26 Fevereiro 2017
Os problemas da convivência e do "nacionalismo branco", do medo e do preconceito, em um país onde grupos que incitam ao ódio são mais de 900 e só nesse ano já ocorreram 69 ameaças contra 54 centros judaicos em 27 Estados da União e onze suspeitas de bomba, são realmente relevantes. Tanto é assim, que o respeitado Pew Research Center, imediatamente após o primeiro decreto vetando a entrada nos EUA de pessoas vindas de alguns países de maioria muçulmana, publicou um detalhado estudo realizado em 2016 sobre a sensível questão da cidadania e da religião.
A reportagem é de Riccardo Cristiano, publicada por La Stampa, 23-02-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
O levantamento abordava se e o quanto a religião deveria ter relevância quando se trata de asilo ou de cidadania nos EUA e o que significa ser um verdadeiro estadunidense. Talvez o dado mais significativo seja o que desponta no final do estudo: entre todas as opiniões apresentadas, a menos citada é que, para ser estadunidense, o que conta é ter nascido no país. Em vez disso, ser cristão para tornar-se um verdadeiro cidadão estadunidense convence 32% dos entrevistados, enquanto 31% acreditam que a religião do indivíduo não tem nenhuma relevância para isso.
A pesquisa também destaca que 57% dos "protestantes brancos de orientação evangélica" pertence ao grupo que considera muito importante ser cristão para ser um estadunidense. Entre os protestantes da "linha principal", 29% concordam com isso e, entre os católicos, 27%. Entre aqueles que não se definem seguidores de uma Igreja a porcentagem cai para 9%. Analisando a orientação política dos entrevistados, a pesquisa evidencia que mais de quatro em cada dez eleitores republicanos pertencem ao primeiro grupo, pouco mais de dois em cada dez estão entre os democratas. Essa mesma proporção repete-se entre os entrevistados com mais de 50 anos de idade e entre jovens com menos de 35 anos: para os primeiros, o fator religioso é muito mais importante do que para os últimos. Mas, de acordo com pesquisadores, o dado mais significativo é outro ainda: a vasta maioria no grupo amostrado define o idioma como o fator “vital”. Falar inglês é, portanto, a coisa mais importante para se tornar estadunidense.
Se os imigrantes, incluindo os refugiados - conclui o levantamento – aprenderem o idioma e assumirem as tradições americanas, a maioria dos estadunidenses irá aceitá-los como verdadeira "parte de nós".
Razões para o alarme, portanto, não faltam, mesmo que as conclusões do Pew Research Center revelem um dado confortante: mas o estudo do Southern Poverty Law Center volta a reforçar a gravidade de risco. Os grupos extremistas ativos nos Estados Unidos continuam a crescer. Os dados do relatório indicam a relevância dos grupos anti-islâmicos, que de 34 em 2015 subiram para 101 em 2016. O crescimento foi acompanhado por um aumento semelhante nos crimes, e os pesquisadores do SPLC observam que a tendência continua em 2017, citando o incêndio a uma mesquita em Victoria, Texas, algumas horas após o anúncio da ordem executiva do presidente Trump.
Os grupos que incitam ao ódio passaram de 892 em 2015 para 917 em 2016. O número total, dizem os pesquisadores do SPLC, subestima o nível real do fenômeno, uma vez que um número crescente de extremistas opera principalmente, quando não exclusivamente, online, enquanto o levantamento atém-se apenas ao mundo "real".
Houve uma diminuição simultânea dos grupos subversivos ou armados, de 998 em 2015 para 623. "O ano de 2016 - escreveu Potok na introdução da pesquisa - foi um ano de ódio sem precedentes. O país registrou um forte retorno do ‘nacionalismo branco’ que coloca em risco os progressos alcançados no campo de aceitação mútua, justamente quando surge um Presidente que invoca os valores do ‘nacionalismo branco’. Esses extremistas veem em um aliado que pode ser ouvido pelo Presidente".
O estudo do Southern Poverty Law Center também divulga um primeiro levantamento realizado entre dez mil professores imediatamente após as eleições estadunidenses: 80% falam de ansiedade e medo entre os estudantes, em especial os imigrantes, muçulmanos e afro-americanos. O 70% enfatiza o uso de linguagem agressiva, injuriosa e de símbolos extremistas.
Não poderia faltar uma atualização sobre gays e lésbicas e, portanto, sobre a “Aliança em defesa da liberdade”. O relatório ressalta como muitos membros e advogados da organização tenham injustificadamente ligado a homossexualidade à pedofilia, e criticado gays e lésbicas pela perseguição de "cristãos devotos".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
EUA 2017, os grupos do ódio são mais de 900 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU