20 Outubro 2017
Os párocos que não batizam os filhos de mães solteiras tem o coração fechado, sem a “chave do conhecimento”. O Senhor é amor gratuito, não “um amontoado de prescrições”. O Papa Francisco, durante a homilia da missa matutina de hoje, 19 de outubro de 2017, na capela da Casa Santa Marta, refletiu sobre a “gratuidade” da salvação, da proximidade do Senhor e da concretização das obras de misericórdia que Cristo deseja de cada ser humano. Ações de bem (materiais ou espirituais) com as quais se abre “a porta” a si mesmo e aos demais. Além disso, advertiu sobre a “mentalidade obtusa” daqueles que acreditam “na autossuficiência da salvação” mediante a lei.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada por Vatican Insider, 19-10-2017. A tradução é do Cepat.
O Pontífice, segundo apontou a Rádio Vaticano, partiu da passagem evangélica de hoje, do Evangelho de Lucas, na qual se lê sobre os escribas e fariseus que se consideram justos, e o Filho de Deus lhes faz perceber que só o Senhor é justo. O Bispo de Roma recordou que os doutores da lei “afugentaram o conhecimento”, e a consequência é que não entram “no Reino” e também não “deixam entrar os demais”.
Francisco explicou que “este dissipar a capacidade de compreender a revelação de Deus, de compreender o coração de Deus, de compreender a salvação de Deus - a chave do conhecimento -, podemos dizer que é um grave descuido. Esquece-se da gratuidade da salvação, esquece-se a proximidade de Deus e se esquece a misericórdia de Deus”. E os que “esquecem a gratuidade da salvação, a proximidade de Deus e a misericórdia de Deus, carregaram a chave do conhecimento”.
Então, descuida-se da gratuidade, que é “a iniciativa de Deus de nos salvar”, enquanto escribas e fariseus “se colocavam à parte da lei”. Assim, a salvação “está ali, para eles”, que chegam desta maneira a “um amontoado de prescrições” que são consideradas efetivamente a salvação. Contudo, desta maneira, “não recebem a força da justiça de Deus”, destacou o Papa.
A lei sempre é “uma resposta ao amor gratuito de Deus”, que assume a “iniciativa” de salvar a cada homem e mulher.
Quando “se esquece a gratuidade da salvação, se cai, se perde a chave da inteligência da história da salvação”, advertiu o Pontífice, razão pela qual também se perde “o sentido da proximidade de Deus”.
Para os que raciocinam desta maneira, “Deus é aquele que fez a lei. E este não é o Deus da revelação. O Deus da revelação é o Deus que começa a caminhar conosco de Abraão até Jesus Cristo, o Deus que caminha com seu povo. E quando se perde esta relação próxima com o Senhor, se cai nesta mentalidade obtusa que acredita na autossuficiência da salvação com o cumprimento da lei. A proximidade de Deus”.
Quando não se reza, “não se pode ensinar a doutrina” e tampouco “fazer teologia”, em especial “teologia moral”. De fato, insistiu Francisco, a teologia “se faz de joelhos, sempre perto de Deus”.
A proximidade de Deus está “no ponto mais alto de Jesus Cristo crucificado”. Por isso, as obras de misericórdia “são a pedra de toque do cumprimento da lei”, posto que toca a carne que sofre de Cristo, “Cristo que sofre em uma pessoa, seja corporal ou espiritualmente”.
E quando se perde a chave do conhecimento, corre-se o risco de cair na “corrupção”.
Em seguida, Francisco se concentrou nas “responsabilidades” dos pastores na Igreja: quando perdem ou carregam “a chave da inteligência”, fecham “a porta a nós e aos demais”. O Papa contou: “Em meu país, escutei várias vezes que havia párocos que não batizavam os filhos de mães solteiras, porque não tinham nascido no matrimônio canônico. Fechavam a porta, escandalizavam o povo de Deus. Por quê? Porque o coração destes párocos havia perdido a chave do conhecimento”.
E sem ir muito longe no tempo e no espaço, “há três meses, em um povoado, em uma cidade, uma mãe queria batizar seu filho recém-nascido, mas ela estava casada no civil com um divorciado. O pároco disse: “Sim, sim. Batizo a criança. Mas, seu marido é divorciado. Que fique fora, porque não pode estar presente na cerimônia”. Isto acontece hoje. Os fariseus, os doutores da lei não são coisas daqueles tempos, hoje, também existem muitos.
Por isso, “é necessário rezar por nós, pastores. Rezar para que não percamos a chave do conhecimento e não fechemos a porta a nós mesmos, nem às pessoas que desejam entrar”.
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Deus não é “um amontoado de prescrições”, mas, sim, amor gratuito. A homilia do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU