17 Setembro 2018
O Brasil nem piorou, nem melhorou no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede o progresso dos países em saúde, educação e renda. A posição do país no ranking de 2017, divulgado nessa sexta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), não mudou. Além disso, o IDH do país é praticamente o mesmo dos dois anos anteriores.
A reportagem é de Amanda Rossi, publicada por BBC Brasil, 14-09-2018.
Um dos aspectos que mais frearam o avanço brasileiro foi a queda da renda da população, causada pela crise econômica. A renda per capita, um dos critérios que compõem o IDH, caiu em 4% de 2015 a 2017 - de 14,3 mil dólares por ano para 13,7 mil dólares (cerca de R$ 57 mil anuais). Já os indicadores de educação e saúde tiveram ligeira melhora.
Além disso, o relatório destaca que o Brasil tem a nona maior desigualdade de renda do mundo, medida pelo coeficiente de Gini. É o país mais desigual do continente americano. No mundo, o pior é a África do Sul, que viveu durante quase meio século um regime de segregação racial, o apartheid.
Veja abaixo cinco destaques do novo relatório do IDH sobre o Brasil e dois destaques mundiais:
O Brasil manteve a posição 79 no ranking do IDH, em uma lista de 189 países. Assim, continua a ser considerado um país de IDH alto - as categorias são muito alto, alto, médio e baixo.
Também estão no grupo do Brasil países como China, Cuba, México, Venezuela e Líbia. Já Chile, Argentina e Uruguai estão no grupo de elite, de IDH muito alto.
O IDH varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, melhor é a situação de um país. Em 2017, a Noruega, que tem o melhor IDH do mundo, pontuou 0,953. Na outra ponta, o Níger registrou 0,354.
O Brasil, por sua vez, ficou com 0,759, em 2017. É praticamente o mesmo valor de 2015, 0,757.
Isso representa uma inversão de tendência. De 1990 a 2014, o IDH do Brasil vinha crescendo significativamente. Era de 0,611, em 1990, subiu para 0,684, em 2000. Depois, em 2010, atingiu 0,727. Em 2014, chegou a 0,752.
Desde então, a degradação da situação econômica limitou o crescimento do IDH. Por outro lado, entre 2015 e 2017, o Brasil teve leves avanços na expectativa de vida (de 75,3 anos para 75,7 anos) e na média de anos de estudo (de 7,6 para 7,8 anos). Já os anos esperados de escolaridade (o tempo de estudo oferecido pelo país) permaneceram os mesmos, 15,4.
Outro ponto apontado pelo Pnud é o desemprego da população jovem. No Brasil, chega a 30,5%. É o maior percentual da América do Sul.
Além disso, um de quatro jovens brasileiros é "nem-nem" - não trabalha, nem estuda. É um sinal da falta de oportunidade de empregos e de estímulo à educação no país.
O PNUD também divulgou o Índice de Desenvolvimento de Gênero, que leva em conta a desigualdade entre homens e mulheres, também nos quesitos saúde, educação e renda.
No Brasil, os indicadores das mulheres são melhores que os dos homens em saúde e educação, mas a renda das mulheres é 43% menor. Enquanto os homens brasileiros ganham 17 mil dólares por ano, as mulheres recebem 10 mil dólares por ano.
Outro fator de desigualdade é a presença feminina na política. No Brasil, as mulheres ocupam apenas 11% das cadeiras do Congresso. É o menor número da América do Sul.
O coeficiente de Gini coloca o Brasil na posição de nono país mais desigual do mundo, segundo os dados divulgados nessa sexta-feira.
O país fica à frente, apenas, de África do Sul, Namíbia, Botsuana, Zâmbia, República Centro-Africana, Lesoto, Moçambique e Suatini (ex-Suazilândia) - todos na África.
A desigualdade leva a uma perda de 24% no IDH do Brasil. Como o IDH tem três dimensões - saúde, educação e renda - o PNUD leva em consideração a desigualdade em cada um deles.
Segundo a instituição, a principal dimensão da desigualdade brasileira é a de renda. Em seguida, desigualdade na educação e a desigualdade na expectativa de vida.
Na Índia, por exemplo, cuja desigualdade gera uma queda no IDH parecida com a do Brasil, o principal componente é a desigualdade na educação.
Nos últimos cinco anos, os países que mais caíram no ranking geral do IDH são Síria (queda de 27 posições), Líbia (queda de 26 posições), Iêmen (queda de 20 posições) e Venezuela (queda de 16).
Os três primeiros sofreram com guerras civis, que impactaram as condições de saúde, educação e renda. Já os dados da Venezuela caíram devido à degradação da situação econômica e política do país.
Ainda assim, a Venezuela está uma posição à frente do Brasil no ranking do IDH - nos anos de Hugo Chávez, o país viveu um rápido crescimento.
Com o passar dos anos, os países avançaram em escolaridade, colocando mais crianças na escola. Mas o Pnud alerta que "estar na escola por mais tempo não significa possuir melhores capacidades e habilidades".
Nos países de baixo desenvolvimento humano, por exemplo, há em média 1 professor para cada 41 alunos do ensino primário. Já nos países de alto desenvolvimento humano, existe cerca de 1 professor para cada 14 alunos. Entre um e outro, há um longo caminho para percorrer.
Outros desafios são a capacitação dos professores e o acesso a tecnologias da comunicação.
O alerta do Pnud também vale para o Brasil. Os indicadores do Pisa, que medem a qualidade do aprendizado em matemática, leitura e ciência, estão abaixo dos latino-americanos Argentina, Chile, Uruguai, México, Colômbia.
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Desigualdade, queda na renda e desemprego entre jovens: o que o novo relatório do IDH diz sobre o Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU