26 Junho 2011
Uma pesquisa revela como, na diocese da rica Baviera, que foi guiada por Ratzinger e considerada a pedra angular do catolicismo alemão, quase 25 mil fiéis deixaram a Igreja de Roma.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 25-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em Munique, na Alemanha, na diocese que teve Joseph Ratzinger como arcebispo, os católicos, pela primeira vez, tornaram-se minoria. É o que surge do balanço da cúria de Munique e Freising: os fiéis da Igreja de Roma são atualmente 1,77 milhão, ou 49% dos habitantes.
O dado, alinhado com a tendência geral dos abandonos que afetam todas as confissões cristãs alemães, chama a atenção porque se refere a uma região do país, a Baviera, historicamente "catolicíssima". Em 2010, os fiéis da diocese que deixaram a Igreja Católica foram 23 mil, 80 mil nos últimos 10 anos.
Segundo alguns analistas, a causa da hemorragia de fiéis deveria ser procurada nos escândalos dos abusos sexuais que abalaram, no ano passado, a Alemanha e particularmente Munique, por causa de Peter Hullermann, o sacerdote repetidamente envolvido em abusos, e posteriormente por causa do escândalo da abadia beneditina de Ettal. Essa explicação, no entanto, corre o risco de ser muito simplista. O abandono de fiéis é um fenômeno generalizado: em 2009, em comparação com os 123 mil católicos alemães que saíram pela porta da Igreja de Roma, havia 148 mil evangélicos que fizeram o mesmo.
Na Alemanha, não existe, de fato, uma verdadeira separação entre Estado e Igreja. E está em vigor um sistema graças ao qual todos os fiéis devolvem à sua Igreja uma taxa anual igual a 10% dos impostos pagos ao Estado. É este último que se encarrega de cobrar essa taxa para depois distribuí-la para a Igreja de pertencimento do contribuinte. Também é o Estado que subvenciona o capítulo metropolitano das dioceses, e esse sistema fez com que a Igreja alemã, além de ser muito rica e estruturada, também tenha desenvolvido uma considerável burocracia.
O fiel é obrigado a pagar a taxa anual calculada sobre os impostos que ele paga ao Estado e, se quiser ser isentado, deve se dirigir a uma espécie de tribunal administrativo e assinar uma declaração nesse sentido. A partir desse momento, é como se ele fosse "excomungado", e o seu nome é apagado da lista dos batizados. Não está claro, portanto, se, por trás dos abandonos, há apenas posições polêmicas ou outras questões de princípio. Pode haver também motivos econômicos, ligados à crise e, portanto, à possibilidade de manter mais dinheiro no bolso.
O sistema atual, fruto de uma concordata, é defendido indistintamente por todos os bispos alemães, que identificam a adesão formal à Igreja com o pagamento da taxa. Uma posição não totalmente partilhada pela Santa Sé, que considera, ao contrário, que as duas coisas devem coincidir. Há quem se diga favorável à abolição da obrigatoriedade do imposto anual para pôr um freio aos abandonos. Uma ideia não compartilhada pelo novo arcebispo de Munique e Freising, o cardeal Reinhard Marx, que, em uma entrevista à revista católica 30Giorni, disse: "Pessoalmente, não considero equivocado o fato de que as pessoas sejam chamadas a se decidir, a dizer: `Sim, eu faço parte da Igreja e estou disposto a pagar para sustentar as suas obras`. Certamente, isso pode ser muito melhorado, mas eu não acho que esse sistema seja superado. Toda Igreja tem as suas histórias particulares, e é preciso levar isso em consideração e respeitá-lo. E, depois, o imposto é pago só por quem possui uma renda de trabalho, ou seja, um terço da população, e é proporcional à renda".
O catolicismo bávaro também não é mais monolítico como era antigamente. Na mesma diocese que o então jovem arcebispo Ratzinger guiou de 1977 até o início de 1982, antes de ser chamado ao Vaticano como prefeito do ex-Santo Ofício, existem grupos em desacordo com a linha de Roma: contestações sobre o celibato sacerdotal e sobre as posições da Igreja com relação à ética sexual.
A secularização avança, e Bento XVI sabe disso. No voo que, em setembro de 2009, o levava para Praga, a capital mais descristianizada da Europa, ele afirmou: "Normalmente, as minorias criativas determinam o futuro. Nesse sentido, eu diria que a Igreja Católica deve ser compreendida como uma minoria criativa e tem uma herança de valores que não são coisas do passado, mas sim uma realidade muito viva e atual e devem ser atualizadas e tornadas presentes no debate público".
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Em Munique, ex-diocese do papa, os católicos estão em minoria pela primeira vez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU