20 Dezembro 2013
"Estudos populacionais que comparam grupos vegetarianos e não vegetarianos com estilo de vida similar mostram que os primeiros têm menor incidência de todas as doenças crônicas não transmissíveis", escreve Eric Slywitch, médico nutrólogo e diretor do departamento de medicina e nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 13-12-2013.
Eis o artigo.
A alimentação vegetariana - dieta na qual não há consumo de nenhum tipo de carne - é adotada por quase 10% da população brasileira, segundo dados do Ibope.
A origem dessa dieta se perde no tempo. Foi adotada por diversas culturas orientais, regidas pelo princípio da não violência. Hoje, o número de pessoas que, além das carnes, também excluem os ovos e laticínios da dieta, tornando-se vegetarianas estritas ou veganas, é crescente.
Estudos populacionais que comparam grupos vegetarianos e não vegetarianos com estilo de vida similar mostram que os primeiros têm menor incidência de todas as doenças crônicas não transmissíveis (cardiovasculares, diabetes, diversos tipos de câncer e obesidade).
Retirar carnes da dieta é simples, pois em geral basta trocar 100 gramas de carne por uma concha de leguminosas (feijões, ervilha, lentilha, grão de bico, por exemplo).
Obter ferro na dieta vegana também é simples. Em 100 gramas de carne vermelha, há 2 miligramas do elemento. Absorvemos 18% dele, ou seja, 0,36 miligramas. Já em uma concha de feijão, temos cerca de 4 miligramas de ferro com uma absorção de 10%, resultando em 0,40 miligramas de ferro absorvido!
Ao retirarmos 100 gramas de carne de uma dieta comum (consumo diário máximo preconizado pelo Ministério da Saúde), a ingestão de proteínas (e todos os aminoácidos) ainda assim ultrapassa 10 gramas das recomendações para um homem de 70 quilos devido sobretudo aos cereais e feijões.
Sendo assim, se pensarmos apenas em proteínas, poderemos trocar carnes até por água. Os alimentos vegetais contêm todos os aminoácidos essenciais.
A retirada do leite da dieta pede apenas a inclusão de alimentos ricos em cálcio: couve, rúcula, agrião, mostarda, escarola, brócolis e tofu. Temos no mercado diversos leites vegetais com teor desse mineral idêntico ao do leite de vaca.
A vitamina B12 está ausente no reino vegetal. No entanto, mantê-la no nosso corpo depende mais do metabolismo do que da ingestão de alimentos-fontes. Cerca de 50% da população brasileira, mesmo comendo carne e laticínios, tem carência de B12. Não é o que se come que garante bons níveis da vitamina no organismo.
Os animais são seres sencientes, ou seja, são capazes de sofrer, sentir prazer e felicidade. Não faz sentido ter mais consideração moral por um cachorro do que por um porco ou galinha. Todos esses animais têm direitos fundamentais. Se amamos um, por que comer o outro?
Além disso, dados da ONU mostram que a pecuária é a principal atividade humana responsável pela contaminação de mananciais de água, desertificação de solos e destruição de florestas.
Por sua vez, a alimentação vegana já foi declarada saudável pelas maiores instituições de nutrição do mundo, e sobram razões nobres e sólidas para corroborá-la. Na verdade, são o "status quo", o preconceito e a incompreensão que tendem a ser os maiores obstáculos apresentados aos vegetarianos e veganos. Na construção de uma sociedade cada vez mais sustentável e inclusiva, é essencial que haja consideração e respeito a esse estilo de vida baseado em princípios éticos.
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Dieta rica e saudável - Instituto Humanitas Unisinos - IHU