06 Dezembro 2016
Pesquisa da Rede Amazônia Sustentável revela que 56% dos entrevistados não têm como abrir mão do fogo no preparo da terra: falta acesso a maquinário e à assistência técnica.
A informação foi publicada por Simpósio Amazônia Sustentável, 29-11-2016
As previsões científicas são claras: nos próximos anos, a ocorrência de secas extremas na Amazônia vai ser cada vez mais frequente, e o período de estiagem será mais quente e prolongado. O cenário perfeito para o alastramento de queimadas, porém, não vem só das mudanças climáticas. Pesquisadores da USP e da Universidade de Lancaster (instituições membros da Rede Amazônia Sustentável – RAS) fizeram um levantamento em quatro municípios da Amazônia Oriental e constataram: 56% dos produtores não têm condições financeiras nem técnicas para praticar uma agricultura livre de queimadas.
Geralmente, o fogo é iniciado em áreas de pasto ou roçado como uma forma barata de preparar a terra para a agricultura. Uma alternativa a esta prática é o emprego de maquinário, seguido de insumos agrícolas. O estudo feito pela RAS nos municípios de Paragominas, Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos, porém, revela que somente 6% dos pequenos produtores possuem maquinário. Entre aqueles que já utilizam tratores, quase metade os aluga de outros proprietários. E apenas 10% deles têm acesso às máquinas por meio de iniciativas governamentais.
Para que os incêndios florestais sejam evitados, as práticas de controle de queimadas também podem ser melhoradas. Apesar de 91% dos pequenos produtores entrevistados construírem aceiros para que as chamas não se alastrem, 70% das queimadas são feitas contra o vento, e apenas 7% dos trabalhadores evitam o período mais quente do dia para iniciar o processo.
Segundo o levantamento da RAS, as políticas de comando e controle são, de fato, as mais eficientes na redução do risco de incêndios. No entanto, enquanto os produtores não tiverem condições – financeiras e técnicas – de mudar suas práticas, as ações de fiscalização vão continuar enxugando gelo. Para ocorrer essa transição, é necessário subsidiar o uso de tratores para pequenos produtores rurais, especialmente nos períodos de seca. Assim como ampliar a oferta de assistência técnica e de incentivos a práticas livres de fogo.
Enquanto esta realidade não muda, as labaredas avançam e os prejuízos se multiplicam. Os incêndios florestais são uma das principais causas da perda de biodiversidade e emissões de carbono em regiões de fronteira agrícola. O levantamento da RAS mostra que, quando queimadas, as florestas manejadas apresentam em média uma perda de até 94% de suas espécies de plantas, 54% de aves e 86% de besouros. A perda de biodiversidade esconde outro problema: a fauna e a flora registradas nessas florestas são bem diferentes das encontradas em áreas não queimadas, o que pode levar a um colapso de diversos serviços ambientais esperados para a floresta.
O estudo também aponta que, ao ser incendiada, uma floresta chega a perder 40% de seus estoques de carbono. Para se ter uma ideia desta dimensão, somente em 2010 os incêndios na Amazônia brasileira levaram a uma emissão imediata de 15 milhões de toneladas de carbono. O número equivale a quase metade das emissões do setor energético do país no mesmo ano.
Os prejuízos, porém, não são apenas ambientais. Os pesquisadores descobriram que, nos últimos cinco anos, 43% dos 576 produtores entrevistados sofreram alguma perda financeira devido às queimadas, seja em danos nas pastagens, nas cercas, nas plantações ou nas benfeitorias. Além disso, em anos com grande ocorrência de focos de queimadas, há um aumento superior a 250% no número de internações hospitalares por problemas respiratórios na população local.
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Pequenos produtores na Amazônia dizem ser inviável praticar agricultura sem queimadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU