22 Junho 2017
"Não, eu não diria que a visita do Papa possa ser considerada uma compensação. Todos nós sofremos e pagamos por alguma coisa. Até mesmo o Papa passou por isso. E o que foi pago, o Papa não pode restituir, nem a Igreja, só Deus”. O Cardeal Gualtiero Bassetti, presidente da CEI (Confederação dos Bispos Italianos), assim comentou a visita do Papa Francisco a Barbiana. Um gesto que "simplesmente mostra que este homem, este sacerdote seguiu pelo caminho correto, foi um pastor fiel. E a Igreja hoje reconhece a sua profecia”. Nascido a Mugello, o Arcebispo de Perugia-Città della Pieve, conheceu muito bem o prior de Barbiana, é de casa. “Deus faz os profetas - acrescenta - e os faz em um determinado tempo, nunc pro tunc, para agora e para depois. E então eu digo que do padre Mazzolari precisamos hoje, e o mesmo vale para o padre Milani".
A entrevista é de Stefania Falasca, publicada por Avvenire, 21-06-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
A decisão de ir para Bozzolo e Barbiana é mais uma vez uma escolha em direção dos últimos.
"Como aquela de ir benzer as casas - continua o presidente da CEI - O que significa? Era necessário que o Papa fosse benzer as casas? Ele quis dizer: sacerdotes, não se esqueçam de visitar as suas famílias. São sinais exemplares que o Papa faz como pastor de toda a Igreja para que nós possamos segui-lo. É certamente um fato exemplar ir para os túmulos dos padres Mazzolari e Milani".
Na reflexão do cardeal não falta uma lembrança pessoal do padre Milani.
"Era um homem de inteligência criativa e que eu, por suas escolhas tão radicais e coerentes e pela primazia que ele deu para a consciência, muitas vezes comparo com Newman. Ele foi, pode-se dizer, um pouco como Jesus: um sinal de contradição".
Bassetti conta como se fosse ontem seu encontro com o padre Milani, na época em que era seminarista, quando ele saiu de lambreta de Florença com um amigo do seminário, secretamente, pois o reitor não lhe daria a permissão. “Mas tivemos a vontade de encontrar esse padre, que conhecíamos das revistas".
Aquele encontro ficou marcado em sua memória: "Em Barbiana, padre Milani veio ao nosso encontro na estrada: ‘Quem são vocês? ’, perguntou. Estávamos de batina e ele nos reconheceu como dois seminaristas. ‘Vocês pediram a permissão para o reitor? ’ – e acrescentou –‘Não. Pois bem, estão começando mal’, disse. ‘Se eu fosse o reitor jogaria os dois para fora do Seminário, porque são desobedientes’. Este era padre Milani”.
Muito se falou do paradoxo desta "desobediência obediente" do prior de Barbiana. O que o senhor acha disso?
Se o padre Milani não tivesse sido tão obediente, não faria sentido a visita do papa Francisco para Barbiana, porque teria sido um dos muitos sacerdotes anticonformistas que se distinguiram por seu caráter muito forte. Mas padre Milani não é tudo isso. Milani é um padre até o fim, um homem com absoluta fidelidade à Igreja e à sua consciência.
Eminência, o senhor falou sobre a primazia da consciência...
É a coragem sugerida por Deus para dizer a verdade, sem desobedecer a Igreja. Obedecer a Deus antes do que aos homens; e eles, Mazzolari e Milani, eles fizeram isso. Mas essas são constantes e diretrizes para a Igreja de todos os tempos.
Milani é um padre que depois da experiência Calenzano, bastante curta, ficou lotado por quinze anos, de 1952 a 1967 em Barbiana, onde foi pastor de apenas cerca de cem almas. Padre Milani ainda é mal compreendido em sua opinião?
Não acho que todos nós o tenhamos compreendido – ressalta o presidente da CEI - Quando sua mãe foi pela primeira vez a Barbiana, escreveu uma carta na qual dizia: "Lorenzo não tenha medo...vamos falar com o cardeal, mais cedo ou mais tarde, ele tira você de lá, não se preocupe". E ele lhe deu uma resposta áspera. Foi a única vez: "Você mede a dignidade de um padre pelo tamanho da paróquia. Mas o que importa se um pastor tem dez almas ou oitenta mil, quando é chamado a anunciar o Evangelho e ser um padre na obediência onde foi chamado. Estou feliz de estar em Barbiana e te digo que eu quero morrer em Barbiana". Milani foi um padre até o fim imbuído em sua missão pela graça de Deus. Nem Mazzolari nem Milani podem ser explicados sem o toque da graça de Deus, sem o seu apego aos sacramentos, à visão sacramental da Igreja.
Mazzolari e Milani, "sacerdotes autênticos" modelos que podem ser propostos também para a Igreja de hoje. Para Mazzolari está prestes a ser aberta a causa da canonização. De acordo com o senhor padre Milani é santo?
Lorenzo Milani é santo, da maneira como eu conheci, é um santo. “Além disso quem é o santo? O santo não é aquele que tem menos defeitos ou moralmente seu perfil é o mais elevado de todos; esta não é a santidade. O santo para mim é alguém que é vacinado com o Espírito Santo. E continua assim... mesmo com seu temperamento difícil, porque padre Lorenzo, por vezes, tinha formas de lidar quase no limite. Mas podemos dizer que é um santo, mesmo sem o halo reconhecido canonicamente, porque tudo nele nascia da pureza do coração e dessa forma ensinava e progredia na busca da perfeição, confiando na realidade dos sacramentos.
A sua observação não teria dificuldade de encontrar apoio até mesmo entre seus ex-alunos e aqueles que estiveram perto ao prior de Barbiana, mas que talvez não aprovem a sua canonização.
Você quer a minha opinião? Agora eu preferiria guardar o meu Lorenzo comigo, que para mim é um grande santo, mesmo sem o halo. Não há necessidade que padre Lorenzo faça milagres, porque sua vida foi um milagre.
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Padre Lorenzo Milani? Para mim, é um santo", diz presidente da Conferência Episcopal Italiana - CEI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU