26 Setembro 2016
Enquanto o Papa Francisco se prepara para uma visita a dois países do Cáucaso – Geórgia e Azerbaijão – entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro, alguns analistas dizem esperar que esta ida venha para ajudar no fortalecimento das relações por vezes tensas entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa Georgiana.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 24-09-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Pessoas versadas em assuntos ecumênicos afirmam que a comunidade ortodoxa georgiana (à qual pertencem cerca de 83% da população nacional, de aproximadamente 3,7 milhões de habitantes) tem estado, nas últimas décadas, um tanto fechada para debates com os católicos. Estes analistas expressam o desejo de que Francisco possa ser capaz de fazer incursões nesse sentido em sua visita.
Recentemente, a embaixadora da Geórgia na Santa Sé disse esperar que a visita de Francisco ao país ajude este a se tornar mais conhecido no mundo.
Tamara Grdzelidze, respeitada teóloga ortodoxa, tendo atuado no Conselho Mundial de Igrejas, afirmou que muitos georgianos apostam alto no carisma do papa. “Ele traz alegria para onde vai”, disse.
Em entrevista no mês de setembro em Roma, a chefe da ala georgiana da Caritas Internationalis disse que o programa da visita de Francisco à Geórgia ressalta a unidade das diversas populações católica e ortodoxas locais.
“[A programação de sua visita] Mostra a unidade entre o povo”, declarou Anahit Mkhoyan, quem foi designada no começo do ano para coordenar a Caritas Geórgia depois de dez anos atuando junto à Caritas Armênia. “A programação desta visita demonstra a presença do amor por todos”.
O padre paulino Ronald Roberson, diretor associado da Secretaria para Assuntos Ecumênicos e Inter-religiosos da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, espera que Francisco tenha condições de “mudar atitudes, talvez um pouquinho que seja, conseguindo dar um passo na direção certa”.
Roberson falou ainda que os encontros em pessoa do Papa Francisco com o líder ortodoxo georgiano Sua Santidade e Beatitude Ilia II, Catholicos Patriarca de toda a Geórgia, podem ajudar os dois a negociarem um futuro melhor.
Francisco deve se reunir com Ilia por duas vezes: quando chegar à capital da Geórgia Tbilisi, em 30 de setembro, e na catedral patriarcal de Svetitskhoveli, em 1º de outubro.
Francisco também deverá se encontrar com o presidente Giorgi Margvelashvili no dia 30. Nesse mesmo dia, deverá discursará aos líderes políticos do país e, mais tarde, falará aos membros da comunidade católica caldeia local. No dia 1º de outubro, ele tem programado a celebração de uma missa em um estádio de futebol antes se se sentar com padres, religiosos e seminaristas locais.
No dia 2, Francisco planeja ir ao Azerbaijão. Aí, deverá se encontrar com o presidente Ilham Aliyev e com líderes muçulmanos locais, além de participar de um encontro inter-religioso com outros líderes religiosos antes de retornar a Roma no mesmo dia.
Esta será a 16ª viagem ao exterior do Papa Francisco desde a eleição ao papado em 2013.
Roberson considera a relação da Igreja Católica com a Igreja Ortodoxa Georgiana como uma das “mais difíceis” entre as relações que a igreja romana tem com outras comunidades cristãs em termos de diálogo ecumênico.
Roberson salientou a decisão da comunidade georgiana de não participar do Santo e Grande Concílio da Igreja Ortodoxa em Creta, na Grécia, em junho. Este encontro foi o primeiro do gênero entre as igrejas ortodoxas orientais em mais de mil anos.
Segundo disse, a Igreja [Ortodoxa] Georgiana manifestou preocupação sobre um dos documentos de estudo do Concílio, que fazia referência a diálogos ecumênicos com outras igrejas cristãs.
“Isso era demais para eles”, disse Roberson, explicando que alguns da comunidade ortodoxa georgiana adotam uma escola de pensamento segundo a qual “não há nada do lado de fora da igreja ortodoxa que não seja escuridão”.
As três comunidades católicas da Geórgia – o Rito Latino, o Rito Armênio e o Rito Caldeu – somam aproximadamente 3% da população. Cerca de 93% dos 9,8 milhões de habitantes do Azerbaijão são muçulmanos, com apenas 1% da população identificando-se como cristão.
“Tenho de dizer que estou um pouco confuso”, declarou Declan Murphy, ex-diretor do departamento de Auxílio à Igreja da Europa Central e Oriental da Conferência dos Bispos Católicos americanos, acrescentando que não conseguiu entender os objetivos diplomáticos destas visitas.
“Pode ser somente para chamar a atenção, lançar um olhar sobre uma pequena e esquecida comunidade católica, a fim de mostrar que o Vaticano está preocupado com grupos pequenos e isolados de católicos, como faz um bom pai”, sugeriu Murphy.
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Francisco prepara viagem a Geórgia e Azerbaijão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU