11 Novembro 2016
"Toda pregação racista, homofóbica, xenófoba ou misógina deve ser severamente combatida. O inverso também é verdadeiro. Agora mais do que nunca, é preciso mergulhar nos valores da cultura popular dos renegados do "novo mundo", nas matrizes africanas, latino-americanas, indo-americanas, de quem vive do trabalho e dos ícones do passado”, escreve Bruno Lima Rocha, mestre e doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.
Eis o artigo.
Vamos compreender o que ocorre. Hillary Clinton e o Partido Democrata quase todo não vale absolutamente nada e são imperialistas. Não se trata de defender o mal menor e tampouco tratava-se de uma candidata simbolicamente forte como Barack Obama ou programaticamente reformista como Bernie Sanders. Ela – Hillary - perdeu e foi uma rejeição aos caciques políticos. Ponto.
Trump foi eleito fazendo um discurso protecionista - defesa do emprego industrial e retorno à um EUA próspero - mas soltando os demônios daquela sociedade. Tudo de ruim aflorou. O oportunista e fraudador do fisco ganhou em cima do que os Estados Unidos têm de pior. Tea Party, Klu Klux Klan, milícias armadas, grupos anti aborto, supremacistas brancos e toda uma ideologia de superação individual e medo do outro. Ganhou fazendo discurso racista - anti mexicano, anti latinoamericanos e misógino.
Ganhou um quebrador de empresas e patrão que não paga seus funcionários quando quebra suas empresas. Ganhou um idiota da mídia que pregava valores de tipo capitalista selvagem no show de horrores como O Aprendiz.
Trump eleito é a vitória do Tea Party, da direita do Partido Republicano. É a consagração de radialistas como Rush Limbaugh e a vingança de Sarah Palin, uma imbecil completa, ex governadora do Alaska e que caiu no vexame ao concorrer como vice de John McCain em 2008, quando perderam para Barack Obama.
Tempos difíceis também para mulheres e muçulmanos também. Cabe pensar: de cada três mulheres sem diploma universitário que foram votar, duas teriam votado em Donald Trump. E, como afirmou um comentarista democrata - e negro da CNN - que "aqueles que estão hoje mobilizados na rua contra Trump não se sentiram mobilizados e com confiança em Hillary para irem votar". Quem mandou escolherem Hillary? Agora a conta deve ir voando para os oligarcas conservadores do Partido Democrata, os grandes amigos de Fernando Henrique Cardoso na Era Clinton.
“Parabéns” aos oligarcas democratas. Conseguiram perder uma eleição porque apresentaram uma candidata vinculada à Wall Street. A direita mais à direita correu por fora e elegeu um criminoso financeiro com o discurso do Tea Party. Esqueçam o Partido Democrata. São oligarcas conservadores e imperialistas, mas bem menos imbecilizados. O Partido Democrata é indefensável, não se trata disso. A dimensão societária da vitória de Trump é que surpreende e assusta. Muito.
Realmente a Internet abriu a tampa do bueiro para os reacionários. Hilllary Clinton é e sempre foi uma hipócrita imperialista. Trump é tudo isso com uma retórica que oscila entre Homer Simpson e a Klu Klux Klan. Agora os Estados Unidos voltam a ser um enorme campo de batalha. Mais do que nunca urge uma aliança entre afro-americanos e latino americanos. Lá, somos mais de 100 milhões de latinos e afro americanos. A esquerda que têm raízes em nossos bairros lá não está chorando, está organizada e com raiva. Basta se lembrar do espancamento de Rodney King em 1991 e do levante de Los Angeles no início de 1992.
Serão tempos ainda mais difíceis para os mais de 55 milhões de latinoamericanos vivendo nos EUA, para mais de 51 milhões de afroamericanos e todas que lá vivem com salário apertado ou em situação irregular.
A coisa está feia mesmo. O neoliberalismo e a democracia liberal são formas de maximizar a elite financeira e debilitar o direito político da maioria. Agora o ovo da serpente está chocando.
Hillary Rodham Clinton e Donald Trump fazem parte dos 1% mais ricos da sociedade mais opulenta do planeta. O primeiro como homem de negócios inescrupuloso. A segunda como uma arrivista através da política profissional e relações familiares. Nada disso empolga o eleitorado “progressista”. Viram porque Trump foi eleito? Viram porque negros e latinos não se motivaram para votar? Deu para constatar que não adianta chamar o adversário de grotesco e aparecer antes confraternizando com o inimigo?!
Outro fato contundente é que o fascismo nunca é "engraçado" e não podemos ter nenhuma tolerância com os intolerantes. Toda pregação racista, homofóbica, xenófoba ou misógina deve ser severamente combatida. O inverso também é verdadeiro. Agora mais do que nunca, é preciso mergulhar nos valores da cultura popular dos renegados do "novo mundo", nas matrizes africanas, latino-americanas, indo-americanas, de quem vive do trabalho e dos ícones do passado. Lendo as notícias e acompanhando a cobertura bastante assustada – justificadamente assustada – da CNN eu só imagino como está o ambiente no Bronx (NYC) agora. Um bairro lindo, lindo, cheio de porto-riquenhos, dominicanos, hondurenhos, mexicanos, equatorianos, colombianos e nicaraguenses.
Também imagino como estão os ânimos na fronteira do sudoeste (Texas, Arizona e Novo México) e também a fronteira da California, na antiga Aztlán (o território que os imperialistas roubaram dos hermanos mexicanos em 1848).
Em termos mundiais, um EUA unilateral e agressivo, ainda mais, e querendo estabelecer duas zonas autárquicas para si. Uma delas é o eixo anglo-saxão (EUA, Canadá, Grã Bretanha, Irlanda, Austrália e Nova Zelândia); outra zona “exclusiva ou de condomínio dominante” é a América Latina . É necessário estar atento e fortalecido.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Trump eleito e os EUA à beira de um ataque de nervos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU