27 Outubro 2018
O que significa desejar e o que desejamos mais que tudo? Até onde o desejo do homem pode levar? Ainda é possível desejar para o homem de hoje? Massimo Recalcati vai apresentar essas perguntas aos estudantes que vão tentar responder com escritos, vídeos e debates filosóficos.
O comentário é de Marco Ferrari, publicada por La Repubblica, 25-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mais de quatro mil alunos escutaram Massimo Recalcati na sexta-feira, 26 de outubro, por ocasião da palestra inaugural do concurso nacional de filosofia Romanae Disputationes. Alunos e professores se reuniram durante a tarde livremente, em suas próprias escolas, para acompanhar a aula transmitida ao vivo em streaming em Repubblica.it das 15h às 17h. Atraídos não por uma coisa, por um objeto, mas por um desejo de compreender mais, pela necessidade de escutar uma voz firme e pacata, uma voz capaz de esclarecer aquela parte de nós mesmos, que é a mais humana, mas a mais inexplicável racionalmente, que é o desejo. Há algo mais desejável do que ter tempo e espaço para conhecer a nós mesmos? Há algo de mais interessante do que poder desfrutar de um mestre que nos oferece seu tesouro mais precioso?
Vamos deixar nossas ocupações de lado por um momento. Vamos voltar a cuidar de nós e veremos surgir uma estranha energia, sentiremos claramente um espinho fincado em algum lugar dentro de nós, que nunca nos deixa tranquilos. O desejo, fenômeno ambíguo que denota nosso estado limitado, inacabado, ainda não realizado, que ao mesmo tempo nos arrasta sempre para fora de nós mesmos. Uma tensão invencível para alcançar algo ou alguém que se mostra como uma promessa de felicidade. No trabalho, na pesquisa, na satisfação dos prazeres e impulsos do instinto, no exercício do poder, na produção e fruição de obras de arte sempre se esconde um motor invisível que chamamos de desejo. Uma tensão inexorável que nunca é preenchida na dimensão finita da necessidade física, mas que joga no campo do infinito ao qual ocultamente tendemos.
No estudo da filosofia, na escola, abre-se essa oportunidade fascinante: penetrar corajosamente na verdade profunda das experiências mais simples e aparentemente banais e descobrir a riqueza do nosso estar vivos, agora. Para empreender o caminho da filosofia, uma única condição é necessária: a coragem de estar no limiar de uma admiração cheia de medo, junto com a humilde aceitação de nossa pobreza estrutural.
É Platão no Banquete que nos alertar que não somos nem deuses nem animais, mas uma estranha criatura que vive na terra média, onde a ignorância faz fronteira com a sabedoria: "Nenhum deus filosofa ou deseja ser sábio - pois já é -, assim como se alguém mais é sábio, não filosofa. Nem também os ignorantes filosofam ou desejam ser sábios; pois é nisso mesmo que está o difícil da ignorância, no pensar, quem não é um homem distinto e gentil, nem inteligente, que lhe basta assim. Não deseja portanto quem não imagina ser deficiente naquilo que não pensa lhe ser preciso" (Platão, O Banquete, 204A).
O sentimento percebido em nossa necessidade nos abre, para Platão, ao desejo pelo que sentimos estar faltando. A filosofia, na sala de aula como na vida adulta, nos ajuda a romper com o questionamento racional a superfície cega e obtusa das necessidades imediatas e sempre nos leva sempre para mais além da nossa mera animalidade, em vista um horizonte infinito. Se a nossa vida nos aparece fragmentada e finita, o desejo nos desperta em uma dupla direção: por um lado em direção a um objeto infinito sempre deslocado mais para frente com relação ao nosso gesto de apreendê-lo, pelo outro, para a unidade originária que está às nossas costas e da qual sentimos saudade. Discutir a natureza do desejo, arrancando-o às obviedades do naturalismo e à mitologia das pulsões do inconsciente, é uma oportunidade para poder voltar a olhar para o mistério de onde viemos e recuperar, dentro da época da técnica, uma postura ainda humana, ou seja, livre e racional, para enfrentar o presente dentro e fora da escola.
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Em debate a natureza do desejo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU