07 Novembro 2018
Capa do livro | Divulgação
Dá vontade de revelar o final. Mas, não se pode. Porque Il Giorno del Giudizio [O Dia do Juízo, em tradução livre], o livro que Andrea Tornielli e Gianni Valente escreveram (para Piemme, na Itália), não é um romance, mas uma investigação jornalística com o ritmo e as surpresas de um romance policial, cujo final, que ainda não foi escrito, poderia sacudir os fundamentos milenares da solidez vaticana. Uma investigação com muitíssimos documentos exclusivos e depoimentos inéditos, que retrata com precisão de cirurgião o assalto ao Pontificado do Papa Bergoglio por parte de forças que podem ser identificadas em uma mesma sensibilidade conservadora e que, após seis anos tramando na sombra, decidiu revelar a própria opinião sobre um padre argentino revolucionário, capaz de voltar a acender a fé nos corações de milhões de pessoas, dando seu justo lugar aos desejos das hierarquias eclesiásticas e concentrando sua atenção nos pobres, humildes e deserdados. A mensagem é mais importante que o medo. Um tremendo chamado às origens do cristianismo que atemoriza o poder consolidado.
A reportagem é de Andrea Malaguti, publicada por Vatican Insider, 06-11-2018. A tradução é do Cepat.
Mas, o poder não se deixa atacar sem reagir. E neste caso reage com uma ferocidade tal que às vezes dá a impressão de que a Igreja contemporânea se tornou mais um “campo de batalha que um hospital de campanha”. O terreno eleito para o assalto é o mais pedregoso: a pedofilia. Essa mesma praga que o arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-núncio apostólico nos Estados Unidos, em seu relatório, utilizou instrumentalmente e lançou contra o Pontífice que mais a combateu.
Tornielli e Valente, dois dos vaticanistas mais conhecidos e informados em nível internacional, escrevem na introdução a Il Giorno del Giudizio: “O que estamos presenciando não é somente o surgimento do mysterium iniquitatis, do mistério do mal e do pecado que a ataca por dentro e que sempre existiu. A novidade de nossos tempos é que falta, precisamente na Igreja e também em alguns de seus pastores, a consciência do que é a Igreja [...]. É uma mescla autorreferencial e destruidora. As páginas seguintes pretendem ajudar o leitor para que distinga entre a verdade, verdades pela metade e a desinformação divulgada por vários autoproclamados “meios de comunicação católicos”, acompanhando-o na compreensão do que verdadeiramente está acontecendo”. A viagem não somente é emocionante. Também é reveladora.
Tornielli e Valente, titulares de uma relação privilegiada com o mundo de Bergoglio, não se apoiam em seus sentimentos ou convicções pessoais. Baseiam-se nos documentos. Utilizando como ponto de partida precisamente esse “comunicado” de onze páginas, intitulado: “Testemunhos nos quais o ex-núncio Viganò reconstrói o caso de Theodore McCarrick, cardeal e arcebispo de Washington de 2000 a 2006, acusado de abusos sexuais de seminaristas adultos e de um menor”. Viganò acusa dezenas de altos eclesiásticos por ter acobertado McCarrick e aponta o dedo contra o Papa Francisco para pedir sua renúncia. Mas, o quanto são reais e têm fundamento as acusações?
Após ler este esplêndido livro-documento que também critica certo mundo “Bergoglio-chic” acostumado a projetar sobre o Papa a própria agenda e os próprios desejos, parece fácil responder: são completamente infundadas. Contudo, Il Giorno del Giudizio vai muito além. Descreve as tramas, os protagonistas, os objetivos e as razões de todos os venenos, não só para ordenar as coisas segundo ocorreram, mas também (e como sem pretender) para devolver a dignidade a esses sacerdotes que, longe dos complôs, realizam coerente e sinceramente o próprio trabalho.
Há duas Igrejas aparentemente: uma das verdades e outra do diabo. E tanto é assim que, no dia 12 de setembro, o Washington Post escreveu:Time is running out, Pope Francis. Acaba-se o tempo, Papa Francisco. E poderia provocar um cisma ou o renascimento de uma Igreja nova e finalmente pronta para recobrar o próprio papel de autêntica guia da cristandade.
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O Papa, Viganò e a guerra dos dossiês: todos os detalhes de um livro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU