31 Mai 2016
O diaconato feminino encontra uma ampla concordância, com picos de pleno acolhimento mesmo entre os católicos e entre aqueles que têm um vínculo intenso com a Igreja (com uma prática cotidiana e não só dominical). O impulso transformador envolve também os temas mais complexos e avançados do sacerdócio e do episcopado feminino.
A análise é do jornalista e sociólogo italiano Enzo Risso, professor da Universidade de Macerata e diretor científico do instituto de pesquisas SWG de Trieste. O artigo foi publicado no jornal L'Unità, 30-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O "sacerdócio das mulheres foi excluído ainda recentemente pelo Papa João Paulo II", escrevia em 2009 o cardeal Carlo Maria Martini, na sua coluna de resposta às cartas dos leitores. "No agir na Igreja latina – continuava o cardeal falecido em 2012 – não há discriminação, porque todos os cristãos são iguais e têm os mesmos direitos, mas não existe para ninguém o direito de ser ordenado padre. Haveria ainda o discurso da igualdade de oportunidades, mas ele ainda não entrou bem na práxis das pessoas."
É interessante notar que, na sua resposta, o alto prelado, em parte, ainda liga a discussão às condições dos tempos e não exclusivamente à doutrina teológica. Uma escolha argumentativa criteriosamente aberta, que coloca o debate no plano da possibilidade-capacidade da Igreja para tomar como parâmetro de referência sobre o tema a evolução do quadro cultural da sociedade, e não apenas a práxis secular.
Do ponto de vista doutrinal, de fato, a posição é clara. No Catecismo da Igreja Católica, no n. 1.577, afirma-se que: "Só o varão (vir) baptizado pode receber validamente a sagrada ordenação. O Senhor Jesus escolheu homens (viri) para formar o colégio dos Doze Apóstolos, e o mesmo fizeram os Apóstolos quando escolheram os seus colaboradores para lhes sucederem no desempenho do seu ministério. O Colégio dos bispos, a que os presbíteros estão unidos no sacerdócio, torna presente e atualiza, até que Cristo volte, o Colégio dos Doze. A Igreja reconhece-se vinculada por essa escolha feita pelo Senhor em pessoa. É por isso que a ordenação das mulheres não é possível".
O vínculo expressado é inequívoco. No entanto, ele contrasta com a evolução do papel da mulher na sociedade, ocorrida nos últimos 50 anos. Se, como enfatizou o cardeal Martini, na Itália, a igualdade de oportunidades ainda está longe de ser prática, na opinião pública, assentou-se firmemente um sentimento paritário.
O diaconato feminino encontra uma ampla partilha entre os cidadãos, com picos de pleno acolhimento mesmo entre os católicos e entre aqueles que têm um vínculo intenso com a Igreja (com uma prática cotidiana e não só dominical). O impulso transformador envolve também os temas mais complexos e avançados do sacerdócio e do episcopado feminino. Ambas as possibilidades são defendidas tanto pela maioria da opinião pública, quanto por amplas e consistentes partes do mundo católico. Metade dos católicos praticantes, de fato, dizem-se a favor do sacerdócio feminino e da possibilidade de ordenar mulheres bispas.
Especialmente favoráveis são os jovens. Mais de seis em cada dez jovens se expressam a favor de ambas as opções, mesmo que pareçam, em comparação com os adultos, mais céticos sobre a real possibilidade de que a situação possa mudar.
O ceticismo que paira entre os Millennials (ou seja, os nascidos entre 1980 e 2000) é um elemento sobre o qual é útil se deter. Por trás do tema do sacerdócio feminino, ou mesmo simplesmente do diaconato, esconde-se um jogo mais amplo para a Igreja Católica: o problema da limitada confiança na hierarquia.
Com o pontificado do Papa Francisco, a brecha entre o apelo de Bergoglio (e do seu modo de fazer) e o dos bispos se ampliou ainda mais. Estes últimos são colocados pelos jovens, junto com políticos e banqueiros, no fim da lista dos sujeitos considerados capazes de desempenhar um papel positivo e propulsivo para a sociedade. São enquadrados entre aqueles que hoje atuam como peso, obstáculo e freio à mudança.
O diaconato feminino poderia se tornar, para a Igreja, um símbolo capaz de reabrir o jogo da confiança entre hierarquia e opinião pública, principalmente com os jovens. "Audentes fortuna iuvat" recita o lema virgiliano, e, para aqueles que querem se cimentar sobre esse tema no mundo católico (e a abertura do papa parece ter essa finalidade), ele pode se tornar um estímulo enérgico.
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Diaconato para as mulheres: qual o seu papel na Igreja? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU