28 Setembro 2016
Quando a escuridão da alma, isto é, a tristeza que “esmaga” e sufoca, a “desolação espiritual”, ataca (e cedo ou tarde atinge a todos nós), as vias para enfrentá-la e superá-la são a oração e o silêncio. Essas são palavras do Papa Francisco e ditas durante a missa desta manhã, 27 de setembro de 2016, na Capela da Residência Santa Marta, durante a qual destacou: à dúvida que surge nos momentos de sofrimento, “melhor a morte do que uma vida dessas”, é preciso reagir encomendando-se a Deus.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr e publicada por Vatican Insider, 27-09-2016. A tradução é de André Langer.
A Rádio Vaticano publicou a homilia do Pontífice, concentrada na figura de Jó, que “estava com problemas: tinha perdido tudo”. Na Primeira Leitura, lê-se, de fato, que tinha sido privado de todos os seus bens, inclusive de seus filhos, e por isso se sente perdido. Mas, não coloca em prática a ação que poderia ter sido instintiva: maldizer o Senhor. Jó passa por uma grande “desolação espiritual”, que mais cedo ou mais tarde atinge a todos nós. Ele desabafa diante de Deus, como um “filho na frente do pai”. Exatamente como o profeta Jeremias, que também não blasfema.
“A desolação espiritual – recordou o Papa Bergoglio – é uma coisa que acontece com todos nós: pode ser mais forte ou mais fraca, mas é uma condição da alma obscura, sem esperança, desconfiada, sem vontade de viver, que não vê a luz no fim do túnel, que tem agitação no coração e nas ideias... A desolação espiritual nos faz sentir como se nossa alma fosse ‘achatada’: quando não consegue, não quer viver: ‘A morte é melhor!’, desabafa Jó. ‘Melhor morrer do que viver assim’. E nós devemos entender quando nosso espírito está neste estado de tristeza geral, quando ficamos quase sem respiro. Acontece com todos nós, e temos que compreender o que se passa em nosso coração”.
Esta é a pergunta que devemos nos fazer, acrescentou o Papa: o que se deve fazer quando vivemos estes momentos escuros, por uma tragédia familiar, por uma doença, por alguma coisa que me leva ‘prá baixo’? E explicou que alguns pensam em engolir um comprimido para dormir e tomar distância dos fatos, ou beber ‘dois, três, quatro golinhos’. E recordou que isto não ajuda. Ao passo que a liturgia do dia, insistiu o Pontífice, “nos mostra como lidar com a desolação espiritual, quando somos tíbios, estamos prá baixo e sem esperança”.
No Salmo responsorial 87 está a resposta, recordou: “Chegue a ti a minha prece, Senhor”. É preciso rezar, rezar com força, como fez Jó: gritar dia e noite até que Deus nos escute.
“É uma oração de bater na porta, mas com força! ‘Senhor, eu estou cheio de desventuras. A minha vida está à beira do inferno. Estou entre aqueles que descem à fossa, sou como um homem sem forças’. Quantas vezes nós sentimos assim, sem forças. E esta é a oração. O Senhor mesmo nos ensina como rezar nestes momentos difíceis. ‘Senhor, me lançaste na fossa mais profunda. Pesa sobre mim a Tua cólera. Chegue a Ti a minha oração’. Esta é a oração: assim devemos rezar nos piores momentos, nos momentos mais escuros, mais desolados, mais esmagados, que nos esmagam mesmo. Isto é rezar com autenticidade. E também desabafar como desabafou Jó com os filhos. Como um filho”.
O Livro de Jó, em seguida, fala do silêncio dos amigos. Diante de uma pessoa que sofre, disse o Papa, “as palavras podem ferir”. O que conta é estar perto, fazer sentir a proximidade, “mas não para fazer discursos”.
“Quando uma pessoa sofre, quando uma pessoa se encontra na desolação espiritual – reafirmou Francisco – você tem que falar o mínimo possível e você tem que ajudar com o silêncio, a proximidade, as carícias, com a sua oração diante do Pai”. Em primeiro lugar, “é preciso reconhecer os momentos de desolação espiritual e se perguntar por quê?” Em segundo lugar, é preciso “rezar ao Senhor, como na liturgia de hoje, com o Salmo 87, ‘Chegue a Ti a minha oração, Senhor’”. E em terceiro lugar, “quando se está diante de uma pessoa que sofre, que está na desolação completa, é preciso o silêncio, silêncio com amor, proximidade e ternura, e não discursos que, no final das contas, não ajudam, mas que inclusive podem ferir”.
“Rezemos ao Senhor – concluiu Francisco – para que nos conceda estas três graças: a graça de reconhecer a desolação espiritual, a graça de rezar quando estivermos submetidos a este estado, e também a graça de saber acompanhar as pessoas que passam por momentos difíceis de tristeza e de desolação espiritual”.
No dia da memória de São Vicente de Paulo, o Papa ofereceu a missa pelas Filhas da Caridade, que trabalham na Casa Santa Marta.
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“Melhor morrer do que viver assim? Não, melhor rezar com força”, recomenda o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU