18 Janeiro 2016
Responsável pelos protestos de junho de 2013, o MPL (Movimento Passe Livre) está cada vez mais jovem.
A reportagem é de Artur Rodrigues, Giba Bergamim Jr. e Leandro Machado, publicada por Folha de S. Paulo, 17-01-2016.
Antes tocado por universitários de 20 e poucos anos, agora o grupo é movido por gente mais nova. Entre eles, alunos que participaram do movimento de ocupações de escolas estaduais em 2015.
O discurso tem semelhanças: resistência em dialogar com o poder público, críticas à Policia Militar e a empresários de ônibus. O grupo também não condena as depredações praticadas por adeptos da tática "black bloc".
Na semana passada, os dois maiores atos promovidos pelo movimento foram marcados, de um lado, pela atuação dos mascarados, que depredaram uma estação de metrô na quinta (14); e, de outro, pela atuação da PM, que usou bombas de gás para reprimir o ato de terça (12) ainda na concentração, gerando correria no centro da cidade.
Segundo o movimento, 28 pessoas foram feridas na ação, chamada por eles de "banho de sangue". O governo negou abuso e disse que houve conflito porque manifestantes tentaram furar um bloqueio.
Nas duas manifestações, estavam os "linhas de frente" do grupo -jovens responsáveis por organizar os atos, falar com a imprensa e negociar com a PM.
O Passe Livre se diz "horizontal", ou seja, sem líderes. Há, porém, porta-vozes e, nos protestos deste ano, o mais eminente deles é Vitor dos Santos Quintiliano, 19.
Até 2015, aparecia mais como batuqueiro da Fanfarra do M.A.L. (Movimento Autônomo Libertário), banda que segue os atos. Agora, dá entrevistas e orienta a multidão.
"Existe uma renovação, sim. Mas cada membro do MPL tem funções subterrâneas que não aparecem para a imprensa", diz ele, que participa dos atos desde 2013.
Quintiliano hoje ocupa o posto que, no ano passado, foi de Heudes de Oliveira, 19 -um dos secundaristas que tomou a escola Fernão Dias Paes, símbolo do movimento de ocupações de colégios.
Outra nova integrante da linha de frente das manifestações deste ano é a aluna de Letras e militante do movimento negro Andreza Delgado, 20. Ela chegou a ser detida pela PM em um protesto de secundaristas. Nas manifestações do MPL, participa das discussões sobre trajetos.
Perfil
Os três têm perfil diferente dos que estavam na linha de frente em 2013. Naquele ano, as figuras principais eram o professor Lucas Monteiro, conhecido como Legume, e a então universitária Nina Capello, à época com 29 e 23 anos, respectivamente.
A alternância de protagonistas faz parte de movimentos com a dinâmica do MPL, diz a pesquisadora Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo, que acompanha os atos desde 2013.
"O Passe Livre tem características típicas de um movimento do século 21: um coletivo dinâmico, não atende a uma liderança fixa e, por isso, tem uma fluidez maior", diz.
Para ela, com a vitória dos secundaristas na luta contra a reorganização escolar, esses estudantes mais jovens devem ganhar força no MPL. Táticas usadas pelos alunos, como atos-relâmpago para travar as ruas da cidade, também passaram a ser utilizados pelos militantes da tarifa zero.
"Conversei com pessoas que disseram que era a segunda manifestação a que iam, a primeira foi a dos secundaristas. Ficou clara essa ponte [entre MPL e estudantes do ensino médio]", diz. O rejuvenescimento, afirma, é fruto direto das redes sociais.
Dissedência
Em agosto do ano passado, Lucas Monteiro, o Legume, gerou uma crise interna ao citar o "fim do MPL" em artigo.
"Após 11 anos de dedicação ininterrupta ao Movimento Passe Livre, afirmo que o MPL chegou ao seu fim. Parece-me evidente que isso se deu após a maior mobilização da classe trabalhadora no Brasil dos últimos 30 anos", escreveu o militante.
Entre as limitações apontadas no artigo, ele citou "uma ojeriza à especialização" como consequência da horizontalidade hierárquica.
A declaração foi criticada pelos demais integrantes.
Mais discretos, antigos "linhas de frente" do grupo ainda permanecem no MPL.
Formada em Direito na USP, Nina Capello auxilia a liberação de pessoas detidas durante as manifestações.
Também protagonistas de 2013, os militantes Matheus Preis e Érica Oliveira continuam nas ruas. Preis é o responsável por lidar com a PM durante o trajeto. No ato de terça (12), era Érica que puxava o jogral pelo qual o grupo passa mensagens aos demais.
O jogral é marca dos protestos, assim como músicas —ironizando o prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB)— e o quebra-quebra promovido pelos black blocs.
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Movimento Passe Livre tem linha de frente mais 'teen' nos atos deste ano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU