16 Fevereiro 2017
O organizador da Conferência de Segurança de Munique, Wolfgang Ischinger, afirmou na segunda-feira 13 que a situação mundial atual é a de maior instabilidade desde a Segunda Guerra Mundial.
No relatório Post-Truth, Post-West, Post-Order? (Pós-verdade, pós-Ocidente, pós-ordem?), Ischinger acentuou as ameaças à ordem internacional, desde um vácuo de poder causado pela possível saída dos Estados Unidos da cena mundial até a elevação dos riscos de uma escalada militar.
A reportagem é publicada por por Deutsche Welle, 15-02-2017.
"O ambiente de segurança internacional é indiscutivelmente mais volátil hoje do que em qualquer outro momento desde a Segunda Guerra Mundial. Alguns dos pilares mais fundamentais do Ocidente e da ordem liberal internacional estão se enfraquecendo", afirmou Ischinger, definindo o momento atual como iliberal.
Ele afirmou, ainda, que "podemos, então, estar à beira de uma era pós-ocidental, na qual atores não ocidentais estão moldando as relações internacionais, muitas vezes em paralelo ou mesmo em detrimento precisamente dessas instâncias multilaterais que formaram a base da ordem liberal internacional desde 1945". "Estamos entrando num mundo pós-ordem?", questiona Ischinger.
O relatório, lançado às vésperas da Conferência de Segurança de Munique, que ocorre no próximo fim de semana, destaca ainda que a ascendência da retórica populista mudou fundamentalmente o discurso da democracia liberal e os princípios que a acompanham.
Se o referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) foi o catalisador de uma revisão das relações internacionais, a eleição do republicano Donald Trump marcou seu avanço definitivo.
Em seu discurso de posse, Trump professou uma mudança histórica nas relações dos EUA com outros países, prometendo que suas políticas – tanto domésticas quanto internacionais – vão priorizar os interesses americanos. "A partir desse momento será os Estados Unidos em primeiro lugar", afirmou.
Como lembra o relatório, Trump não mencionou os conceitos democracia, liberdade e direitos humanos em seu discurso de posse, em nítido contraste com seus antecessores. "Isso não é um bom presságio para os valores liberais em todo o mundo", afirma o relatório.
Desde então, a administração de Trump tem promovido um reequilíbrio significativo da ordem global por meio de uma miríade de manobras políticas, incluindo ignorar tradições diplomáticas de longa data, fazer críticas fortes a aliados tradicionais dos EUA e proibir a entrada no país de cidadãos de sete nações de maioria muçulmana.
Apesar de terem avançado na Europa Ocidental depois da anexação ilegal da Crimeia pela Rússia, as "notícias falsas" alcançaram seu pico durante a campanha eleitoral que deu a vitória a Trump, em novembro.
A desinformação e sua capacidade de influenciar as estruturas políticas e minar as narrativas dos meios de comunicação tradicionais provaram ser um fenômeno pós-verdade de um ambiente político criado por uma base interconectada de eleitores.
Essa situação tem claras repercussões sobre a segurança. "A principal ameaça é que a confiança dos cidadãos na mídia e nos políticos pode continuar se deteriorando, criando um círculo vicioso que ameaça à democracia liberal", diz o relatório.
"É verdade que eles [os Estados] não podem proibir as 'notícias falsas' ou introduzir 'agências da verdade' sob o preço de se tornarem eles mesmos iliberais. Impedir que haja um mundo 'pós-verdade', no qual 'nada é verdadeiro e tudo é possível', é uma tarefa para a sociedade como um todo", acrescenta o documento.
Desde o início do conflito na Síria, em 2011, mais de 300 mil pessoas foram mortas e metade da população do país foi deslocada, de acordo com dados da ONU.
Apesar das numerosas tentativas de garantir um cessar-fogo e impedir o aumento das hostilidades, o governo sírio iniciou em 2016 uma campanha brutal, apoiada pela Rússia, para recuperar a cidade de Alepo. Como resultado, milhares de pessoas morreram.
"Os principais atores ocidentais ficaram de braços cruzados quando Alepo caiu, observando o que um porta-voz da ONU descreveu como um 'colapso total da humanidade'", afirma o relatório.
O que começou com protestos pedindo a saída do presidente Bashar al-Assad se transformou num longo conflito, envolvendo atores domésticos, grupos militantes, países vizinhos e potências mundiais, como Estados Unidos, Rússia, Irã e Arábia Saudita.
"Como numerosos atores estão interferindo em crises na Síria e região, enquanto o Ocidente tenta de alguma forma superar o problema, a era pós-Ocidental do Oriente Médio pode já ter começado", diz o relatório.
No ano passado, problemas de segurança criados pelo conflito sírio se espalharam pela região e pelo mundo, principalmente com a proliferação de ataques terroristas inspirados no "Estado Islâmico" em nações ocidentais.
Do estado de emergência na França até operações policiais na Alemanha, a resposta a atentados como os de Berlim, Nice e Bruxelas foi desigual nos países da União Europeia, já que os Estados-membros desenvolveram formas próprias de melhorar as medidas de segurança.
De acordo com o relatório, é necessário que a União Europeia aja como um bloco diante dos desafios apresentados pela ameaça de radicalização e terrorismo. "Apenas com um reforço maior da cooperação e competências antiterroristas da União Europeia, os Estados europeus serão capazes de enfrentar o que provavelmente será um desafio jihadista de longo prazo", afirma o relatório.
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Instabilidade é a maior desde a Segunda Guerra, afirma Conferência de Munique - Instituto Humanitas Unisinos - IHU