agora explica-lhes a mensagem do Reino com parábolas. Desta forma mostra-lhes a presença dos sinais do Reino e a descobri-los no seu entorno.
As parábolas são a linguagem escolhida por Jesus para serem compreendidas pelos ouvintes. É uma linguagem simples, da vida quotidiana e que trazem uma mensagem que leva a uma mudança, a repensar o agir e corrigir as atitudes necessárias. Através das parábolas podemos conhecer a capacidade de observação de Jesus, de apreciar nas atitudes e no proceder quotidiano uma outra realidade que não é visível à primeira vista. Jesus está sempre ao lado das pessoas no seu dia a dia. Conhece a vida e as dificuldades dos agricultores, os tipos de sementes, os problemas da terra; sabe do trabalho das mulheres para fazer uma boa massa, conhece a necessidade de um bom fermento e a mistura adequada com a farinha.
Pode-se dizer que Jesus é um contemplativo porque ele “sabia ver” com o olhar do Espírito. “Jesus se aproximou dos oprimidos, pobres, doentes, excluídos e marginalizados. Compartilhou sua condição, aceitando ser executado como um pária”. “A “mística dos olhos abertos” nos incita a estar acordados, a não relaxarmos, a pensar na dor alheia: “Nosso amor a Deus se expressa e consome em nossa relação com os outros, em nosso encontro com eles.”
A narrativa deste domingo oferece três parábolas, a primeira ilustra a atitude de um semeador diante das dificuldades que se apresentaram na sua semeadura, as outras duas narram simbolicamente algumas características do crescimento do Reino de Deus.
A parábola do joio no meio do trigo continua o tema da parábola do semeador e a gratuidade do Amor de Deus. Mas se acrescenta um elemento novo: o joio. Apesar de o semeador saber que essa erva não provém de sua semeadura, ele aparentemente não faz nada, até parece que não se preocupa com a presença do joio em seu campo. Sua tranquilidade contrasta com a ansiedade de seus empregados: “Queres que arranquemos o joio?”. E podemos perguntar-nos: por que o semeador atua assim? Parece demasiado calmo e até despreocupado pela sua própria semente.
“Pode acontecer que, arrancando o joio, vocês arranquem também o trigo”.
O semeador se preocupa pelo trigo que deve crescer, mas parece não ter problema que o trigo e o joio cresçam juntos. Não é preciso separá-los no imediato ou agir com ansiedade e enganados por um excesso de “cuidado do trigo”. O olhar do semeador é outro e seu agir responde a outra lógica.
No nosso mundo há diferentes sinais da presença do Reino de Deus, que cresce em silêncio, sem fazer muito barulho. Mas também constatamos outros acontecimentos, situações, estruturas que nada têm a ver com a proposta humanizadora de Jesus. E assim como aconteceu com a comunidade de Mateus, também nos perguntamos: por que não há uma intervenção de Deus na injustiça, na crescente pobreza, na des-humanização de tantas pessoas submetidas à escravidão?
Por que esse joio não é arrancado de imediato? É preciso que continue crescendo?
A resposta do dono da colheita parece quebrar a impaciência de seus trabalhadores. Por um lado, mostra-se sábio, ao reconhecer o tipo e características da semente semeada pelo inimigo, o joio. E por outro lado, junto com a sabedoria, surpreende a paciência que não deve ser confundida com passividade.
Por isso convida-nos a olhar além do imediato, a ter seu olhar que continuamente está trabalhando no coração de cada ser humano, na história, na criação ininterruptamente. A paciência e presença de Deus são o motor de vida e esperança da comunidade cristã de todos os tempos.
As parábolas seguintes buscam explicar como, em meio às dificuldades, o reino de Deus cresce com lógicas diferentes das que estamos acostumados/as. O evangelista compara o reino de Deus a uma semente de mostarda, a menor de todas as sementes! Por quê?
O Deus de Jesus Cristo ama a pequenez! Assim aconteceu com Jesus durante toda sua vida. Nasceu em Belém num pequeno povoado, quase desconhecido, viveu sua vida no anonimato, somente conhecemos o acontecido nos últimos anos, e morreu numa cruz, sem outra companhia além de algumas pessoas. Uma vida pequena para os que procuram o grandioso, uma vida como a vida do povo, das pessoas na sua fragilidade e pequenez. Deus assume o ritmo de seu povo, sabe de nossa fragilidade, mas nele confia e nos impulsiona a não desistir, a não ter medo da minoria, a continuar nosso trabalho pela justiça e solidariedade, para que todos/as vivam a dignidade de filhos e filhas de Deus.
A semente de mostarda se torna árvore, atingindo, segundo a espécie, quatro ou nove metros de altura! A outra parábola também nos fala de pequenez: o reino de Deus é comparado com o fermento usado pela mulher para fazer pão.
Dessa maneira, o evangelista nos mostra que o reino de Deus acontece no cotidiano de nossa vida, na simplicidade do dia a dia. E sem dúvida as mulheres têm um papel muito importante na construção desse reino. Tanto a semente de mostarda como o fermento escondido na farinha são sinais pequenos e quase imperceptíveis. Daí a importância de ter olhos para ver o agir de Deus na história e ouvidos para escutar seus apelos e convites.
Como disse o Papa Francisco: “Recordando que Jesus fala em suas parábolas de “coisas do dia a dia” – o fermento, que não fica como simples fermento, mas que se mistura com a farinha, “está, portanto, em caminho e faz o pão”. Depois o grão de mostarda, que não permanece em grão, mas que morre e dá vida à árvore. “Fermento e semente estão em caminho para fazer algo, mas para fazer isto, morrem”. E continua dizendo: “Qual é o comportamento que o Senhor nos pede para que o Reino de Deus cresça e seja pão para todos e habitação, também, para todos? A docilidade. O Reino de Deus cresce com a docilidade à força do Espírito Santo. A farinha deixa de ser farinha e se torna pão, porque é dócil à força do fermento, e o fermento se deixa amassar com a farinha… não sei, a farinha não tem sentimentos, mas deste deixar-se amassar se pode pensar que há algum sofrimento ali, não? E depois, se deixa assar. Mas, também o Reino… mas o Reino cresce assim, e ao final é alimento para todos”.[...]
“A farinha é dócil ao fermento e também a semente é dócil para ser fértil, e perde a sua entidade de semente e se torna outra coisa, muito maior: se transforma”. Assim é o Reino de Deus: “em caminho”.
Peçamos ao Senhor agir desde sua lógica e deixar-nos transformar pelo seu Espírito para ter sua paciência e seu olhar que sabe descobrir no pequeno a força de transformação que há escondida.
No mistério da terra
“sem saber como” (Mc 4,27),
se gesta a vida nova
no grão de trigo.
Um muro de Berlim,
tão furado pelas balas,
tão manchado pelo sangue,
um dia se converte
em brinquedo de crianças,
“sem saber como”.
Todos querem apoderar-se
da espiga madura.
poucos querem enterrar-se
como grão de trigo
onde se forma o futuro
“sem saber como”.
Todos se lançam às ruas
com danças e bandeiras
quando a liberdade explode.
poucos se escondem vivos
na escuridão clandestina
onde se busca às apalpadelas
“sem saber como”.
Todos sonham com o Reino,
prometem-no,pintam-no, e cantam-no.
poucos o alimentam
no gérmen diminuto
de intuições e de insônias
sem horários e sem pagamento
onde começa trêmulo
“sem saber como”.
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear as coisas internamente
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