22 Agosto 2018
Todos conhecem a teoria do Big Bang. Poucos, no entanto, sabem que um dos primeiros a entender que o universo está se expandindo e, portanto, teve um começo, foi um sacerdote e cosmólogo belga. George Lemaître.
A reportagem é de Anna Meldolesi, publicada por Corriere della Sera, 18-08-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sua contribuição para essa descoberta, entre as mais fascinantes de 1900, foi por muito tempo ofuscada pela fama de Edwin Hubble. A lei de velocidade e distância de galáxias que estudamos na escola é atribuída apenas ao cientista norte-americano, o mesmo a que é dedicado um dos maiores telescópios espaciais.
Bem, essa assimetria histórica poderá ser corrigida oficialmente durante a assembleia da União Astronômica Internacional, que na próxima semana reunirá em Viena mais de três mil cientistas de 88 países.
A resolução B4 será votada em 30 de agosto e propõe rebatizar de maneira mais justa a fórmula que está na base da cosmologia moderna ("lei de Hubble-Lemaître"), antecipou ontem o secretário-geral da IAU, Piero Benvenuti. Seu discurso, significativamente publicado em Avvenire, tem a expectativa de que se inaugure uma nova era nas relações entre astronomia e teologia, no nome de Lemaître e nos progressos realizados pela ciência.
"A ideia de dar-lhe o devido reconhecimento é compartilhável e sacrossanta", concorda o astrofísico da Universidade Tor Vergata, Amedeo Balbi. "Mas poderia levar algum tempo para nos acostumarmos com isso, a chamamos de lei de Hubble há quase um século", diz Balbi ao Corriere.
Muitos aficionados ainda têm dificuldade para aceitar o voto do Iau que, em 2006, excluiu Plutão da família dos planetas sistema solar. Mais que ciência, às vezes contam mais a familiaridade e a afeição. Mas, entre os envolvidos, a contribuição de Lemaître é bem conhecida, e voltou à tona quando a revista Nature revelou a solução de uma investigação histórica e científica. Lemaître chegou certamente antes que Hubble, com um artigo inspirado pela Relatividade Geral de Albert Einstein e publicado em 1927 em uma revista menor em francês. Depois, quando o texto foi traduzido para o inglês, em 1931, um parágrafo fundamental foi omitido, a ponto de levar à suspeita de uma censura em favor do Hubble.
O cientista estadunidense, no entanto, foi inocentado por uma carta encontrada por Mario Livio, do Space Telescope Science Institute em Baltimore, onde o próprio Lemaître explica ter cortado as observações superadas, no meio tempo, pelo trabalho do colega mais conhecido.
Esse caso, em suma, é mais uma demonstração de que a ciência não é feita por gênios solitários e eurekas definitivos, mas também pode ser contado como um exemplo virtuoso, quando "a honestidade intelectual e a modéstia levaram a priorizar o progresso da ciência à visibilidade pessoal", para citar a Resolução.
Benvenuti faz questão de lembrar o duplo papel de Lemaître: um astrônomo e um padre. Identificar o Big Bang científico com o bíblico Fiat Lux seria um ingênuo exagero, e foi ele que o desaconselhou a Pio XII. Para continuar por esse caminho, seria conveniente atualizar as formulações daqueles dogmas de fé que, com o avanço do conhecimento “se tornaram incompreensíveis e correm o risco de se transformar em um fardo insuportável para os homens da ciência", como pode ser lido em Avvenire.
"Uma visão religiosa ou espiritual do mundo não pode entrar em conflito com a realidade que emerge da investigação científica. No passado, a Igreja nem sempre foi impecável sob esse ponto de vista, mas os tempos felizmente mudaram", comenta Balbi.
Como pode se ver, há o suficiente para desejar que a Lemaître seja conferida a co-autoria da lei da expansão do universo.
E, porque não, até mesmo uma missão espacial.
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Os astrônomos e colega sacerdote: vamos prestar honra ao gênio de Lemaître - Instituto Humanitas Unisinos - IHU