09 Janeiro 2011
Uma comissão reivindica em Pequim a vida de Diego de Pantoja, um jesuíta espanhol que soube conquistar o receoso poder imperial da China.
A reportagem é de Pablo M. Díez, publicada no jornal ABC, 09-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como evangelizadores da Ásia, a História reservou um lugar de honra para os missionários jesuítas São Francisco Xavier (1506-52) e Matteo Ricci (1552-1610). Mas há outra figura de igual importância que, no entanto, é pouco conhecida. Trata-se de Diego de Pantoja (1571-1618), um sacerdote espanhol da Companhia de Jesus, que desempenhou um papel crucial na propagação do catolicismo na China, mas cujo nome caiu no esquecimento. Para reivindicar suas conquistas históricas, em Pequim, foi criada uma comissão formada, dentre outros, pela diretora do Instituto Cervantes, Inma Puy; o presidente da Câmara Espanhola de Comércio, Gabriel Moyano; e o chefe de operações na China da companhia de ônibus Alsa, Ignacio Bethencourt.
"Nosso objetivo é recuperar a figura de Diego de Pantoja para colocar uma placa na catedral do Sul de Pequim", explica Bethencourt, que se apoia nos estudos realizados pelo professor Zhang Kai, da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Embora na Espanha pouco se tenha investigado a sua missão evangelizadora, esse erudito escreveu Diego de Pantoja y China, o livro mais completo sobre o personagem.
Nascido no dia 24 de abril de 1571, na localidade madrilhenha de Valdemoro, De Pantoja ingressou nos jesuítas em 1589. Após anos de intensos estudos, em 1596, partiu para a China. No ano seguinte, chegou à então colônia portuguesa de Macau, a partir de onde, em março de 1600, entrou no continente disfarçado de comerciante para se unir, em Nanjing, a Matteo Ricci, que já estava há quase duas décadas pregando na China. "Diego de Pantoja foi um dos pioneiros dos contatos entre Ocidente e Oriente, já que, junto com Ricci, foi o primeiro estrangeiro que recebeu a permissão de viver em Pequim durante cerca de 20 anos", destaca o professor Zhang Kai. E tudo graças aos "presentes exóticos", como alguns relógios e um clavicórdio, com os quais se congraciaram diante do imperador Wan Li (1573-1620).
"Foi uma grande conquista da diplomacia dos jesuítas", assinala esse especialista, que elogia a "política de adaptação" vislumbrada por São Francisco Xavier, que ambos os missionários tomaram como base para buscar os pontos de coincidência entre o cristianismo e o confucionismo. Um assunto delicado, levando-se em conta as reticências chinesas para aceitar as crenças vindas de fora.
Tanto Ricci como "Pangdie" (o nome chinês que De Pantoja adotou) eram dois reputados sinólogos e se vestiam como os letrados confucianos, vestindo um barrete com duas aletas flutuantes sobre suas longas barbas. Ambos tinham acesso à Cidade Proibida e, segundo Zhang Kai, formavam "um par perfeito", porque Ricci se relacionava com os intelectuais, e De Pantoja, que era matemático, músico, geógrafo e filósofo moral, pregava entre o povo simples".
Mas o missionário espanhol também escreveu obras em mandarim como o Tratado de los siete pecados y virtudes. Elaborou para o imperador um mapa-múndi e redigiu El mundo fuera de China, que serviu para que a elite cultural desse país fechado se assomasse ao exterior.
Expulsão dos religiosos
Após a morte de Ricci em 1610, De Pantoja conseguiu que o soberano concedesse um terreno para o seu túmulo e autorizasse a celebração do seu funeral, o que no Ocidente foi considerado um grande triunfo da missão apostólica, porque, na prática, equivalia a que o poder real dava bom visto ao catolicismo.
A sintonia se rompeu quando o sucesso de Ricci, o jesuíta italiano Nicolás Longobardi (1559-1654) censurou, por idolatria, os ritos confucianos. As autoridades chinesas aproveitaram para voltar o imperador contra os missionários ocidentais. Apesar das tentativas de De Pantoja, Wan Li assinou um edito proibindo a Igreja e expulsando os religiosos. Longe de Pequim e sem o favor imperial, De Pantoja morreu em 1618.
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