08 Mai 2018
A China mostrou recentemente ao mundo seu primeiro avião de passageiros fabricado "em casa".
Fez o mesmo com seu primeiro trem-bala - que viaja a 400 km/h. E com suas estradas inteligentes que vão recarregar carros elétricos em movimento, seus robôs e com seus novos satélites.
Símbolos que se somam às fábricas e centros de pesquisa que a Apple possui em território chinês e aos de indústrias automotivas como GM, Volkswagen e Toyota.
Essas e outras operações fazem parte do plano "Made in China 2025", que abriu "a torneira" para movimentar bilhões de dólares com o objetivo de transformar o país em uma potência industrial e tecnológica.
A reportagem é de Cecilia Barría, publicada por BBC Brasil, 08-05-2018.
Pequim disse abertamente que quer deixar para trás sua reputação de fornecedora de sapatos, roupas e brinquedos baratos. E que quer passar de país de mão-de-obra de baixo custo a um país de engenheiros.
O plano com o qual quer "conquistar o mundo" é o mesmo que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, avaliou como "roubo de tecnologia" que ameaça a segurança nacional e a livre concorrência e que agora está no centro de uma potencial guerra tarifária entre os dois países.
A estratégia chinesa tanto preocupa que o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, disse que era "aterradora".
"Eles têm sido a fábrica do mundo e agora querem ser o centro tecnológico do mundo".
A China considera suas aspirações completamente legítimas e classifica as acusações dos Estados Unidos como falsas.
"Não se trata de segurança nacional. É discriminatório", disse o vice-ministro das Finanças, Zhu Guangyao.
Em entrevista à BBC Mundo - o serviço em espanhol da BBC -, Ning Wang, co-autor do livro Como a China se tornou Capitalista e pesquisador senior do Instituto Ronald Coase diz que o "Made in China 2025" é "desejável e benéfico para a China e os outros países".
"Como a China é o maior produtor de doutores universitários do mundo, tem a obrigação de ser mais inovadora".
No entanto, Ning adverte que a estratégia tem sido excessivamente focada em empresas estatais.
"O espaço para as empresas privadas deveria ser consideravelmente expandido para aumentar as chances de sucesso do plano", acrescenta.
Embora a estratégia de Pequim tenha sido anunciada em 2015, os analistas dizem que ela teve origem muito antes.
"A novidade é a grande quantidade de dinheiro alocada a esses programas, em combinação com mudanças mais agressivas para pressionar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia direta ou indiretamente", diz Douglas Fuller, especialista em política de tecnologia chinesa e professor da Universidade de Zhejiang, em entrevista à BBC Mundo.
A transferência de tecnologia ocorre por diferentes vias. Uma delas é a obrigação que as empresas estrangeiras têm de se associarem a empresas locais para entrar no mercado chinês.
Outra via são as aquisições de empresas estrangeiras que a China fez em setores estratégicos, como quando a Geely, a primeira montadora de automóveis independente da China, se tornou a maior acionista da alemã Daimler, dona da Mercedes-Benz, ao adquirir 9,7% das ações da montadora alemã.
Um outro caminho para essa transferência é garantido por uma série de regulamentações que condicionam a permanência dos gigantes tecnológicos em território chinês. A Apple, por exemplo, abriria seu primeiro centro de armazenamento de dados na China em conjunto com uma empresa local, para cumprir as novas regulamentações impostas pelo governo.
Uma "nuvem" com informações importantes que estará sob o manto de Pequim.
Fuller alerta para certos riscos do plano. Como o de o governo tender a selecionar empresas estatais para implementar suas políticas ou supor que pode comprar muita tecnologia estrangeira, algo que não parece tão simples porque gera resistência em lugares como Washington, Bruxelas, Tóquio, Seul ou Taipei, em Taiwan.
"A China está adotando a abordagem de "o vencedor leva tudo ", sem oferecer incentivos suficientes a outros governos para cooperar", acrescentou ele. "Os centros de inovação continuarão preocupados com as ações e intenções do país."
De acordo com Lester Ross, sócio encarregado do escritório de advocacia WilmerHale, de Pequim, e membro da Câmara de Comércio EUA-China, o plano de Pequim não propõe um campo de jogo com regras justas.
"O governo chinês oferece enormes subsídios que distorcem o mercado, reforçam as políticas de exclusão e pressionam as empresas estrangeiras a transferir sua tecnologia para a China", diz à BBC Mundo.
Isso lhes permite "criar campeões nacionais e efetivamente forçar a transferência de tecnologia", acrescenta.
A estratégia "Made in China" foi projetada, em especial, para dominar 70% do mercado interno em setores estratégicos até o ano 2025.
Para alcançar a meta, ela terá que enfrentar vários desafios, como a resistência internacional, a falta de espaços para que a iniciativa privada decole e uma posição de desvantagem histórica porque seus concorrentes começaram a corrida muitos anos antes, dizem os especialistas.
No entanto, o avanço silencioso da segunda maior economia do mundo poderia trazer surpresas antes do esperado.
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O ambicioso plano 'Made in China 2025' com que Pequim quer conquistar o mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU