04 Novembro 2016
"A ideia de que Halloween, abóboras, fogueiras e crianças que vão de porta em porta seja algo satânico nasceu em um ambiente protestante anticatólico muitos séculos depois do início dessas tradições."
A opinião é do sociólogo italiano Massimo Introvigne, fundador e diretor do Centro de Estudos sobre as Novas Religiões (Cesnur), em artigo publicado por Thomas International Center, 24-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Halloween vem todos os anos e, com ele, a polêmica levantada por alguns católicos contra ele, que, na Itália, envolvem exorcistas, teólogos e até alguns bispos. Alguns vão dizer que eu gosto das controvérsias, mas eu acho as campanhas de certos católicos contra o Halloween muito exageradas. Sem querer ofender ninguém, a impressão é de que os católicos que participam dessas campanhas muitas vezes não conhecem nem a origem do Halloween nem a dessas campanhas.
Como diz o nome, Halloween (All Hallows Eve) é simplesmente "a vigília da festa de Todos os Santos" (Hallow é o antigo nome inglês para "santo"). No norte da Europa, a festa católica incorporou, bem cedo, elementos breve, como as fogueiras e as abóboras, mas isso também é verdade para o Natal e a Páscoa.
Quanto às referências macabras, estas também têm uma origem católica, precisamente na crença popular de que, na vigília de Todos os Santos, o véu que separa o Purgatório do nosso mundo se torna mais sutil, e as almas do Purgatório se manifestam aos vivos. Certamente é verdade que, no Halloween, há traços da festa pré-cristã do Samhaim. Mas até mesmo no Natal há traços de celebrações do solstício de inverno, e faz parte do gênio do cristianismo absorver e transformar celebrações pré-cristãs. Durante milhares de anos, esse fato nunca levantou qualquer controvérsia especial.
O ataque ao Halloween como uma festa pagã e supersticiosa foi promovido pelos protestantes, particularmente pelos puritanos, em chave anticatólica. O Parlamento inglês vetou toda celebração de Halloween e de Todos os Santos em 1647. Nos EUA, o folclore do Halloween foi recriado no século XIX por imigrantes irlandeses (católicos).
O segundo grande ataque ao Halloween ocorreu nos anos 1980 por protestantes evangélicos, muitos dos quais fundamentalistas, que o conectaram ao satanismo e à bruxaria. Os pregadores e autores fundamentalistas que lançaram essa campanha, incluindo Jack T. Chick, eram quase todos anticatólicos; para eles, origem católica e origem satânica da festa eram uma coisa só.
Nesse contexto, encontramos alguns boatos reais. Por exemplo, a propaganda em favor da celebração do Halloween até mesmo por cristãos foi atribuída ao fundador da Igreja de Satã, Anton Szandor LaVey (1930-1997), que nunca abordou a questão. As supostas citações de LaVey, divulgadas por Chick e outros, são simplesmente falsas. Na verdade, apenas alguns pequenos grupos satanistas – como a pequena União Satanista Italiana, que só opera pela internet – listam o Halloween entre as suas festividades. Os principais grupos satânicos ignoram completamente a celebração. Transformar o Halloween na principal festa dos satanistas é certamente falso. Os testemunhos de "antigos satanistas" que povoam a internet também não merecem muito crédito. Qualquer um que conheça um pouco o satanismo pode facilmente identificá-los como mitomaníacos.
Nos anos 1990, um certo número de católicos retomaram, ignorando a sua origem, essas campanhas protestantes contra o Halloween, e mais tarde também se espalhou a lenda urbana segundo a qual o Papa Bento XVI teria condenado a festa (ele não o fez). Essas campanhas foram apoiadas por alguns bispos, mas se espalharam especialmente graças a certos exorcistas, que geralmente estão familiarizados com fontes protestantes fundamentalistas. Às vezes, como no caso do padre Aldo Buonaiuto – um dos mais tenazes opositores do Halloween – a subcultura de fundo é fornecida pelo movimento evangélico "contra as seitas", que tende a detectar uma manifestação do diabo em qualquer "seita" e em qualquer forma de esoterismo. Não por acaso, o padre Buonaiuto é um colaborador da bizarra polícia italiana "Equipe Antisseitas" [Squadra AntiSette], conhecida mais por ter envergonhado a Itália na discussão internacional sobre liberdade religiosa do que por ter alcançado quaisquer resultados.
Se quiserem protestar contra a comercialização do Halloween e o mau gosto de certos gadgets, eu concordo. Também se poderia dizer que isso não tem muito sentido, senão, justamente, o de favorecer um certo comércio, importar para a Itália festividades que não fazem parte da nossa história.
Mas a ideia de que Halloween, abóboras, fogueiras e crianças que vão de porta em porta seja algo satânico nasceu em um ambiente protestante anticatólico muitos séculos depois do início dessas tradições.
Quem não quiser participar das celebrações de Halloween tem razões muito boas e respeitáveis para fazer isso. Mas não faz sentido aterrorizar ou apontar com o dedo os pais que deixam que os filhos celebrem o Halloween junto com os seus coetâneos como se fossem satanistas. Essa é apenas uma maneira de perturbar as consciências e fazer com que muitas famílias sofram desnecessariamente. Vista dos Estados Unidos, onde milhares de mães – incluindo muitas mães católicas – ajudam seus filhos a decorar casas e jardins para o Halloween, essa polêmica parece surreal.
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O Halloween é diabólico? Artigo de Massimo Introvigne - Instituto Humanitas Unisinos - IHU